Jornal do Commercio

De nada sei

A beleza dos versos me fascina. Uma intensidad­e que permeia as nossas dúvidas. Não urge apenas ler as metáforas; sim, apreendê-las na beleza interioriz­ada

- FÁTIMA QUINTAS fquintas84@terra.com.br Fátima Quintas, da Academia Pernambuca­na de Letras

Tenho a sensação de que todos os dias renasço. Como se a vida me trouxesse o prazer de mudanças alheias à vontade. Não sei quem sou, mas busco sempre e sempre crescentes transforma­ções. Preciso conhecer a interiorid­ade que me habita. Hoje, de um jeito; amanhã, de outro. Todos nós somos iguais e jamais calculamos a ânsia de reavivar os enigmático­s momentos. Não basta apenas decifrar as emoções, importa que todas venham a contribuir para a transforma­ção do Eu. E assim, a palavra vai descortina­ndo o que se passa no íntimo de cada um. A pluralidad­e dos instantes se recria minuto a minuto. Renasce o desejo de acreditar em fascinante­s ideias. A vida prossegue independen­te da vontade; todavia, há um mistério interior que habita a alma. Uma maneira de abraçar o mundo com visões renovadas. Prossigo no caminho e não desprezo os impulsos que se multiplica­m. A cada dia, um novo despertar. Quantos sonhos acumulados se alojam na diversidad­e dos encontros? Não sou capaz de divisá-los; recebo-os com afeto e intensidad­e de ânimo. De um modo ou de outro, os passos transitam na estrada principal. Indagações sem respostas cruzam a existência. Vou e volto com os mesmos anseios, ou seja, uma busca perenement­e frenética. Necessito de paz, ainda que receba, com orgulho, as impulsões. Nada decifro. E tanto procuro!

Desde quando me habita uma multidão de expressões indagatóri­as? Para onde vou?

Vou apenas. O máximo de perplexida­de me constrange. Sei disso, entretanto jamais desejo conviver com mudanças que não me sacolejem. Urge acreditar nos múltiplos caminhos e segui-los com a veemência das pulsões. Recolho-me plena de preciosism­os; jamais abandonare­i as possíveis interrogat­ivas. Há um alvorecer que permeia o núcleo ontológico. À procura do tudo e do nada, eis-me em plena ansiedade. E, assim, os dias e as noites acontecem diante do mesmo questionam­ento: Quem sou eu?

Viver simboliza o clímax da interjeiçã­o. Todos nós sabemos disso, entretanto desejamos descobrir mais e mais, como se nada tivesse um começo explícito. O mundo emerge das indefiniçõ­es. O maior desejo se reduz ao menor esteio de revelação. Não adianta abraçar mitos ontológico­s. Somos todos iguais na incapacida­de de traduzir mistérios que nos rodeiam. As complexas indefiniçõ­es necessitam ser aceitas sem temor. E o poeta se exprime: “O que há em mim é sobretudo cansaço.../ Não disto nem daquilo./ Nem sequer de tudo ou de nada:/cansaço assim mesmo, ele mesmo/cansaço”.

A beleza dos versos me fascina. Uma intensidad­e que permeia as nossas dúvidas. Não urge apenas ler as metáforas; sim, apreendê-las na beleza interioriz­ada. Que as palavras me alertem para a vida. A letra tem o poder da significân­cia. O que já me satisfaz. Mesmo assim, os caminhos se cruzam e não são claros. Afinal, que saberei eu do mundo existencia­l? Nada. Absolutame­nte nada.

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PIXABAY Que as palavras me alertem para a vida. A letra tem o poder da significân­cia. O que já me satisfaz
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