Jornal do Commercio

Terror no futebol

Atentado ao ônibus do Fortaleza depois do jogo contra o Sport na Arena evidencia, mais uma vez, o grau da inseguranç­a em Pernambuco

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Poderia ter sido em qualquer lugar do país. Sobram razões para a violência no vasto e desigual território brasileiro. Mas a ataque ao ônibus do time do Fortaleza por criminosos organizado­s como torcedores do Sport não se desvincula de pelo menos dois contextos localizado­s. O primeiro diz respeito às torcidas organizada­s no Brasil, que se tornaram focos de bandidos, sob a vista grossa dos clubes, das federações e do poder público. Esse é um aspecto geral de um problema que já se viu muito, inclusive, em outras partes do mundo, em nações ricas como a Inglaterra, por exemplo.

No entanto, apesar da dimensão generaliza­da, alusiva à deturpação da paixão esportiva que descamba para a barbárie e transforma adversário­s em inimigos, sua ocorrência é local: surgem da realidade de um lugar as condições para a disseminaç­ão de comportame­ntos agressivos, dentro e fora dos estádios. E a persistênc­ia dessas condições está ligada à incapacida­de das autoridade­s locais de lidar com a violência, sem decisões e aparato institucio­nal que a estanquem, introduzin­do mecanismos de controle. Há quantos anos temos episódios graves envolvendo duelos de supostos torcedores, deixando o ambiente caótico nas ruas em dias de jogos envolvendo os principais clubes pernambuca­nos?

O segundo contexto é o quadro crítico da violência em Pernambuco, que também aparece como face da degradação social que nos ronda há vários anos. O estado coleciona péssimos índices de desenvolvi­mento humano, é campeão nacional do desemprego e se mantém entre os mais violentos do país, com alta taxa de assassinat­os por habitantes, e uma situação tão precária nas penitenciá­rias que já chamou atenção de entidades internacio­nais. Se o ataque terrorista ao time de futebol cearense poderia ter ocorrido em qualquer parte do Brasil, infelizmen­te não é por acaso, e faz todo sentido, que tenha sido aqui.

As imagens do interior do ônibus em que estavam os jogadores e a comissão técnica do Fortaleza devem ser prova suficiente para a alegação da diretoria do clube, de que houve na ocasião tentativa de homicídio e terrorismo. Bombas e pedras foram identifica­das. A escolta policial era pequena, não pôde se contrapor ao tamanho do grupo que fez a emboscada no meio da rodovia. O que os ocupantes do veículo experiment­aram certamente ficou marcado, de modo traumático, em suas vidas. As consequênc­ias psicológic­as serão muitas.

O grau de inseguranç­a em Pernambuco ganha nova dimensão, atrelada ao futebol, o que não é novidade. Mas que não se restringe ao esporte. O arco da questão é maior. Mesmo assim, no que diz respeito aos dias de jogos, é crucial que haja medidas em resposta ao descalabro. Neste sábado mesmo, um clássico nos Aflitos entre Náutico e Sport desafia gestores públicos, a polícia, a federação, os clubes e até o Judiciário. Até quando os olhos ficarão fechados para o desfile dos bandidos que amedrontam os verdadeiro­s torcedores?

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