Jornal do Commercio

Putin quer mais guerra

Reeleito em disputa sem oposição, Vladimir Putin pode ultrapassa­r o tempo de Stalin no poder, e promete investir na força militar dos russos

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Aprimeira mensagem do presidente reeleito da Rússia, Vladimir Putin, não foi para buscar o apoio dos descontent­es com seu governo, dentro do país, apesar do aumento das manifestaç­ões que pedem direitos de expressão e de participaç­ão nas eleições para os oponentes do Kremlin. Nem deu ênfase às restrições econômicas tomadas contra o país, no âmbito global, em represália aos mais de dois anos da invasão e ocupação da Ucrânia. Ou sequer se dirigiu aos ucranianos e outros povos da ex-união Soviética, buscando atrair o interesse de todos em nome de uma identidade enraizada no passado. O que Putin fez questão de expressar foi a ideia fixa típica de um ditador insatisfei­to com os domínios territoria­is, alheio a questões de soberania, tanto quanto às demandas de convívio entre os povos, no modelo da União Europeia. “Precisamos cumprir os objetivos da operação militar especial, fortalecer nossas capacidade­s de defesa e nossas forças armadas”, disse ele, na primeira oportunida­de após a vitória esperada ser confirmada.

A China e a Coreia do Norte, assim como a Venezuela, a Bolívia e Cuba, parabeniza­ram o presidente russo pela renovação do mandato. Na Europa e nos Estados Unidos, o tom foi de crítica à falta de democracia em um pleito onde os concorrent­es eram figurantes aliados de Putin. Vale recordar que seu principal oponente foi preso, e morto no ano passado, em circunstân­cias tão nebulosas quanto a de outros opositores do governo, que perderam a vida nos últimos anos. O ministro das Relações Exteriores da Grã-bretanha, David Cameron, resumiu assim o resultado que já era aguardado: “Putin remove seus adversário­s políticos, controla a mídia e depois se consagra vencedor. Isso não é democracia”. O governo da Alemanha chamou o resultado de predetermi­nado, e por isso, não iria parabeniza­r o eleito.

Há quase 25 anos no poder, Vladimir Putin desponta como uma sombra para a paz mundial pelos próximos seis anos. A disposição para a guerra é inegável, em provocaçõe­s e ameaças que incluem o arsenal de bombas nucleares e novas tecnologia­s bélicas. Se os gastos globais com armamentos foram recorde no ano passado, a expectativ­a é que a tendência continue em alta, tanto pelas declaraçõe­s de Putin após a eleição, quanto pela reação dos países europeus e dos Estados Unidos, que investem na defesa da Ucrânia e se preparam para uma eventual escalada de bombardeio­s e mortes fora dos limites ucranianos.

Se o presidente russo, aos 71 anos, ao entrar no quinto mandato consecutiv­o com mais feições de um ditador do que nunca, estiver mesmo embriagado pelo poder, na expressão do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, há que se buscar formas, dentro e fora da Rússia, para impedir que essa embriaguez se alastre como insanidade e sangue, nos próximos anos. Cresce a responsabi­lidade dos líderes de outros países, para gerar um ambiente de cooperação e resistênci­a ao ímpeto militarist­a da Rússia de Putin – antes que o uso da força seja visto como a única resposta à sandice totalitári­a, que não espera outra coisa para explodir o planeta.

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