Jornal do Commercio

Alerta importante na SXSW 2024: falar sobre suicídio pode salvar vidas

A atriz Ashley Judd relatou a morte da sua máe. Especialis­tas dizem que conversar sobre o tema de forma responsáve­l pode sjudar na prevenção. Por ano, 1 milhão de suicídios são

- MARIA LUIZA BORGES Maria Luiza Borges, jornalista

Nota: este artigo inclui referência­s a suicídio. Ao final do texto há um telefone e um chat para pessoas possam estar precisando conversar sobre o tema.

Em1994,atrág ica e prematura morte do roqueiro K ur tC obain, líder da banda nirvana, chocou o mundo e provocou discussões acaloradas relacionad­as ao suicídio. Especialis­tas no tema esperavam nase quência um aumento no número casos, mas foi exatamente o contrário.

O que houve de diferente entre o caso de Cobain e de outras celebridad­es como Marilyn Monroe ou Robin Williams, cuja morte provocou aumento nas taxas de suicídio? Na opinião de Christine Yu Moutier, Chief Medical Officer da Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio, aforma como a companheir­a de Cobain, Courtney Love, e a mídia trataram o tema foi responsáve­l por inverter acurva.

Segundo Moutier, Love falava abertament­e da perda, sem glorificaç­ão. O tema ganhou as manchetes mas ao mesmo tempo vários telefones de apoio foram divulgados, as pessoas puderam abordar suas questões com pessoas treinadas para preveni reencaminh­ar para tratamento­s especializ­ados. isso teria feito a diferença.

FALAR FAZ BEM

Moutierest­evenasouth­by

Southwest (SXSW), festival de inovação e entretenim­ento realizado ema ust in, entre 8 e 16 de março, ao lado da atriz Ashleyjudd­eded ois jornalista­s, D ave Richards(Audacy) e Rebecca Ruiz (Mashable).

As discussões do painel, intitulado“prevenindo o suicídio através de relatos e narrativas Seguras” mudaram deforma radical meu próprio entendimen­to como jornalista desse tem adelicado, mas fundamenta­l.

Ashleyjudd além de voltar afalar do drama pessoal de ter encontrado a própria mãe agonizando, após ter atirado em si mesma (a atriz chegou a ser interrogad­a como suspeita de homicídio pela polícia), falou que também recebe tratamento especializ­ado por ter, desde criança, pensamento­s suicidas.

Judd faz terapia com EM DR( Dessensibi­lização e Reprocessa­mento por meio de Movimentos Oculares) e pratica a conversa sobre seu trauma para reprograma­r o cérebro. Fala sobre a mãe de forma nostálgica e saudosa, e diz hoje entender que se trata de uma doença o que a vitimou.

Para a Dr a. Mo u ti er,pr aticara conversaé umadas chaves para a prevenção. Ela diz que praticamen­te toda família tem casos de doenças mentais ou suicídios .“as conversas podem não ter todas as respostas, mas tudo o que você precisa faze ré começara escutar”, diz. E, claro, procuraraj­udaquandon­ecessário.

PROGRAMA DE RÁDIO

Dave Richards deu escala ao verbo “escutar”. Vice-presidente de programaçã­o da empresa de mídia Audacy (rádio,p od cast se digital ), ele criou um programa chamado “I’m listening” (Eu estou escutando), que começou local mas hoje é transmitid­o nacionalme­nte.

Ele observou um padrão criado após ocaso de coba in, seguido pelo de Layne Staley ( Alice inchains) em 2002 e de Chris Cornell (Soundgarde­n) em 2017.“havia alguma coisa acontecend­o ali. Precisávam­os conversar sobre aquilo, precisávam­os saber como a gente se sentia. Conversar é crucial”.

Rebecca Ruiz disse que tanto amídiaqu anto aindús triado entretenim­ento precisam mudar aforma como falam do suicídio. Moutier enfatiza que, como se trata de uma doença, não se deveria usar o verbo “cometer” ou“tentar ”. ninguém diz que alguém cometeu câncer, ela exemplific­ou.

Compartilh­ar histórias de quem sobreviveu, mostrando o lado positivo de ter sobrevivid­o, pode ser um recurso de prevenção efetivo, defende Moutier.

MUDANÇA

Nesse ponto, eu retorno para a minha própria experiênci­a. Passei anos evitando falar do tema. E isso tem uma causa. Quando eu era editora de Cidades do JC, um jovem se suicidou na Casa do Estudante da UFPE e o caso foi muito divulgado na época, não apenas pelo JC, mas por toda a imprensa local.

Uma semana depois, outro caso semelhante aconteceu e muitos associaram a divulgação como tendo sido um gatilho para o segundo caso.

Por décadas, como editora, editora-executiva e depois diretora-adjunta de redação barrei o tema. Mesmo quando repórteres como Cinthya Leite, que interagiam frequentem­ente com especialis­tas, insistiam que precisávam­os divulgar de forma responsáve­l, ou seja, estimulara conversa, para de fato trabalhar na prevenção, eu sempre preferi evitar falar, por temer dar gatilho a outros casos.

Cinthya pode com toda razão reclamar que “santo de casa não faz milagre”. Sendo justa, nada do que a Dra Moutier, Ashley Judd ou Dave Richards disseram Cynthia Leite já não tinha dito antes, quando eu ainda estava no J C. Até uma cartilha e lajá havia compartilh­ado. Masa discussão da SXSW de fato me fez entender que o drama é mundial eque calar sobre e lenão salvará uma única vida.

HISTÓRIAS POR TODA PARTE

Lembrei de uma amiga que tenho que, depois de ter sobrevivid­o, buscou tratamento e hoje dedica avida adar testemunho de quanta coisa boa aconteceu na sua vida depois que foi salva por alguns colegas que a socorreram atempo. Sua história com certeza deixaria a Dra. Moutier muito feliz.

Tenho dois outros amigos - um pai e uma mãe, que nem se conhecem e vivem em continente­sdiferente­s-que após perderem seus filhos jovens criaram fundações para ajudar outros jovens. Sim, os casos são muito mais frequentes do que a maioria de nós quer admitir.

Começo então, neste artigo, afaze raminha parte. Se você ou alguém da sua família precisa falar sobre suicídio, logo abaixo está alinha telefônica 24 horas do Centro de Valorizaçã­o da Vida e também um chat para tirar dúvidas. Eles podem ajudar. E procure especialis­tas se for preciso. Centro de Valorizaçã­o da Vida - Ligue 188 (24h por dia). Atendiment­o por chat neste link: https://cvv.org.br/chat/

TRANSTORNO­S MENTAIS

É importante desta carque, apesar da importânci­a de se buscar ajuda em grupos de apoio, como o CVV, suicídio (inclui pensamento­s suicidas e tentativas) é uma emergência médica. No Brasil, são registrado­s cerca de 12 mil suicídios, e um milhão em todo o mundo.

Quase 100% dos casos de suicídio estão relacionad­os a transtorno­s mentais, em sua maioria não diagnostic­ados, tratados deforma inadequada ou não tratados de maneiraalg­uma. em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substância­s. No entanto, pessoas que manifestem pensamento­s de suicídio devem ser considerad­a sem uma situaçãode emergência e encaminhad­as para atendiment­o médico.

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Judd: Para aqueles de nós que caminham ao lado de alguém que está sofrendo, não os estamos traindo quando vivemos nossa própria felicidade

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