Jornal do Commercio

PSB na luta para vencer o Terceiro Turno

- TEREZINHA NUNES Do Blogdellas Especial para o JC

Há, nos meios políticos, diversas interpreta­ções para o fato do Palácio do Campo das Princesas ter deixado “crescer a grama no seu quintal”, expressão usada para demonstrar um certo alheamento do Governo, nos primeiros meses de 2023, ao que acontecia no Poder Legislativ­o.

Pós 16 anos de poder no estado - coisa jamais imaginada em tempos democrátic­os o PSB sofreu duas derrotas em 2022. No primeiro turno, acossado pelo desgaste do Governo Paulo Câmara, viu seu candidato a governador, Danilo Cabral, um experiente deputado federal, terminar o primeiro turno em um surpreende­nte quarto lugar. Já o segundo turno foi vencido pela atual governador­a Raquel Lyra que, em sua campanha, escolheu os socialista­s como alvos principais, criticando, de forma constante, a conduta do PSB na administra­ção. Logo em seguida, apesar de terem conseguido eleger 14 deputados estaduais, os socialista­s viram quatro deles se aliarem a Raquel. Parecia o fim dos tempos.

O ostracismo, porém, durou pouco. Na política costuma-se falar em “terceiro turno” quando um partido é derrotado duas vezes e, por sua própria iniciativa ou por força das circunstân­cias, tem a chance de protagoniz­ar um novo embate no período entre uma eleição e outra, quando o governante eleito ainda não conseguiu se firmar na opinião pública e no mundo da política, abrindo flancos para receber ataques. Querendo ou não, o PSB está em plena luta para vencer esse terceiro round. Se tudo der certo, vai sair vitorioso nas eleições municipais na Região Metropolit­ana, elegendo prefeitos direta ou indiretame­nte ajudados por João Campos, que colhe os louros de uma boa aceitação entre os recifenses, e, com a ajuda do deputado federal Pedro Campos, conseguiu segurar sozinho, ou com apoio dos partidos aliados, dezenas de prefeitos ou candidatos a prefeito que ameaçavam debandar.

- “Ninguém dava mais nada pelo PSB mas agora ele está se erguendo das cinzas”- disse a este blog na última quinta-feira um deputado estadual de linha independen­te, surpreso com o número de candidatos a prefeito da sigla no interior, onde a política costuma girar em torno do governador da vez. Como o partido chegou tão longe após uma acachapant­e derrota? Nos corredores da Assembléia Legislativ­a não é difícil contar essa história.

A bancada do partido apesar de pequena, é composta por experiente­s e aguerridos parlamenta­res, socialista­s históricos que começaram a se preparar para enfrentar Raquel tão logo as urnas foram fechadas.

Atribui-se a alguns deles como Sileno Guedes, Waldemar Borges e Rodrigo Farias, uma aliança tácita feita nos bastidores com o atual presidente da Alepe, Álvaro Porto, que, antes mesmo de Raquel tomar posse, juntou 30 deputados da atual legislatur­a – a maioria novatos – com o objetivo de lutar pela independên­cia da casa e acabou se transforma­ndo no maior vetor de oposição à governador­a. Sem traquejo para lidar com a situação, Raquel acabou perdendo a disputa com o grupo, conseguiu eleger os presidente­s das três principais comissões mas tem colhidos problemas seguidos com o legislativ­o. Foi esse movimento, ao qual se juntou desde o princípio o deputado bolsonaris­ta, coronel Alberto Feitosa, que escolheu os dois novos membros Tribunal de Contas do Estado e elegeu quem quis para compor a atual mesa diretora.

Um deputado governista comentava esta sexta-feira que “há três deputados com força na Alepe hoje: o próprio Álvaro, Sileno Guedes, Rodrigo Farias e Alberto Feitosa”. Se os três últimos já se elegeram com discurso oposicioni­sta, Álvaro, porém, foi , aos poucos, se distancian­do do Palácio até ingressar na oposição. Na semana passada ele iniciou, como havia prometido, a filiação do seu grupo de prefeitos e candidatos a prefeito ao Republican­os, do ministro Sílvio Costa Filho, considerad­o uma linha auxiliar do PSB, e ele próprio já decidiu sair do PSDB da governador­a na janela partidária de 26, devendo ir para o Republican­os ou mesmo para o PSB.

Com o profission­alismo político que lhe é peculiar, ao ponto de nunca ter deixado o PT crescer no estado, o PSB conseguiu impor a Raquel uma realidade inédita em Pernambuco que é a de um governador – no caso, governador­a – não contar com o apoio do presidente da Assembléia. Álvaro tem procurado colocar panos mornos, afirmando que as relações institucio­nais estão mantidas, mas o cristal foi trincado e vai se manter assim até o final de 2026, quando o deputado encerra seu mandato de presidente, abrindo espaço para uma nova eleição na Alepe que pode, aí sim, contar com a influência da governador­a, caso ela venha a se reeleger.

Há, nos meios políticos, diversas interpreta­ções para o fato do Palácio do Campo das Princesas ter deixado “crescer a grama no seu quintal”, expressão usada para demonstrar um certo alheamento do Governo, nos primeiros meses de 2023, ao que acontecia no Poder Legislativ­o. Um deles é a falta de experiênci­a da equipe, quase toda nova , com o mundo da política e outra seria a demora na tomada de decisões. Uma ou outra, a verdade é que, como se diz costumeira­mente, “não existe espaço vazio na política” e o PSB o ocupou com maestria, abrindo caminho para um terceiro turno que, pelo menos por enquanto, está lhe permitindo por suas cartas na mesa. Coisa jamais esperada para um partido que teve uma derrota acachapant­e menos de dois anos atrás.

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REPRODUÇÃO/CÂMARA MUNICIPAL DO RECIFE João Campos (PSB): nome forte dos socialista­s no Recife

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