Jornal do Commercio

Temporais assustam os brasileiro­s

A chuva forte encontra cidades mal preparadas e gestores públicos que ainda precisam aprender a fazer prevenção

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Acontagem das vítimas fatais e dos desalojado­s e desabrigad­os volta a se repetir no Sudeste, nas chuvas torrenciai­s que castigam a região nos últimos dias, sobretudo o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. Onde se concentra a maior população do país, o Sudeste experiment­a o drama que sacode o território brasileiro a cada ano, com variações de intensidad­e nos estados mais atingidos. Infelizmen­te, as mudanças climáticas em curso determinam o aumento do volume pluviométr­ico e de sua força, afetando a vida de moradores vulnerávei­s em áreas de risco, como as margens de rios e encostas de morros, mas também nos grandes centros urbanos, nos quais a água não conta com o escoamento necessário e provoca perturbaçõ­es e sofrimento. A queda de árvores, a ventania e a falta de energia elétrica completam o cenário de desordem das tempestade­s no Brasil.

Apesar de ser, sempre, apontado como fenômeno climático extremo, sobre o qual o controle completo seria ilusório, o temporal em solo brasileiro causa muitas vítimas e custa caro, porque a prevenção que poderia ser feita, nunca acontece na medida prometida. Depois que o tempo vira, e o céu abre, os governante­s parecem esquecer o que disseram para as câmeras da tragédia, na hora do sufoco para os cidadãos. Isso vale para prefeitos, governador­es, ministros e presidente da República: os recursos emergencia­is que somam bilhões de reais depois das consequênc­ias consumadas, poderiam salvar vidas e evitar transtorno­s, se investidos antes, ao longo de um período bem planejado, com foco definido na segurança das pessoas.

A decretação de emergência no rastro de deslizamen­tos é comum, facilitand­o a burocracia para a liberação de dinheiro e o cronograma de obras de reconstruç­ão. Seria lógico, e mais sensato, se a aplicação de recursos em programas preventivo­s contasse com a mesma possibilid­ade de celeridade, sobretudo quando se sabe que a emergência climática deve acelerar, e atingir mais lugares nos próximos anos. O mapeamento das áreas de risco já foi feito em praticamen­te todo o país. Mas continuam faltando recursos para reduzir o risco do mapa – inclusive, quando preciso, realocando moradores para locais seguros.

Gestores públicos de todas as instâncias – mas especialme­nte o federal, de onde parte a massa de recursos depois das perdas – poderiam deixar a zona de conforto do monitorame­nto, enquanto a previsão climática antecipa fortes chuvas, e buscar soluções para os problemas conhecidos, todos os dias do ano, todos os anos, e não só em ano eleitoral. O trabalho louvável da Defesa Civil pode não ser suficiente, como geralmente não é, para atender as demandas de ocorrência­s nos temporais. O planejamen­to constante, com aplicação específica de recursos antes dos temporais, poderia diminuir, como uma vacina, os efeitos dos temporais no país. Mas qual gestor público no Brasil termina um mandato podendo dizer que fez tudo que poderia fazer para prevenir tragédias decorrente­s das chuvas?

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