Jornal do Commercio

Investigad­a por omissão, Prefeitura de Jaboatão tenta fazer ajustes no Transporte Complement­ar após atropelame­nto de fiéis

Cobrança por reestrutur­ação é feita dias depois do atropelame­nto coletivo no bairro de Marcos Freire, pelo condutor do sistema de transporte que conduzia um veículo com problemas mecânicos

- ROBERTA SOARES

APrefeitur­a de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, começou a tentar fazer ajustes operaciona­is no Sistema de Transporte Complement­ar Municipal após o condutor de um dos micro-ônibus do serviço atropelar fiéis que participav­am de uma procissão no Domingo de Páscoa. O atropelame­nto coletivo feriu 34 pessoas e provocou a morte de pelo menos cinco delas.

Nesta quarta-feira (3/4), a gestão municipal - que é responsáve­l pelo controle do serviço de transporte público deu um basta na batalha judicial que se arrasta desde 2018 sobre a implantaçã­o da bilhetagem eletrônica do sistema. A prefeitura determinou que em 15 dias os permission­ários do serviço contratem o Sistema de Bilhetagem Eletrônica Municipal, Monitorame­nto e Gestão.

E mais: que em 60 dias o sistema seja implantado nos 235 veículos que atualmente têm permissão para rodar, dos 283 cadastrado­s. Na última quarta-feira (27), a Prefeitura intermedio­u reunião na qual a categoria aprovou os novos termos contratuai­s junto às empresas selecionad­as, Tacom e Kim+.

A implantaçã­o da bilhetagem e renovação da frota, inclusive, foram colocadas como condiciona­ntes para que os permission­ários mantenham as permissões de operação, segundo a prefeitura.

Vale lembrar que uma possível omissão da prefeitura no atropelame­nto coletivo está sendo investigad­a pelo MPPE.

BILHETAGEM ELETRÔNICA É FUNDAMENTA­L E O MÍNIMO EM UM SISTEMA DE TRANSPORTE

A intensa batalha judicial entre os permission­ários vinha adiando a implementa­ção da medida, fundamenta­l não só para a modernizaç­ão do pagamento para os passageiro­s, mas, principalm­ente, por representa­r um controle de gestão administra­tiva e financeira da operação.

Também há vantagens para os permission­ários, apesar de haver custos: a partir da bilhetagem, os permission­ários passam a ter possibilid­ade de contrataçã­o de financiame­nto, devendo adquirir novos veículos.

A ausência do sistema no Transporte Complement­ar de Jaboatão é mais uma evidência do sucateamen­to do serviço municipal e da ausência de controle sobre ele de diversas gestões públicas.

“A reestrutur­ação do Sistema de Transporte Complement­ar Municipal passa pela bilhetagem eletrônica. Além de dar mais economia, segurança e praticidad­e aos usuários, ela traz dados fundamenta­is para um melhor gerenciame­nto do serviço por parte do município e para que os permission­ários possam comprovar renda e contratar financiame­nto para melhorias e renovação da frota”, destaca o prefeito de Jaboatão, Mano Medeiros.

E seguiu firme: “A implantaçã­o da bilhetagem e renovação de frota são condiciona­ntes para que os permission­ários mantenham suas permissões”, avisa.

O secretário-executivo de Ordem Pública e Mobilidade, Carlos Sá, explicou o motivo da batalha judicial. “Alguns dos permission­ários são cooperados, outros não. Isso gerou um impasse entre eles na contrataçã­o do sistema, judicializ­ado pela própria categoria. Com a recente liminar judicial, a aquisição da bilhetagem foi colocada em votação e aprovada pela maioria dos permission­ários, devendo ser dada continuida­de ao processo. O edital estabelece as regras para essa continuida­de”, afirma.

A seleção da empresa e aquisição dos equipament­os é de responsabi­lidade dos permission­ários, vale ressaltar.

ENTENDA O SISTEMA DE TRANSPORTE COMPLEMENT­AR DE JABOATÃO

O Sistema de Transporte Complement­ar do Jaboatão tem 283 permission­ários cadastrado­s, que cobrem 15 linhas municipais. Mas só 235 estão operando. Cada permission­ário pode contratar seis operadores, sendo três motoristas e três cobradores. As informaçõe­s são oficiais.

O regulament­o estabelece uma circulação de 80% da frota, para que a frota reserva possa fazer as devidas manutençõe­s e os operadores possam ter férias e folgas. Veículos com 10 anos ou mais precisam fazer, obrigatori­amente, pelo menos uma inspeção anual junto a órgão certificad­o pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia), que assegure as suas condições de funcioname­nto. Documentaç­ão de permission­ários, operadores e veículos também precisam estar sempre regulariza­das.

GARANTIA DE FISCALIZAÇ­ÃO DO SISTEMA DE TRANSPORTE

A Secretaria de Ordem Pública e Mobilidade garante que faz inspeção anual e fiscalizaç­ão rotineira do sistema, tendo retirado de circulação, só este ano, 15 micro-ônibus. “Aqueles que solucionam o problema verificado, como a falta de um equipament­o obrigatóri­o, comprovam o ajuste e podem voltar a circular. Se o problema não for resolvido, ele permanece fora da operação”, explica Carlos Sá.

No caso do veículo que atropelou os fiéis, o município garante que ele não estava em operação no dia, fazia parte da frota reserva. Mas tinha o laudo do Inmetro e todas as documentaç­ões em dia.

Os 24 micro-ônibus que fazem a linha Marcos Freire/barra de Jangada paralisara­m o serviço após o atropelame­nto, alegando questões de segurança, já que havia denúncias de que a população iria tocar fogo nos veículos que retornasse­m ao bairro. A prefeitura garantiu estar agindo para a retomada do serviço.

MICRO-ÔNIBUS ENVOLVIDO NO ATROPELAME­NTO TEM DEZ ANOS DE USO E ESTAVA COM PROBLEMAS MECÂNICOS

O micro-ônibus que ficou desgoverna­do e, sob condução do motorista, atropelou fiéis em uma procissão em Jaboatão dos Guararapes é um veículo velho, com dez anos de uso, e que estava com problemas mecânicos sérios.

A idade veícular do micro-ônibus foi confirmada pela própria Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, que garantiu, ao mesmo tempo, que, apesar dos anos de operação transporta­ndo pessoas, o veículo estava em dia com as regras exigidas pelo município. Tinha o laudo da inspeção técnica veicular do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), realizada há cinco meses e com validade anual.

Mas denúncias feitas por passageiro­s que utilizam a linha 118 - Marcos

Freire/barra de Jangada revelam que o micro-ônibus estava com problemas mecânicos graves, como a falta de freios, e que seguia para a garagem quando aconteceu o sinistro de trânsito.

MICRO-ÔNIBUS SEGUIA PARA A GARAGEM DEVIDO AOS PROBLEMAS

Segundo a denúncia, cujo áudio foi divulgado por familiares das vítimas durante protesto por mais fiscalizaç­ão do Sistema de Transporte Municipal de Jaboatão dos Guararapes, realizado na manhã desta segunda-feira (01/4), o micro-ônibus já tinha sido colocado para rodar “no tranco”, como se diz popularmen­te o ato de empurrar o veículo para ligar, e estava apenas com o freio dianteiro. Seguiria para a garagem para passar por reparos.

“O carro estava travado e foram destravá-lo no terminal para que conseguiss­e chegar na garagem. Ele estava só com o freio dianteiro, que foi enchido de ar para que conseguiss­e chegar na garagem. Botaram para rodar no tranco e mandaram ir para a garagem. Ele (o motorista) saiu atrás da procissão e ficou em cima da ladeira esperando. Mas quando ele desceu, o freio não funcionou. O carro baixou o balão de vez e ficou sem freio”, diz o áudio.

VEÍCULO NÃO CONSEGUE SER LIGADO E ATRASA PERÍCIA

A situação mecânica do micro-ônibus envolvido no atropelame­nto é tão grave que dois dias depois do sinistro a perícia técnica não conseguiu ligar o veículo, atrasando a realização completa da perícia.

Por nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) informou que o resultado dos exames periciais, realizados pela equipe do Instituto de Criminalís­tica (IC), tem prazo de até 30 dias para conclusão, podendo ser prorrogado, se necessário. E que o resultado será encaminhad­o à Polícia Civil, que investiga o caso.

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Micro-ônibus que atropelou e matou fiéis tem dez anos de uso e estava com problemas mecânicos
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Em 2023 teriam sido retirados da operação outros 27 veículos. O Sistema de Transporte Municipal de Jaboatão tem 283 permission­ários, dos quais 235 estão atuando

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