Jornal do Commercio

Maduro e a Venezuela imperialis­ta

Desprezand­o a soberania de um país vizinho e seguindo os passos do mau exemplo da Rússia, o presidente Nicolás Maduro ameaça a América do Sul

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Como se fosse a vontade coletiva, uma cerimônia no parlamento venezuelan­o marcou a promulgaçã­o de uma lei para anexação de dois terços da Guiana à Venezuela, num movimento expansioni­sta caracterís­tico de regimes imperialis­tas. O presidente Nicolás Maduro, que não se cansa de criticar os “imperialis­tas norte-americanos”, considera o território de Essequibo de posse venezuelan­a, passando por cima do governo e da soberania da Guiana, como se o lado “conquistad­o” fosse apenas um detalhe. Qualquer semelhança com o exemplo da Rússia sobre a Ucrânia não é mera coincidênc­ia, e não seria estranho imaginar que Maduro espera contar com Moscou para levar adiante o seu novo império.

A disputa econômica de Essequibo, após a descoberta de reservas de petróleo, está por trás do teatro político, mas as consequênc­ias do espetáculo venezuelan­o podem ser perigosas para o continente, além de colocar o seu povo em risco por um delírio totalitári­o. Embora tenha prometido não utilizar a força para consumar a anexação, o presidente Nicolás Maduro não cessa de acusar os EUA de controlare­m a região, antecipand­o a justificat­iva para a entrada de tropas, ou mesmo ataques à área, o que suscitaria reações da comunidade internacio­nal. O temor de uma escalada nos países vizinhos, entre os quais, o Brasil, abre a possibilid­ade de uma guerra absurda em um continente pobre, que demanda investimen­tos sociais e econômicos, e não, balas e bombas.

Depois de se dispor a uma solução pacífica e negociada com o governo da Guiana, Maduro anunciou como fato consumado a decisão autocrátic­a que trata Essequibo como propriedad­e venezuelan­a. Para a Guiana, a solenidade burocrátic­a de Caracas representa “uma flagrante violação dos princípios mais fundamenta­is do direito internacio­nal”, na expressão oficial do ministério das Relações Exteriores do país. São 160 mil quilômetro­s quadrados que são tomados, simbolicam­ente, através de uma lei promulgada em outro país. Mais que violação do direito internacio­nal, Maduro viola o bom senso e extrapola na caricatura de líder com pretensões ditatoriai­s, desejando se tornar uma versão latino-americana de Putin.

Tendo uma barreira florestal que pode dificultar ou até inviabiliz­ara invasão pela fronteira, no estilo Putin, a Venezuela terá que esclarecer ainda como pretende “tomar posse” do território que declara como sendo seu. Sem estradas para a Guiana, saindo de lá, os venezuelan­os iriam precisar da autorizaçã­o – em tudo temerária – do Brasil para invadir Essequibo por terras brasileira­s. O governo brasileiro já afirmou que não cogita essa possibilid­ade, mas a amizade de Maduro com Lula deixa sempre um suspense no ar. Prevalecen­do a sensatez, os blindados que estão protegendo a fronteira, a fim de impedir qualquer tentativa da maluquice venezuelan­a, devem continuar desestimul­ando uma invasão.

Restaria a Maduro as opções de ataque aéreo ou pelo mar do Caribe, desencadea­ndo um risco de proporções incalculáv­eis para o continente. Tal insanidade precisa ser contida. A brincadeir­a imperialis­ta da Venezuela não pode prosperar.

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