Jornal do Commercio

Pará, onde foragidos de Mossoró foram capturados, sofre com avanço do Comando Vermelho

A região é vista como um espécie de “corredor de exportação” da cocaína que chega de países como Peru e Colômbia à Amazônia

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OPará, Estado em que os dois fugitivos da Penitenciá­ria Federal de Mossoró (RN) foram recapturad­os nesta quinta-feira, 4, assistiu a um avanço do crime organizado nos últimos anos. A região é vista como um espécie de “corredor de exportação” da cocaína que chega de países como Peru e Colômbia à Amazônia.

O recrudesci­mento da violência por lá se deve principalm­ente à atuação do Comando Vermelho (CV), soberano na região metropolit­ana de Belém, e do Primeiro Comando da Capital (PCC), que tem se aliado a facções menores, como Comando Classe A e Revolucion­ários do Amazonas, para avançar pelo sul do Estado.

Após 50 dias de buscas, Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento foram encontrado­s em Marabá, no Pará, a 1,6 mil quilômetro­s de Mossoró. Eles haviam escapado do presídio federal em 14 de fevereiro e desde então eram procurados por forças federais e estaduais na região.

Ambos são ligados ao Comando Vermelho.

Pesquisado­res afirmam que, enquanto o Amazonas é visto como a grande porta de entrada das drogas que vêm de Peru e Colômbia (com destaque para o escoamento pelo Rio Solimões), o Pará é um “corredor de exportação”, uma vez que o Estado tem portos, como o de Vila do Conde, em Barcarena, com grande capacidade de envio de carregamen­tos para África e Europa.

Autoridade­s apontam que o crime organizado envia cocaína para outros continente­s principalm­ente por vias marítimas. O PCC, por exemplo, usa principalm­ente o Porto de Santos, mas também testa outras alternativ­as para enviar a droga para o exterior. As estratégia­s envolvem desde viabilizar o Porto de Salvador como possível nova rota até consolidar ainda mais as rotas do Nordeste.

“Grande parte das dinâmicas observadas na Amazônia estão relacionad­as à localizaçã­o geográfica estratégic­a da região”, disse, no ano passado, o pesquisado­r Aiala Colares Couto, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da Universida­de Estadual do Pará (UEPA).

A rota amazônica passou a ser alvo de disputa do crime organizado sobretudo após 2016, quando o narcotrafi­cante Jorge Rafaat, conhecido como “Rei da Fronteira”, foi morto a tiros em Pedro Juan Caballero. O assassinat­o, segundo especialis­tas e autoridade­s, teria tornado o PCC ainda mais dominante na região, o que dificultou o uso da “rota caipira” por outras facções.

Com isso, organizaçõ­es criminosas como o Comando Vermelho buscaram novas alternativ­as para enviar remessas de cocaína para a Europa, avançando por cidades da Amazônia. A região tem se consolidad­o como um dos epicentros da atuação do crime organizado no Brasil.

Como mostrou o Estadão, ao menos 22 facções, tanto do Brasil como de países vizinhos, disputam o controle de rotas em Estados brasileiro­s da região, segundo relatório divulgado no fim do ano passado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

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rota amazônica passou a ser alvo de disputa do crime organizado sobretudo após 2016
© POLÍCIA FEDERAL/DIVULGAÇÃO A rota amazônica passou a ser alvo de disputa do crime organizado sobretudo após 2016

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