Avanço das facções preocupa
Como reflexo disso, a taxa de mortes violentas intencionais (MVI) por lá foi de 33,8 para cada 100 mil habitantes em 2022, 45% superior à média nacional. As disputas entre facções afetam quase um terço da população da Amazônia (31,1%), o que eleva a percepção de insegurança dos moradores.
Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça ascenderam no mundo do crime organizado atuando no Acre como “matadores” do Comando Vermelho.
Os criminosos, que possuem condenações que somam mais de 100 anos, foram transferidos para Mossoró no fim de setembro do ano passado.
A decisão pela transferência se deu após a dupla participar de uma rebelião que resultou em cinco mortes em um presídio de Rio Branco, capital do Acre.
AVANÇO DO CRIME ORGANIZADO PREOCUPA COMUNIDADES
O avanço da violência nas comunidades tradicionais gera uma rotina de tensão entre os povos tradicionais. Em resposta a isso, muitos passaram a adotar medidas de segurança extras nos últimos anos, em uma espécie de “liberdade forjada”. O medo entre os moradores é constante, relataram lideranças indígenas e quilombolas ouvidos no ano passado pelo Estadão.
“Quando o governo aperta o cerco aqui em Belém, dentro dos grandes bairros onde tem tráfico pesado, eles vão todos para as pequenas cidades. Lá, vão para a área rural, entram na vulnerabilidade da comunidade, e vão ficando”, disse Raimundo Hilário, coordenador executivo da ONG Malungu e liderança de uma comunidade quilombola em Salvaterra, na Ilha do Marajó (PA).
Essa rotina não é exclusividade do Pará: também pode ser observada em outros locais da Amazônia. Liderança indígena em comunidade do Amapá e coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Kleber Karipuna afirmou que vários povos começaram a trabalhar de forma mais ativa para proteger suas comunidades e denunciar invasões de forma mais ágil.
Os grupos usam tecnologias para incrementar as chamadas “andanças”, espécies de rondas pelos territórios. “Tem uso de equipamentos como drones, para fazer monitoramento aéreo; GPS, para tirar coordenadas; câmeras fotográficas. Muitos atuam até com aquela câmera de sensor na mata”, disse Karipuna, também em entrevista concedida no ano passado.
Como mostrou o Estadão, relatório divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês) no ano passado apontou que o avanço do tráfico impulsiona a ocorrência de crimes ambientais na Amazônia, com a ocupação irregular de terras, extração de madeira e garimpo ilegal. A sobreposição de vários tipos de crime virou “regra básica” na região.
Apuração do Ministério Público do Pará indica que, sozinho, o Comando Vermelho tem cerca de 11 mil faccionados só no Estado, segundo balanço de junho do ano passado. A cada doze meses, cerca de mil novos integrantes entram no braço paraense da organização. Entre 2022 e 2023, 137 suspeitos foram denunciados pelo órgão por associação criminosa.