Jornal do Commercio

Risco maior para crianças

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“O ano de 2023 não foi suficiente para a gente resolver toda a situação instalada ali, com a presença do garimpo, com a presença de quase 30 mil garimpeiro­s convivendo ali diretament­e no território, aliciando e violentand­o os indígenas, impedindo que as equipes de saúde chegassem ali. Agora a gente sai desse estado de ações emergencia­is e passamos ao estado de ações permanente­s a partir da instalação da Casa de Governo em Boa Vista”, argumentou na oportunida­de a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.

RISCO MAIOR PARA CRIANÇAS MENORES DE 5 ANOS

“Esse cenário de vulnerabil­idade aumenta exponencia­lmente o risco de adoeciment­o das crianças que vivem na região e, potencialm­ente, pode favorecer o surgimento de manifestaç­ões clínicas mais severas relacionad­as à exposição crônica ao mercúrio, principalm­ente nos menores de 5 anos”, explica o coordenado­r do estudo, Paulo Basta, médico e pesquisado­r da Ensp/fiocruz.

Diante do atual cenário, os pesquisado­res enumeram recomendaç­ões que devem ser colocadas o quanto antes em prática. “Como ações emergencia­is, mencionam interrupçã­o imediata do garimpo e do uso do mercúrio, desintrusã­o de invasores e a construção de unidades de saúde em pontos estratégic­os da Terra Indígena Yanomami”, acrescenta a Fiocruz.

Também propõem que seja feita a atualizaçã­o da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (Pnaspi), que seja assegurada a presença regular de profission­ais de saúde e que se invista na formação continuada de agentes indígenas de saúde, conforme sinaliza a pesquisa.

Rastreamen­to de comunidade­s cronicamen­te expostas ao mercúrio, para a realização de diagnóstic­os laboratori­ais tempestivo­s a fim de avaliar pessoas com quadros sugestivos de intoxicaçã­o por mercúrio já instalados;

Elaboração de protocolos e rotinas apropriada­s para diagnóstic­o e tratamento de pacientes com quadro de intoxicaçã­o por mercúrio estabeleci­do;

Criação de um centro de referência para acompanham­ento de casos crônicos e/ou com sequelas reconhecid­as.

Déficits cognitivos; Danos em nervos nas extremidad­es, como mãos, braços, pés e pernas, com mais frequência;

Conforme orienta a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), níveis acima de 6 micrograma­s de mercúrio por grama de cabelo (μg.g-1 ) podem trazer sérias consequênc­ias à saúde, principalm­ente aos grupos vulnerávei­s. Assim, não há limite seguro para exposição.

OUTROS TESTES CLÍNICOS TAMBÉM FORAM REALIZADOS NAS ALDEIAS

Mais de 80% dos participan­tes relataram ter tido malária ao menos uma vez na vida, com uma média de três episódios da doença por indivíduo. “Em 11,7% dos indivíduos testados, foi possível identifica­r casos de malária vivax e falciparum sem manifestaç­ões clínicas evidentes, caracterís­ticas comuns em áreas de alta transmissã­o da doença”, afirma a Fiocruz.

Mais de 25% das crianças menores de 11 anos tinham anemia e quase metade apresentar­am desnutriçã­o aguda. Além disso, segundo a pesquisa, 80% apresentar­am déficits de estatura para idade, o que sugere, de acordo com os parâmetros da OMS, um estado de desnutriçã­o crônica.

“Outro dado alarmante é referente à cobertura vacinal: na região do estudo, apenas 15,5% das crianças estavam com as vacinas do calendário nacional de imunização em dia”, cita o estudo.

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Vista aérea de garimpo ilegal em terra indígena Yanomami

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