A habilidade de fazer o denso ser leve numa entrevista sem fugir do essencial
Os bons entrevistadores, os fora de série, podem observar, são sempre aqueles que parecem bobos. Por maior que seja o seu conhecimento, se você for capaz de fingir que não entende daquilo, vai deixar o entrevistado à vontade para falar, relaxado, muito mais do que falaria em outra ocasião.
João Alberto é um mestre habilidosíssimo em parecer que não sabe de nada para extrair do entrevistado o que ele nem sabia que seria capaz de dizer na frente de uma câmera ou de um microfone. É uma aptidão que nem todo profissional de comunicação consegue alcançar. E isso precisa ser pontuado aqui.
NA JORNAL
A estreia de “João Alberto na Jornal”, no último sábado (6) foi uma demonstração clara dessa arte. Pela primeira vez na tela da TV Jornal, o programa estreou com Raquel Lyra (PSDB). O curioso é que a conversa inicia sem formalidade e vai ficando mais leve com o passar do tempo, na medida em que os assuntos, curiosamente, vão ficando mais duros também.
Falou-se de machismo, de crises gerenciais, da relação com a Alepe e com o PSB, de uma forma tão tranquila ao ponto de envolver não apenas o telespectador, mas também a entrevistada.
DENSO E LEVE
A governadora de Pernambuco começa falando sobre as dificuldades que encontra na gestão e vai sendo transportada do ambiente de um gabinete oficial para a sala de sua própria casa sem nem perceber.
Logo, os desafios da relação com o Legislativo pernambucano, por exemplo, vão se dissolvendo nos desafios de ser mulher, mãe e política ao mesmo tempo. Tudo sem que se perca, em momento algum, a noção da autoridade institucional ali presente.
FAMÍLIA
Não é uma trilha fácil para uma entrevista e são poucos os que têm condição de proporcionar isso. Para dar um pequeno exemplo do programa com a governadora e da estratégia que o jornalista utiliza, João Alberto começa o programa do último sábado provocando memórias familiares e afetivas em Raquel Lyra. Desarma ela completamente. Faz a chefe do Executivo lembrar da infância, de quando era criança no gabinete do pai que era prefeito de Caruaru, ela lembra do tio Fernando Lyra, lembra das camisas de campanhas com as quais aparece em fotos de aniversário e em reuniões familiares.
SEM TENSÃO
Quando ela está bem relaxada, imediatamente João emenda uma pergunta sobre dois programas que foram interrompidos e ainda não foram retomados nesta administração, o “PE Conduz” e o “Ganhe o Mundo”. Uma observação aqui se faz necessária: não são programas dela, são do PSB.
Se o clima estivesse tenso, fazer ela falar sobre a continuidade de projetos de governos anteriores poderia azedar a entrevista. Pois, ao contrário, ela responde com tranquilidade, garantindo que os programas serão reformulados e voltarão em breve. E isso é apenas um exemplo.
FÍSICA
No fim, o entrevistador consegue todas as respostas, até aquelas sobre as quais ninguém ousaria perguntar, sem que o entrevistado fique constrangido ou se sinta pressionado.
É a mágica técnica de uma entrevista bem conduzida que consegue desafiar as leis da física: o denso pode ser mais leve do que se imagina.
“João Alberto na Jornal” vai ao ar todo sábado, às 13h30, na TV Jornal.
ARMANDO
Chamou muita atenção a fala do ex-senador Armando Monteiro Neto (Podemos) durante o evento em que foi lançada a pré-candidatura de Daniel Coelho (PSD) à prefeitura do Recife.
Armando lembrou de campanhas surpreendentes e alertou aos que enxergam o atual prefeito já reeleito antes mesmo da campanha: “No Recife, não existe eleição ganha de antemão”. É a voz da experiência em curso.
BOM PARA PE
Armando se afastou muito das disputas eleitorais nos últimos tempos, mesmo sem nunca ter se afastado da vida pública.
Quem trabalha em comunicação e nos palcos sabe que as pausas nos discursos ou nas falas dos personagens são muito mais importantes do que o discurso em si.
É bom para Pernambuco ter Armando de volta ao jogo eleitoral, mesmo que ainda não esteja disputando diretamente um cargo outra vez.
PACIFICADO
Uma fonte da coluna garante que a relação da governadora com o PL foi normalizada após uma conversa no Palácio com Anderson Ferreira. O PP terá seus espaços na gestão e o PL também. Ambos os grupos ficaram satisfeitos no fim das contas.
Mas o comportamento dos deputados do PL na Alepe, que mais brigam do que apoiam, continuará sendo observado para o futuro.