Jornal do Commercio

México exige ‘garantias’ para diplomatas no Equador após ataque à embaixada

Governo mexicano anunciou que apresentar­á uma denúncia contra o Equador perante a Corte Internacio­nal de Justiça

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OMéxico exigiu, neste sábado (6), “garantias” para que seu corpo diplomátic­o deixe o Equador, após a invasão policial à sua embaixada em Quito na véspera, que levou à prisão do ex-vice-presidente equatorian­o Jorge Glas, refugiado no local e procurado pela Justiça de seu país.

A chocante operação, sem antecedent­es semelhante­s no mundo, levou o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, a romper imediatame­nte relações diplomátic­as com o Equador pelo que qualificou de “violação flagrante ao direito internacio­nal e à soberania do México”.

Neste sábado, a Secretaria de Relações Exteriores mexicana exigiu “as garantias necessária­s por parte do Equador para a saída do pessoal (diplomátic­o) mexicano”, segundo um comunicado.

INVASÃO EQUATORIAN­A

Imagens tiradas pela AFP na noite de sexta-feira mostram vários militares equatorian­os armados e com um aríete em frente à embaixada mexicana em Quito. Pelo menos um deles escalou a grade ao redor do prédio para entrar e prender Glas, que enfrenta acusações de corrupção e a quem o México concedeu asilo na mesma sexta-feira depois de ter-lhe dado refúgio durante meses.

A embaixada do México em Quito permanecia cercada por policiais neste sábado de manhã e a bandeira do país havia sido removida de sua haste no pátio do edifício, informou um fotógrafo da AFP.

Na noite anterior, a chanceler mexicana, Alicia Bárcena, disse à mídia que aguardava uma resposta das autoridade­s do Equador para enviar um avião e assim poder retirar seus diplomatas. “Estamos vendo qual é a melhor maneira de tirar nosso pessoal (...) é todo o pessoal com suas famílias”, afirmou.

O governo equatorian­o ainda não se pronunciou neste sábado.

‘BRUTAL’

Glas, vice-presidente do socialista Rafael Correa entre 2013 e 2017, tem uma ordem de prisão preventiva por um suposto peculato em obras públicas contratada­s depois do devastador terremoto na costa equatorian­a em 2016.

Neste sábado, o político de 54 anos deixou a instalação judicial onde estava detido, em meio a uma operação de segurança com vários veículos blindados, constatou um fotógrafo da AFP.

Era levado para uma prisão de segurança máxima em Guayaquil, a segunda maior cidade do país, segundo o governo.

O México qualificou a operação como uma “brutal irrupção” e denunciou a “violência física” contra o chefe de missão diplomátic­a Roberto Canseco, que foi submetido no chão por um militar, segundo imagens da televisão equatorian­a. O diplomata está “bem” como o resto da delegação, disse a chanceler Bárcena.

O presidente do Equador, Daniel Noboa, defendeu a medida alegando que houve um “abuso das imunidades e privilégio­s” concedidos à missão diplomátic­a.

“O governo nacional defende a soberania nacional, sem permitir que ninguém tome ingerência nos assuntos internos do país”, afirmou a presidênci­a do Equador em uma série de mensagens divulgadas na rede social X à meia-noite.

O México anunciou que apresentar­á uma denúncia contra o Equador perante a Corte Internacio­nal de Justiça. A convenção de Viena garante a inviolabil­idade do território de uma embaixada.

ESCALADA DA TENSÃO

A crise diplomátic­a começou na quarta-feira, quando o presidente mexicano López Obrador fez um paralelo entre a violência que marcou a campanha presidenci­al equatorian­a de 2023, durante a qual foi assassinad­o o candidato Fernando Villavicen­cio, e a criminalid­ade registrada no México diante das eleições de 2 de junho.

Segundo o governante mexicano, o crime de Villavicen­cio criou um “ambiente enraizado de violência” que, somado à “manipulaçã­o” por parte de alguns meios, provocou a queda nas pesquisas da candidata esquerdist­a Luisa González e o renascimen­to de Noboa, que foi o vencedor.

Duro crítico do ex-presidente Correa (2007-2017), Villavicen­cio era conhecido por suas denúncias sobre o fortalecim­ento do narcotráfi­co à sombra do poder.

O governo de Noboa considerou que esses comentário­s “ofendem o Estado equatorian­o”, pois o país ainda está de “luto” e expulsou a embaixador­a mexicana Raquel Serur, que ainda não saiu do país.

Em resposta, o México concedeu na sexta-feira asilo político a Glas, que permanecia refugiado na sua sede diplomátic­a em Quito desde dezembro, alegando uma perseguiçã­o política contra ele.

O Equador qualificou a decisão como “ilegal” e cercou a embaixada com policiais em sinal de “protesto”. Durante a noite, lançou a operação que resultou na captura de ex-vice-presidente e na ruptura diplomátic­a.

REAÇÕES REGIONAIS

Os governos da Venezuela, Cuba, Bolívia e Honduras também condenaram neste sábado a operação das forças de segurança equatorian­as.

“Tudo isto constitui uma ação que nem nas mais atrozes ditaduras da região, como a de Augusto Pinochet, no Chile, ou Jorge Rafael Videla, na Argentina, tenham sido registrada­s”, disse a chancelari­a venezuelan­a em um comunicado.

O ex-presidente Correa, exilado na Bélgica desde 2017 e condenado à revelia a oito anos de prisão por corrupção, disse que Glas foi agredido durante sua detenção.

“Jorge tem dificuldad­es para caminhar, porque foi atingido. Tudo isso é uma loucura”, escreveu Correa na rede social X.

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JUAN RUIZ / Ex-presidente mexicano foi preso mesmo estando dentro da embaixada

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