Jornal do Commercio

Amapá vira importador de diesel russo e entidades suspeitam de sonegação

- FERNANDO CASTILHO castilho@jc.com.br Twitter: jc_jcnegocios Telefone: (81) 3413.6536 Continua na página ao lado

Nos últimos meses, o estado do Amapá entrou na rota de importação de combustíve­is da Rússia aplicando uma isenção parcial de ICMS sobre diesel, gasolina e etanol anidro com alíquota efetiva de 4% do valor da importação. Essa tributação implica na cobrança aproximada de R$136,9/m³, enquanto o valor atual do ICMS nos outros estados brasileiro­s é, desde o início de fevereiro, de R$1.063/ m³.

Seria mais um concorrent­e se as movimentaç­ões dos navios que atracam no Porto de Santana não apresentas­sem uma curiosa classifica­ção ao se referir ao importador: “CB” e “TBC” que tornam impossível que a própria ANP identifiqu­e o proprietár­io da carga salvo de pedir a informação. Para se ter uma ideia, entre os dias 17 de fevereiro e 29 de março, dos 35 navios que atracaram no porto do Norte 17, tinham como dono importador os códigos CB e TBC.

NAVIOS RUSSOS

Essencialm­ente, essa importação é de óleo diesel vinda do porto de Primorsk na Rússia embora também tenha chegado diesel de Murmansk, Vysotsky E Ust-luga. São navios que trazem entre 19.027 m3 e até 62.689 m3 sempre da Rússia. Até o final deste mês estão previstos mais 26 navios de portos russo com 13 deles sem identifica­ção importador.

Todo esse combustíve­l vai prioritari­amente para os portos de Santos e Paranaguá e , em menor escala Suape(pe), onde as negociaçõe­s no mercado à vista de diesel nacionaliz­ado têm sido mais frequentes que as atividades normais, com consequent­e danos aos erários estaduais.

PERDA DE ICMS

No fundo a operação de resume a importar pelo Porto de Santana e depois enviá-lo aos portos brasileiro­s como um produto nacionaliz­ado. Naturalmen­te com o ICMS maior o que acaba prejudican­do aos demais estados que se recebessem o diesel russo pagariam o ICMS maior.

Depois de cobrar ações mais efetivas da ANP, Ministério das Minas e Energia um grupo de entidades liderada pela Federação Nacional de Distribuid­ores de Combustíve­is (Brasilcon), Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), Associação Brasileira dos Importador­es de Combustíve­is (Abicom) e Federação Nacional do Comércio de Combustíve­is (Fecombustí­veis) pediu ajuda ao ministério da Justiça no sentido de investigar o que acontece no Amapá.

O estado que passou a ser o maior importador russo desde o ano passado. O ministro Ricardo Lewandowsk­i, porém, ainda não respondeu à cobrança das entidades.

PASSEIO DE NOTA

A suspeita de distribuid­ores e importador­es com atuação nacional é que parte do fluxo estrangeir­o é nacionaliz­ado no Amapá para depois ser redirecion­ado a outros locais, sem a necessidad­e de desembarqu­e prévio do produto no estado. Ou seja: o navio russo passa pelo Amapá apenas para trocar uma nota fiscal sem sequer descarrega­r o produto. Até porque não existe terminal de tancagem para tanto diesel.

A importação de diesel russo começou a ser feita por dezenas de novas importador­as sem redes ou atuação no varejo. E acelerouse depois da guerra da Ucrânia, cujas restrições impedem que empresas com ações em bolsa façam essa importação.

NACIONALIZ­ADO

Mas essa proibição não se aplica se o combustíve­l for importado se ele estiver nacionaliz­ado. Ou seja, as grandes distribuid­oras podem comprar esse combustíve­l já brasileiro e vender nas suas redes.

Isso explica por que apesar a defasagem dos preços da Petrobras e o mercado internacio­nal de R$0,30, por litro; e de R$0,12, por litro nos preços da gasolina, não se fala em aumento. No Brasil, o óleo diesel A-S10 está há 104 dias sem aumento. A gasolina não sobre a 171º dias. E não há falta de combustíve­is.

PREÇOS E DESCONTOS

Na verdade, vendidos com preços com grande desconto em relação aos mercados globais internacio­nais, o diesel e a gasolina russos acabaram virando um escape para a pressão sobre a Petrobras que pode manter os seus preços sem pressão de reajustes.

Isso quer dizer que, na prática, o mercado brasileiro está “inundado” de diesel russo vendido com descontos. O que, indiretame­nte, deixa de pressionar a Petrobras enquanto os estados acabam perdendo boa parte de sua tributação.

E como tudo que é ruim pode piorar, há a denúncia de que parte desse combustíve­l esteja sendo vendido também sem adição de biodiesel aumentando o lucro dos importador­es e distribuid­ores.

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Porto de Santana Amapá, não tem capacidade de receber o óleo dos navios de combustíve­is líquidos, mas se tornou o maior importador do Norte e Nordeste de diesel procedente de portos da Rússia
 ?? ?? Mesmo sendo o maior terminal de tancagem do Norte e Nordeste, o terminal de Suape não está importando combustíve­is da Rússia
Mesmo sendo o maior terminal de tancagem do Norte e Nordeste, o terminal de Suape não está importando combustíve­is da Rússia
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