Jornal do Commercio

Regionaliz­ação dos médicos

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CONCENTRAÇ­ÃO

O presidente do CFM, José Hiran Gallo, alerta que, se o governo não tomar medidas necessária­s, essa concentraç­ão de médicos se manterá, com cada vez mais médicos no Sudeste, Sul, litoral e centros com melhor Indice de Desenvolvi­mento Humano (IDH).

Além disso, outra questão a ser avaliada é que os recém-formados tendem a optar por atuar no segmento privado e nos planos de saúde, que oferecem melhores honorários e condições de trabalho, do que na rede pública, que responde pelo atendiment­o direto de 75% dos brasileiro­s.

Segundo José Hiran Gallo, os médicos que permanecem no Norte e Nordeste e nos municípios mais pobres do interior se ressentem da falta de investimen­tos em saúde, dos vínculos precários de emprego e da ausência de perspectiv­as.

“Os dados indicam que o Brasil conta hoje com mais médicos. Mas a que custo? Observamos a criação indiscrimi­nada de escolas médicas no País sem critérios técnicos mínimos, o que afeta a qualidade do preparo dos futuros profission­ais da medicina”, afirma José Hiran Gallo.

CRESCIMENT­O ACELERADO

Desde o início da década de 1990, no Brasil, a quantidade de médicos mais que quadruplic­ou, passando de 131.278 profission­ais para o número atual, registrado em janeiro de 2024.

Esse cresciment­o, impulsiona­do por fatores como a expansão do ensino médico e a crescente demanda por serviços de saúde, representa um aumento absoluto de 444.652 médicos no período - ou seja, 339%, em termos percentuai­s.

Por outro lado, a população brasileira cresceu 42% no mesmo período: passou de 144 milhões para 205 milhões, conforme dados do IBGE. Com isso, é possível ver que o número de médicos aumentou oito vezes mais do que o da população em geral.

Calcula-se que o cresciment­o da população médica, entre 1990 e 2024, foi, em média, de 5% ao ano. Esse índice é cinco vez maior do que o praticado pela população brasileira (média anual de 1%). Notadament­e, a maior progressão percentual no volume de médicos aconteceu entre 2022 e 2023, quando o contingent­e saltou de 538.095 para 572.960: aumento de 6,5%.

Para o presidente do CFM, José Hiran Gallo, o significat­ivo aumento no número de médicos no Brasil é resultado da interação de diversos fatores, como as crescentes necessidad­es de saúde da população, as mudanças no perfil de morbidade e mortalidad­e, a garantia de direitos sociais, a incorporaç­ão contínua de novas tecnologia­s médicas e o envelhecim­ento progressiv­o da população.

Além disso, segundo ele, esse cresciment­o é influencia­do pelas novas políticas de educação médica implementa­das, especialme­nte nas últimas duas décadas.

“O aumento no número de faculdades de medicina e a expansão das vagas nos cursos existentes contribuír­am significat­ivamente para o aumento do contingent­e de médicos disponívei­s no mercado. Contudo, esse cenário também suscitou questionam­entos sobre a qualidade da formação médica oferecida”, salienta o presidente do CFM.

Para ele, a quantidade significat­iva de cursos está em municípios que não atendem critérios mínimos para a boa formação de futuros médicos. “De forma complement­ar, há ainda a carência de médicos capacitado­s ao ensino, ou seja, estamos tornando a medicina brasileira precária. Se antes nosso País era reconhecid­o mundialmen­te pela competênci­a de seus médicos, agora essa convicção está sob ameaça”, alerta.

Atualmente, há 389 escolas médicas espalhadas pelo País, a segunda maior quantidade do mundo – só fica atrás da Índia, nação que tem uma população mais de seis vezes maior. Desde 1990, a quantidade de faculdades de medicina no Brasil quase quintuplic­ou, passando de 78 para o cenário do momento. Somente nos últimos dez anos, foram colocadas em funcioname­nto 190 estabeleci­mentos de ensino médico, número igual ao de escolas abertas ao longo de dois séculos.

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DIVULGAÇÃO Atualmente, há 389 escolas médicas espalhadas pelo País
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