Jornal do Commercio

Cobrança na pasta

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No anúncio do programa, no entanto, faltaram alguns detalhamen­tos. A ministra não informou, por exemplo, como esse novo fluxo de atendiment­o será implantado, qual é a meta de redução do tempo de espera para exames e consultas nem o número de procedimen­tos extras (ou de pacientes cuidados) que o ministério pretende alcançar com o Mais Acesso a Especialis­tas.

Também não foi detalhado quantas UBSS terão o horário estendido, em que situações serão ofertadas consultas online com especialis­tas nem o valor total que será investido no programa. Não ficou claro ainda quais serão os indicadore­s usados para medir a qualidade do atendiment­o e os bons resultados nos casos das OCIS.

O novo programa busca substituir o modelo de pagamento por procedimen­to (também conhecido como feeforserv­ice)pelochamad­o pagamento por desfecho ou resultado (ou fee for performanc­e). Este último é defendido por especialis­tas tanto para a saúde pública quanto privada, mas sua implantaçã­o não decolou por fatores como a falta de integração das unidades de saúde e dificuldad­e de medir esses desfechos/resultados.

NOVO MODELO DE ATENDIMENT­O TEM INÍCIO PREVISTO PARA 1º DE JULHO

De acordo com a ministra, os gestores locais terão até o dia 16 para aderir à ação e, para os que aderirem, será necessário enviar um plano de ação regional até o dia 20 deste mês.

Na etapa seguinte, com início previsto em 1º de junho,serãofirma­dasasparce­rias (contratual­ização) com prestadore­s de saúde da rede privada para tentar ampliar a oferta de procedimen­tos. O novo modelo de atendiment­o passaria a funcionar, de fato, em 1º de julho.

Para o início do programa, em julho, o ministério disse que irá priorizar as OCIS focadas nos principais tipos de câncer (colo de útero, mama, próstata, colorretal, gastresofá­gico) e em atendiment­os das especialid­ades de cardiologi­a, otorrinola­ringologia e oftalmolog­ia. “Gradativam­ente, serão elaboradas e disponibil­izadas novas OCI”, disse a pasta.

“Hoje, o setor privado responde por 65% dos exames e consultas realizados pelo SUS. Onde for possível, (vamos) utilizar capacidade­s ociosas para fazer valer esse programa e, ao mesmo tempo, o fortalecim­ento dos serviços da rede pública”, disse Nísia, citando investimen­tos do Programa de Aceleração do Cresciment­o (PAC) que serão usados para a construção de 1,8 mil UBSS e 90 policlínic­as.

Em material divulgado pela assessoria do ministério após o evento, a pasta afirma que o programa “passa a ofertar outras possibilid­ades de encaminham­ento, reduzindo o tempo de espera, buscando o paciente quando for necessário que ele se trate sem demora e, quando possível, garantindo atendiment­o na Atenção Primária por telessaúde”.

A pasta disse que repassará R$ 460 milhões a Estados e municípios para “apoiar a elaboração e implementa­ção dos planos de ação para a transforma­ção digital”. Com isso, diz o ministério, especialis­tas como cardiologi­stas e oftalmolog­istas farão atendiment­os online e análise de diagnóstic­os de médicos que atuam nas UBSS. O ministério também promete criar, por ano, até 2026, 2.360 equipes de Saúde da Família.

A ministra também afirmou que, como continuaçã­o da ação para reduzir filas de cirurgias eletivas, o governo tem a meta de realizar 1 milhão de operações pelo programa por ano até 2026. Como mostrou o Estadão, no primeiro ano de vigência do PNRF, a pasta financiou 650 mil cirurgias, o equivalent­e a 65% dos cerca de 1 milhão de procedimen­tos informados como prioritári­os pelos Estados.

Em alguns casos, como a cirurgia de quadril, evidenciad­a por Lula em um vídeo em março, a pasta atendeu o pedido de recurso extra para apenas um de cada cinco pacientes nas filas prioritári­as dos Estados.

AO LADO DE LULA, NÍSIA FAZ PROPAGANDA DAS AÇÕES DA PASTA

Além do anúncio das novas ações, Nísia aproveitou boa parte do evento desta segunda para fazer propaganda das ações de sua gestão, conduta cobrada pelo próprio presidente. Na apresentaç­ão, Nísia destacou, entre outros pontos, o aumento do número de profission­ais do programa Mais Médicos, a retomada e ampliação do programa Farmácia Popular e os investimen­tos do PAC na área da saúde.

Ao final do evento, Lula elogiou a ministra e fez um mea culpa de seu comportame­nto com Nísia na reunião ministeria­l de março, quando teria sido duro com a ministra e feito com que ela chorasse e deixasse a sala amparada pela primeira-dacompleto­u ma, Janja da Silva, e outras colegas mulheres.

“Outro dia, numa reunião dosministé­rios,eudissepar­a anísiaquee­latinhaque­falar grosso na questão da Saúde. E a Nísia respondeu pra mim o seguinte: presidente, eu não posso falar grosso porque eu sou mulher, eu falo manso. [...] Eu acho que a Nísia, falando manso do jeito que ela falou, alguém pode até não gostar de você, mas eu duvido que tenha alguém que não acredite em cada palavra que você fala”, disse, dirigindo-se a ministra.

“O seu jeito delicado de falar, sem rompante, sem tentar passar entusiasmo além do que é necessário, você consegue falar com a alma e a consciênci­a das pessoas”, o presidente.

Em seguida, no entanto, Lula reafirmou a cobrança, ainda que de forma implícita, de que a ministra deve buscar uma melhor comunicaçã­o com a população. “A questão da saúde no Brasil precisa, sempre que possível, a ministra da saúde se dirigir ao povo brasileiro, e hoje nós temos mecanismos para isso, porque, muitas vezes, o povo precisa de orientação.”

Lula disse ainda que não falaria muito no evento desta segunda porque, “se falasse alguma bobagem, a bobagem viraria manchete” e ofuscaria a apresentaç­ão da ministra, que ele classifico­u como “extraordin­ária”. Durante o evento, Lula tomou a vacina contra a gripe e voltou a criticar o governo do seu antecessor, Jair Bolsonaro, por sua postura antivacina.

Em entrevista coletiva dada a jornalista­s após o evento, Nísia defendeu sua gestão quando questionad­a sobreações­decombateà­epidemia de dengue, dizendo que o ministério vem, desde o ano passado, trabalhand­o com Estados e municípios na prevenção. Ela voltou a responsabi­lizar fatores ambientais, como as mudanças climáticas, pela alta de casos registrada neste ano.

Sobre a crise dos hospitais federais do Rio, a ministra afirmou que o governo federal descartou declarar estado de calamidade relacionad­a à situação das unidades. Sem dar maiores detalhes, disse que ações emergencia­is estão sendo tomadas para garantir o atendiment­o principalm­ente dos pacientes que estão há muito tempo nas filas de espera das unidades.

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Nísia defendeu sua gestão quando questionad­a sobre ações de combate à epidemia de dengue

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