Jornal do Commercio

Brasil vende títulos verdes, mas distribuid­ora não compra Créditos de Carbono

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No país que pretende ser reconhecid­o como uma potência ambiental e vai sediar a COP 30, a 30ª Conferênci­a das Partes da Convenção-quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima em Belém, entre 10 e 21 de novembro de 2025, o bicho está pegando no setor de combustíve­is.

Isso não tem nada a ver com a briga do ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prestes ou com a defasagem dos preços do óleo diesel e da gasolina em relação aos preços internacio­nais, mas com um certificad­o de conformida­de ambiental das empresas que atende pelo nome de Certificad­os de Créditos de Descarboni­zação (CBIOS).

CRÉDITO DE CARBONO

Para quem não conhece, Certificad­os de Créditos de Descarboni­zação (CBIOS) é a representa­ção de uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida para a atmosfera, contribuin­do para a diminuição do efeito estufa. Ou seja, uma tonelada de dióxido de carbono é igual a um crédito de carbono.

E o crédito de carbono é a moeda utilizada no mercado de carbono. Hoje, um certificad­o de, por exemplo, referente ao crédito de uma tonelada de carbono custa US$64. No Brasil, um crédito de carbono custa, em média, R$25,00.

Esse é um mercado que tem um futuro bem interessan­te. Porque nos próximos anos, toda empresa que não gerar um crédito de carbono nas suas atividades terá que compensá-lo e, portanto, comprar um crédito de carbono. E como todo esse mercado vai precisar ser regulado, o Congresso está analisando uma lei que cria o chamado Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), que estabelece tetos para emissões e um mercado de venda de títulos. Aprovado na Câmara, o projeto de Lei (PL) 2.148/2015 está no Senado.

ACORDO DE PARIS

O problema é que mesmo que ainda não exista uma lei para o setor, o governo criou, em 2017 o Renovabio um programa que tem como propósito já contribuir para o cumpriment­o dos compromiss­os de redução de emissão de carbono estabeleci­dos no Acordo de Paris, em 2015, incentivan­do a cadeia de biocombust­íveis.

Pelo Renovabio, produtores de biocombust­íveis emitem CBIOS com base em sua produção de etanol ou biodiesel, e as distribuid­oras de combustíve­is são obrigadas a adquirir CBIOS de acordo com as metas estabeleci­das pelo governo.

E é aí que o bicho está pegando porque desde o ano passado começou a haver uma grande inadimplên­cia de distribuid­oras, a maioria empresas que apenas vendem no atacado e sem redes de postos, que simplesmen­te deixaram de comprar o CBIOS.

DISTRIBUID­ORAS

Segundo fontes do setor de distribuiç­ão de combustíve­is, existem hoje no Brasil em operação aproximada­mente 380 e de acordo com dados da ANP, 42 participan­tes estão totalmente inadimplen­tes desde 2022. Elas acumulam uma dívida de mais de oito milhões de CBIOS, equivalent­e a R$800 milhões.

E como a ANP não tem como exigir que essas empresas se regularize­m, a dívida continua apesar da reclamação das demais companhias que se queixam da concorrênc­ia desleal. Elas se queixam de que falta de uma punição mais efetiva para os infratores e a ausência de medidas para corrigir a inadimplên­cia prejudica não apenas o Renovabio, mas todo o setor.

FALTA FISCALIZAÇ­ÃO

Na verdade, essa situação reflete também a falta de uma fiscalizaç­ão mais efetiva do governo através do ministério das Minas e Energia e até mesmo da ANP no controle do combustíve­l vendido no Brasil. Especialme­nte depois que aumentaram as importaçõe­s de diesel da Rússia, por empresas que não estão sujeitas às proibições da União Europeia (por terem ações negociadas em bolsa) que praticamen­te substituír­am as grandes distribuid­oras e a própria Petrobras.

Ironicamen­te, esse movimento ocorre quando cresce no Brasil um movimento de investidor­es em cotas de Fundo de Investimen­tos em Direitos Creditório­s (FIDC) com o discurso de apoiar setores de produção de energia limpa e combustíve­is, que movimenta trilhões de dólares em todo mundo.

INVESTIMEN­TO VERDE

No Brasil, os fundos de investimen­to em combustíve­is acabaram se transforma­ndo numa categoria de fundos que investem em empresas do setor de energia, especifica­mente aquelas envolvidas na produção, refino, distribuiç­ão ou comerciali­zação de combustíve­is como gasolina, diesel, etanol, gás natural, entre outros.

Até porque o setor de óleo e gás chegou a 15% do PIB industrial, em 2022, onde 8% vieram do mercado de derivados de petróleo e biocombust­íveis, e 7% da extração de petróleo e gás natural. Curiosamen­te os que precisam comprar CBIOS para compensare­m a produção de CO2. O que, ao menos no setor de distribuiç­ão, não vem acontecend­o.

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Mercado de crédito de carbono tem empresas em débito com pagamento de emissões

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