Ziraldo mudou campanhas de prevenção da saúde, dizem especialistas
Escritor contribuiu para a definição de um tom das campanhas de prevenção em uma época que o País ganhava nova Constituição, em 1988, e definia, posteriormente, o SUS
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Instituto Nacional
Câncer (Inca) inicia nesta semana um curso a distância do Programa Saber Saúde. Como sempre, as ilustrações feitas por Ziraldo na década de 1990 estarão nas aulas, mas desta vez recebem atençãoespecial e muita saudade.
“Ele contribuiu muito, tanto para o controle do câncer quanto para o controle do tabagismo. Nós recebemos a notícia do falecimento dele com muita tristeza, porque todos temos um carinho grande por ele, pelo trabalho que sempre fez e essa parceria importante com o Inca. Seu legado vai ser, com certeza, eternizado”, diz a chefe da Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco (Conprev) do Inca, Maria José Domingues da Silva Giongo.
DÉCADA DE 1980
A parceria de Ziraldo com o Inca teve início antes do Saber Saúde, em 1987, em uma campanha contra o cigarro, que resultaria em cinco pôsteres com caricaturas com os dizeres: “fumar é cafona”, “fuma ré careta ”“fu maré de mau gosto ”“fu maré patético” e“fuma ré brega ”. Esses pôsteres foram amplamente divulgados no último fim de semana nas redes sociais.
A secretária-executiva da Comissão Nacional para a Implementação da Convenção-quadro para o Controle do tabaco( co nicq),v era luiza da Costa e Silva, foi uma das pessoas que trabalhou com Ziraldo nessa época, em que as propagandas de cigarro ocupavam a televisão e outros meios de comunicação e cerca de 35% da população era fumante, segundo o Inca.
MUDANÇA COMPORTAMENTAL
“Naquela época, as campanhas[antitabagistas] eram com caveiras, com revólveres, com uma coisa sempre ass oc ia daàmorte,à doença, à desgraça. E aí ele falou assim: ‘Olha, está tudo errado. Oque vai mudar amaneira de as pessoas verem o hábito de fu maré o lado comportamental. Temqu ecolocar queécafo na fumar, queé careta, que é brega, queéd ema u gosto. e aí ele falou: eu vou fazer essa campanha”, conta Vera.
RECONHECIMENTO
O Inca procurou Ziraldo justamente porque queria uma abordagem inovadora em uma campanha contra o cigarro. E foi isso que Ziraldo entregou. O trabalho logo foi reconhecido. Ainda em 1987, o cartunista foi premiado pela Organização Mundial da Saúde( OMS) pela contribuição na campanha tabaco ou Saúde.
A campanha funcionou até mesmo com o próprio Ziraldo. “E ele fumava na época. Então, fez a campanha e ficou tão compelido com aquilo que parou de fumar, entendeu?”, diz a secretária.
O Brasil também mudou ao longo do tempo. As propagandas de cigarro passaram a ser proibidas nos meios de comunicação. em 2019, o percentual defumantes cai para 12,6 %, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS).
PODER DAS IMAGENS
A campanha mostrou o poder das imagens. “O poder da ilustração e do conceito, né? Mudou todo o universo na época ”, diz a secretária .“a gente deve mui toa e lena área da saúde pública, acho que ele introduziu um conceito que realmente mudou até mesmo a nossa visão. mudou por causa do Ziraldo”, acrescenta.
De acordo com ela, o escritor contribuiu para a definição de um tom das campanhas de prevenção em uma época que o país ganhava nova Constituição, em 1988, e definia, posteriormente, o Sistema Único de Saúde (SUS).
SABER SAÚDE
O sucesso foi tanto que a parceria de Ziraldo com o Inca seguiu e, em 1998, ele faria ilustrações também para o Programa Saber Saúde, de prevenção do tabagismo e outros fatores de doenças crônicas. As ilustrações foram todas cedidas ao Inca e continuam sendo usadas.
O programa é voltado para as escolas, oferecendo formação aos professores e profissionais de saúde, para que levem as informações às crianças e jovens. Além do tabagismo, o programa alerta para os riscos de hábitos como o consumo de álcool, a exposição excessiva ao sol sem proteção, a alimentação não saudável, entre outros.
“As imagens falam por si, dialogam com o público infantil e infantojuvenil. Você olha uma folhinha, uma planta tossindo, expelindo fumaça, a criança olha e vê o dano que aquilo causa à saúde, o quanto faz mal. E o legal é que a partir disso, a gente reforça os fatores de proteção, os comportamentos que eles precisam ter, para que não venham a ter doenças crônicas no futuro”, afirma Maria José Giongo, responsável pelo programa.
BOA RECEPTIVIDADE
Ela diz que o programa é um sucesso e que muito é graças a Ziraldo: “Tem muito boa receptividade, eles gostam muito, porque o Ziraldo é conhecido em nível de Brasil, nível nacional, tanto por profissionais da educação quanto da saúde e por crianças. Então, a receptividade dos materiais, eles pedem, eles querem, eles gostam. A gente oferece turmas para o curso e se inscrevem mais profissionais doque o número de vagas que agente consegue ofertar”.
Tanto Vera, que chegou a conviver com o escritor, quanto Maria José têm muito carinho por Ziraldo. “Ele contribuiu muito para esse trabalho de promoção da saúde e prevenção aqui do Inca e deixou um lega doque, com certeza, vai ser eternizado, vai continuar tornando as pessoas mais felizes e, sem dúvida, mostrando para as crianças a importância de se fazer opções mais saudáveis”, lembra Maria José.
Para Vera, “a genialidade, o compromisso, a leveza de Ziraldo vão ficar na obra dele. Mas agente perde a pessoa, né?”.