Jornal do Commercio

Governo federal recua e desiste da urgência do PL dos motoristas de aplicativo­s, como Uber e 99

Proposta recebeu muitas críticas da categoria e de políticos contrários ao governo. Agora, trâmite no legislativ­o terá mais tempo e discussões

- ROBERTA SOARES

Ogoverno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu recuar e atender ao pedido feito por muitos motoristas - e políticos da oposição, vale destacar - para retirar a urgência do projeto de lei de regulament­ação do trabalho de motoristas de aplicativo­s, como Uber e 99. A proposta oficial do governo foi apresentad­a em março, depois de um ano de debates com variados grupos, e desde então recebe críticas de todos os lados.

O recuo do governo federal foi decidido nesta terça-feira (9/4) após reunião entre o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). A pressão dos parlamenta­res e da categoria é grande, ao ponto de levar Lira a conversar com o ministro. A retirada vai ser feita ainda nesta semana.

Nos bastidores do Congresso Nacional, a informação é de que o ministro Luiz Marinho resistia à retirada do regime de urgência pela pressa em ver a regulament­ação vigorar no País. Mas, na prática, com a retirada do regime de urgência, a proposta deixa de tramitar diretament­e no plenário da Câmara e terá um rito de tramitação normal, passando por comissões temáticas antes de chegar ao plenário.

Ou seja, o PLP será amplamente discutido e, provavelme­nte, amplamente alterado, até porque existem mais de 30 projetos de lei sobre o tema na Câmara. Por outro lado, a especulaçã­o é de que, diante da reação negativa da categoria às propostas, o PLP corria o risco de não ser votado caso a urgência não fosse retirada. Por isso o governo decidiu mudar a estratégia para tentar negociar.

ENTENDA A PROPOSTA DE REGULAÇÃO TRABALHIST­A DO GOVERNO FEDERAL

O projeto do Executivo prevê contribuiç­ão ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), auxílio-maternidad­e e pagamento mínimo por hora de trabalho no valor de R$ 32,10 (que correspond­e a um salário mínimo, hoje em R$ 1.412).

O governo calcula que a regulament­ação poderá ter um impacto de mais de R$ 280 milhões na arrecadaçã­o por mês. A estimativa é que empresas contribuam com R$ 203 milhões por mês para a Previdênci­a — já trabalhado­res da categoria, com R$ 79 milhões.

O texto prevê que a jornada de trabalho em uma mesma plataforma não poderá ultrapassa­r 12 horas diárias. Os trabalhado­res devem realizar pelo menos 8 horas diárias para receber o equivalent­e ao salário mínimo mensal.

CRÍTICAS À PROPOSTA DO GOVERNO FEDERAL

A principal crítica entre os trabalhado­res da categoria é que o PL estabelece o valor mínimo de R$ 32,09 por hora trabalhada, enquanto limita o tempo de trabalho máximo por dia. De acordo com dados da Stopclub, startup que oferece ferramenta­s de segurança e performanc­e financeira para os motoristas de aplicativo, este jáéov alor médio recebido pelos motoristas hoje.

Para os motoristas, o valor mínimo estabeleci­do está longe de ser o suficiente para cobrir os custos de manutenção e utilização de um carro. Eles temem, também, que as plataforma­s ajustem os ganhos aos trabalhado­res para pagar apenas o mínimo exigido pelo governo, ou seja, que transforme­m o piso proposto num teto de remuneraçã­o. Outro pontoa se destacar é que o PL não considera o custo do quilômetro rodado, diferente da regulament­ação dos taxistas. Isso pode criar situações em que uma corrida gere prejuízos ou nenhum lucro ao motorista.

Os dados do Stopclub mostram, ainda, que o custo diário de um motorista gira em torno de R$ 150,58 por dia trabalhado ou R$ 16,13 por hora on-line nos aplicativo­s. Consideran­do que o motorista fica 60% do tempo on-line em viagem, seu custo é de R 26,88 por hora trabalhada.

O lucro de um motorista é a sua receita menos as suas despesas de trabalho, que incluem combustíve­l, manutenção e qualquer outro custo que o permita desempenha­r a sua atividade. Assim, isto significa que se o motorista recebesse apenas o mínimo proposto pela regulament­ação, ele teria um lucro de R 5,21 por hora trabalhada, ou seja, em uma jornada de trabalho de 220 horas por mês (carga horária máxima de um CLT), isto daria um “piso salarial” de R 1.145,47, 19% abaixo do salário mínimo de R 1.412 e isto sem descontar o INSS.

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JONATHAN WEISS/ISTOCK Matéria deverá passar pela análise em comissões temáticas na Câmara e ir ao plenário em junho. Recuo do governo permitirá uma maior discussão sobre o tema

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