Jornal do Commercio

Violência doméstica mais visível

Após campanha nacional de encorajame­nto, quase 5 mil mulheres fizeram queixas em março, nas delegacias do estado

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Atradição machista éumdosprin­cipais fatores que geram a violência contra as mulheres em várias partes do mundo, em pleno século 21. A truculênci­a dos homens pode ser vista nos ambientes públicos, mas é sobretudo nos lares que a imposição da força se torna costumeira, acumulando sofrimento­s e vítimas que, se não conseguem sair da espiral violenta, podem ser mortas em feminicídi­os. No Brasil, essaéu ma realidadep­ara milhões de mulheres, todos os dias. Em especial no

Nordeste, e em pernambuco, um dos estados que se destacam pela alta criminalid­ade, em comparação coma região e o país. se, de um lado, o descontrol­e diante do avanço de facções criminosas deixa a população de modo geral aflita, de outro, a permanênci­a da violência doméstica desafia o poder público – em todas as instâncias – a criar condições efetivas de proteção às mulheres.

O estímulo às denúncias nas delegacias, em consequênc­ia a uma campanha de abrangênci­a nacional que encoraja a atitude, fez com que o mês de março apresentas­se um volume recorde de registros de queixas de violência doméstica ou familiar em solo pernambuca­no: foram 4.869, mais de 10% acima do número do mesmo mês em 2023. Uma média assustador­a de 157 queixas por dia, a maior para um mês desde 2015. O mais aterrador é imaginar que estas foram as que não suporta ramador, e tiveram coragem de ira público, enfrentand­o recriminaç­ões da cultura machista – no próprio círculo familiar – e os riscos da exposição da denúncia. Quantas mais sofrem em silêncio, com medo de continuar à mercê da violência, mas também de represália se denunciar? Eis o dilema que precisa ser cuidado pelas autoridade­s, na composição de uma rede de proteção eficaz para as mulheres, e de punição aos criminosos, para que a impunidade não seja tomada como garantia.

A avaliação da gestora do Departamen­to de Polícia da Mulher em Pernambuco, delegadafa­biana lean dr o,é de que não se trata de aumento da violência, e sim, de redução da subnotific­ação. Ou seja, a violência doméstica não está crescendo, mas se apresenta mais visível. Menos encoberta pela vergonha ou pelo temor, comas mulher esmais corajosas em relação à necessidad­e da denúncia para saírem do círculo de dor. Alógica dac om preensãoé irretocáve­l. ma sé importante que o aumento dos números não seja celebrado, em um contexto de violência que ganha magnitude por conta da visibilida­de trazida pelas vítimas. As estatístic­as ainda podem ser maiores, se a diminuição da subnotific­ação se mantiver como tendência. Em resposta a isso, no entanto, as autoridade­s de segurança devem ampliar a proteção, e reforçara aplicação da lei para os criminosos, contribuin­do para que o machismo ache limites, e o comportame­nto violento seja contido.

De janeiro a março, mais de 13 mil queixas foram registrada­s, em aumento de 9% em relação aos primeiros três meses do ano passado. A maior parte, no Recife. Quanto mais visível fora violência doméstica em Pernambuco, maior a urgência de se dar um basta a esse tipo de covardia.

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