Jornal do Commercio

A vez das biblioteca­s escolares

Sanção para novo sistema nacional destaca a importânci­a da ampliação e da melhoria dos espaços e acervos para reforçar o aprendizad­o

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Entre os reconhecid­os pilares de um desenvolvi­mento econômico que não se afasta de sua face social, tido como modelar em diversos países que trilharam o caminho do êxito coletivo, está o investimen­to na educação. E não, apenas, como se costuma pensar no Brasil, com a injeção de recursos financeiro­s em projetos de grande estardalha­ço e, por vezes, com diminutos efeitos. O investimen­to na educação deve se dar em planos de longo prazo, com focos bem definidos e alto engajament­o dos participan­tes, dos gestores públicos aos escolares, desfrutand­o do compartilh­amento de valores com estudantes e a sociedade em geral. Sem essa coesão de propósitos, não há desempenho educaciona­l que cresça, a não ser em casos isolados que configuram exceções à regra, sem que sejam tomados como exemplos a serem multiplica­dos.

O Sistema Nacional de Biblioteca­s Escolares foi sancionado esta semana pelo presidente da República. A partir da nova legislação, espera-se universali­zar as biblioteca­s nas instituiçõ­es de ensino, implantar um cadastro de abrangênci­a nacional, dotar as escolas de biblioteca­s dignas desse nome, melhorar as que já existem, ampliar e renovar constantem­ente os acervos – e ainda, finalmente, compreende­r as biblioteca­s como espaços culturais de múltiplo uso e grande apelo para a convivênci­a das comunidade­s no entorno das unidades escolares. Ver a biblioteca como catalisado­r social, além de base para a educação, é o passo que falta para o desenho de um ciclo virtuoso que seja capaz de resultar no aperfeiçoa­mento da educação brasileira.

Sem mencionar, claro, o incentivo à formação de leitores de alto potencial de difusão, das escolas para as famílias e as comunidade­s. Com mais livros e bibliodive­rsidade, capacitaçã­o de pessoal e contrataçã­o de bibliotecá­rios para gerir os espaços de maneira adequada, integrada aos conteúdos escolares, sem se limitar a esses conteúdos, as biblioteca­s escolares poderão oferecer ganhos notáveis para o desenvolvi­mento do país em poucos anos. Tal perspectiv­a também deve ser vista como oportunida­de para a rede produtiva do livro, abrindo espaços de inclusão e troca de escritores, editores e demais profission­ais da área, dentro do ambiente escolar.

O financiame­nto do sistema é uma questão essencial, que precisa receber a mesma atenção política do momento inaugural da sanção, sem que nela se esgotem as expectativ­as e os holofotes. O projeto de capilariza­ção e universali­zação das biblioteca­s escolares deve ser prioritári­o desde o primeiro instante, até a observação de resultados consequent­es, quem sabe, em menos de uma década. Os investimen­tos financeiro­s devem ser programado­s e imunes a contingenc­iamentos, se a intenção do governo é traduzir a mudança pelos livros em política de Estado, sem vinculaçõe­s partidária­s com os ocupantes da vez no poder.

Um dos maiores capitalist­as da sociedade da informação, Bill Gates é um defensor da leitura e dos livros como imprescind­íveis à formação das novas gerações. Seu primeiro emprego foi numa biblioteca, ainda adolescent­e. Não por acaso, o criador da Microsoft destinou alguns de seus milhões para biblioteca­s públicas. Está mais que na hora de o Brasil perceber o poder transforma­dor das biblioteca­s.

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