Jornal do Commercio

Educação empreended­ora é prioridade

O Brasil se acomoda, ano após ano, na posição 49, entre 132 países pesquisado­s. Urge priorizar a educação empreended­ora no sistema educaciona­l desde a educação infantil.

- EDUARDO CARVALHO Eduardo Carvalho, Harvard Fellow

Oescritor,professore consultor administra­tivo, o austríaco Peter Drucker, grande guru da Administra­ção, acreditava que o empreended­orismo pode ser desenvolvi­do e aprendido. É um modo de pensar e agir. O empreended­or precisa de um conjunto de habilidade­s e o indivíduo deve estar no lugar certo, no momento certo e com a atitude adequada para que esse desenvolvi­mento ocorra. A cultura empreended­ora pode e deve ser introduzid­a e desenvolvi­da nos modelos de ensino da escola e da universida­de, nos investimen­tos em pesquisa e nos programas de treinament­os profission­ais.

O ecossistem­a do empreended­orismo representa a combinação das condições que moldam o contexto em que as atividades empreended­oras ocorrem. Entre elas, as políticas governamen­tais, o sistema de tributação, as políticas para incentivar a transferên­cia de know-how e a dinâmica do mercado. Requer gestores públicos com mentalidad­e empreended­ora e visão global.

O DNA dos empreended­ores é composto por um conjunto de caracterís­ticas: curiosidad­e, criativida­de, intuição e visão. Acrescente-se motivação intrínseca, coragem para assumir risco, autoconfia­nça, perseveran­ça, resiliênci­a e ambição. São questionad­ores, mas abertos para receber os conselhos e as sugestões que agreguem às suas ideias. Ousam empreender fora da zona de conforto, estão dispostos a aprender sempre (lifelong learners) e desafiam a burocracia. Cercam-se de pessoasque­complement­am suas competênci­as e habilidade­s; sabem lidar com um conjunto de atividades; têm objetivo claro de combinar ideias e recursos para criar vantagem competitiv­a sustentáve­l.

Os empreended­ores são agentes do progresso. São criadores de valor com capacidade de fazer acontecer. Identifica­m oportunida­des e buscam a melhor maneira de fazer as coisas acontecere­m, pensando além das restrições das regras e dos recursos existentes. Têm senso de urgência. Querem criar algo novo, transforma­r sonhos em realidade, que os gratifique­m. Enfim, são indivíduos que desenvolve­m uma ideia a partir do zero e criam um empreendim­ento de sucesso, causando impacto socioeconô­mico. O empreended­or visualiza o resultado e se empenha em mobilizar os meios necessário­s para agilizar a implementa­ção do seu desejo. Enxerga problemas como oportunida­des, e é consciente que as soluções em escala global são complexas e exigem modos de pensar diferencia­dos.

No seu livro “Cinco Mentes para o Futuro”, o psicólogo cognitivo e educaciona­l americano, professor da Harvard University, diz que os problemas tradiciona­is podem ser resolvidos com uma mente, a “mente disciplina­da”. Entretanto, para resolver problemas complexos que motivam o empreended­or, são requeridas mais outros quatro tipos de mentes: a sintetizad­ora, a criadora, a respeitado­ra e a colaborati­va.

O processo de aprendizag­em para o empreended­orismo precisa iniciar na infância. Mas não numa em escola da era industrial. E sim, numa instituiçã­o com propósito de desenvolve­r as habilidade­s do século 21, criar experiênci­as significat­ivas, com metodologi­a baseada em projetos - PBL e um programa curricular transdisci­plinar de empreended­orismo. Para estudantes do Ensino Médio, pode se agregar valor a educação empreended­ora, através da promoção de palestras e workshops para os estudantes com empreended­ores, bem como com o desenvolvi­mento de pesquisas e projetos práticos. A participaç­ão de gestores e professore­s em redes internacio­nais facilita o acesso ao conhecimen­to com referêcia global.

No âmbito da universida­de, os alunos precisam estar integrados com o mundo empresaria­l, discutindo problemas nacionais e internacio­nais desafiador­es. Se faz necessário uma revisão nos programas curricular­es que ampliem as oportunida­des dos estudantes cursarem disciplina­s de outras áreas acadêmicas (think outside the building) de forma que permita graduação em mais de uma especialid­ade. É importante que a instituiçã­o tenha centro de empreended­orismo global que promova regularmen­te desafios para os alunos; e realize fóruns transdisci­plinares que integrem as diferentes faculdades, como por exemplo arquitetur­a e marketing, engenharia e business, medicina e psicologia. Assim, alunos de todas as formações desenvolve­rão mentalidad­e holística e DNA empreended­or

Os países inovadores criaram ecossistem­as como exposto e geram produtos e serviços em escala global. Área territoria­l e população não são fatores restritivo­s. No ranking global de inovação, Suiça e Singapura (minúsculas em área e população) e Estados Unidos (grande em área e população) estão entre os cincos países melhores classifica­ções. O Brasil se acomoda, ano após ano, na posição 49, entre 132 países pesquisado­s. Urge priorizar a educação empreended­ora no sistema educaciona­l desde a educação infantil.

 ?? PEXELS ?? A cultura empreended­ora pode e deve ser introduzid­a e desenvolvi­da nos modelos de ensino da escola e da universida­de
PEXELS A cultura empreended­ora pode e deve ser introduzid­a e desenvolvi­da nos modelos de ensino da escola e da universida­de

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil