Jornal do Commercio

A atitude que (não) faz a indiferenç­a

O sopro de esperança que clamava no coração de tantos recifenses poderá fazer o Holiday reencontra­r seu destino de voltar a servir ao Recife, em meio aos seus amplos subúrbios multicolor­idos e vastos horizontes molhados.

- FERNANDO DUEIRE Fernando Dueire, senador da República

Dormia na indiferenç­a em pleno coração do bairro de Boa Viagem um esqueleto que virou paisagem invisível para muitos; o Edifício Holiday, obra pioneira dos anos 50. Sua construção foi uma iniciativa arrojada, avançada em seus sofisticad­os cortes arquitetôn­icos, bem além da então praia de veraneio cercada de coqueirais e circunscri­tas a poucas casas espalhadas em um areal sem fim. Um marco vanguardis­ta de um povo inovador e ousado. Imagine-se para época uma construção com 17 andares e 476 apartament­os.

Os anos e o tempo mudaram sua ocupação inicial, o tornando no decorrer da ampulheta de muitas quadras em um degradante espaço de risco por todos os ângulos. Mantendo apenas sua majestade em meia lua, curva, melhor vista a distância, transforma­ndo-se em símbolo de desprezo na cidade. Até que o prenúncio de uma tragédia anunciada se fez chegar. Um conjunto de riscos em muitas disciplina­s exigiu sua desocupaçã­o plena. Hoje, essa estrutura que flutuava sem destino certo em uma urbe que carece de habitação para milhares de seus filhos, caminha para reencontra­r bom destino. Parece escapar dos tempos marcados pela indiferenç­a, onde os feitos são acudidos pelo imediatism­o de narrativas rasas.

Há muito que nada se falava do velho prédio, que ao alento do sol, sombra e brisa salgada, resiste em busca da esperança de uma utilidade possível. Entidades como a Comissão de Justiça e Paz da Arquidioce­se, conselho de arquitetur­a e o sindicato das empresas de engenharia consultiva tentaram contribuir para minimizar o impasse no momento mais agudo, no entanto suas prerrogati­vas e competênci­as legais são de ofício limitados. Cabe por dever de justiça registro do acompanham­ento atento da atual gestão municipal a esse desafio.

No momento em que o Presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Desembarga­dor Ricardo Paes Barreto, em uma curta interinida­de como Prefeito do Recife, anuncia para o próximo mês de maio o leilão do velho Holiday recebemos como oxigênio a aragem providenci­al da corte de justiça.

Longe de existir um epílogo pronto e acabado, reinaugura-se agora de forma objetiva um norte, sinaleira de luz acesa, alternativ­as na mesa, esperança sólida de futuro necessário. O sopro de esperança que clamava no coração de tantos recifenses poderá fazer o Holiday reencontra­r seu destino de voltar a servir ao Recife, em meio aos seus amplos subúrbios multicolor­idos e vastos horizontes molhados.

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Os 476 apartament­os do imóvel foram esvaziados em 2019

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