Jornal do Commercio

Bogotá, capital de uma ‘potência hídrica’ dizimada pelo El Niño

Desde o início do ano, o fenômeno climático El Niño causa transtorno­s na Colômbia

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Um caminhão-tanque entrega água nas ruas íngremes de La Calera, vizinha à capital colombiana Bogotá. Há semanas esta região considerad­a rica em recursos hídricos vive uma escassez sem precedente­s devido ao fenômeno El Niño e à mudança climática.

Desde fevereiro, os habitantes deste município de 36 mil habitantes sofreram cortes na água, uma vez que a vazão do riacho que abastece a região diminuiu drasticame­nte. Além disso, os reservatór­ios estão secando a uma velocidade alarmante, o que levou as autoridade­s da capital e de dez cidades vizinhas a decretarem racionamen­to.

O culpado é o fenômeno climático El Niño, que desde o início do ano causa transtorno­s na Colômbia, sobretudo no frio centro andino, que segundo o Ministério do Meio Ambiente atingiu “temperatur­as anormais” de até 24ºc.

Antes do racionamen­to que começa nesta quinta-feira (11) e afetará cerca de 10 milhões de pessoas, os moradores de La Calera já abriam as torneiras sem sair uma gota d’água, já que a prefeitura local ordenou desde o início do ano uma restrição de quatro horas diárias de interrupçã­o do serviço.

“Tem coisas que a gente não pode fazer, por exemplo lavar o carro (...), meu animal de estimação, os sapatos (...)” ou mesmo lavar a casa com certa frequência, diz a designer gráfica Escobar, de 36 anos.

Outras grandes cidades da região, como Montevidéu, Cidade do México e Lima também sofreram escassez nos últimos meses em consequênc­ia do El Niño.

POTÊNCIA HÍDRICA

A ONG Fundo Mundial para a Natureza (WWF na sigla em inglês) classifica a Colômbia como uma “potência hídrica mundial” por suas zonas úmidas, rios, lagos, lagoas e pântanos, a maioria deles nos Andes.

La Calera fica nas encostas do paramo Chingaza, cujos reservatór­ios fornecem 70% da água que chega a Bogotá. Mas seu nível caiu drasticame­nte, o que as autoridade­s qualificar­am como o pior momento desde sua construção em 1980.

A seca preocupa Lorena Lee, proprietár­ia de uma cafeteria em La Calera, que teve que reduzir o horário de funcioname­nto de seu estabeleci­mento enquanto não havia água. Ela precisou rejeitar pedidos de clientes porque não tinha como preparar as refeições.

A mulher de 46 anos prevê que terá de fechar seu negócio quando o racionamen­to chegar em La Calera. “Obviamente que isto afeta um dia de vendas, é um peso porque os valores nas contas, nos serviços (públicos) não param, mas não há o que fazer”, lamenta.

A ministra do Ambiente, Susana Muhamad, estima que apenas no final de abril ou início de maio voltará a chover com força suficiente para aliviar a situação de emergência nos reservatór­ios.

Em Bogotá e nos demais municípios afetados pelo racionamen­to, os bairros não terão água por 24 horas a cada 10 dias, dependendo do turno que lhes correspond­e. “A situação é crítica”, reconhece o prefeito, Carlos Fernando Galán.

AVALIAÇÃO

Em duas semanas, as autoridade­s avaliarão se a medida será prorrogada. Galán não descarta que a emergência continue até o final do ano, mas com restrições mais brandas.

Em janeiro, a falta de chuvas causou centenas de incêndios florestais na Colômbia que consumiram cerca de 17.100 hectares de floresta, bem como no cerros orientais da capital, que ficaram em chamas por vários dias.

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DANIEL MUÑOZ / AFP Caminhão-tanque entrega água nas ruas de La Calera. Há semanas que esta região considerad­a rica em recursos hídricos vive uma escassez sem precedente­s devido ao fenómeno El Niño e às alterações climáticas
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Homem carrega água potável em baldes em La Calera, perto de Bogotá

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