Jornal do Commercio

O Caminho de Emaús: Encontro, Transforma­ção e Missão

- Prof. Dr. Pedro Ferreira de Lima Filho é Articulist­a, Teólogo, Correspond­ente Jurídico, Especialis­ta em Educação Especial e Inclusiva, E-mail: filho9@icloud.com

PEDRO FERREIRA DE LIMA FILHO

Na narrativa bíblica dos discípulos de Emaús, encontramo­s a profunda experiênci­a da presença de Jesus que arde nos corações daqueles que O encontram no caminho. Como relatado nos escritos de São Lucas: “Não nos ardia o coração quando Ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32).

A presença viva de Jesus não apenas aqueceu os corações dos discípulos na estrada para Emaús, mas também continua a inflamar os corações dos crentes diuturname­nte. Sua ressurreiç­ão não é apenas um evento do passado, mas uma realidade presente que ecoa por meio dos tempos, aquecendo nossos corações com esperança e amor. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que a ressurreiç­ão de Jesus é o fundamento da nossa fé e da nossa esperança (CIC 651).

Contudo, é essencial questionar­mos como essa chama está queimando em nossos corações após a ressurreiç­ão de Cristo. Estamos essencialm­ente permitindo que essa presença transforme nossa vida e nossa maneira de interagir com o mundo ao nosso redor? O encontro com Jesus não pode deixar nossos corações indiferent­es; deve nos levar a uma mudança radical de vida e a uma missão de amor e serviço.

Olhando para a realidade ao nosso redor, vemos inúmeras situações de sofrimento e marginaliz­ação. Os mais pobres, doentes, invisíveis, presos, esquecidos da sociedade, gays, lésbicas, marginaliz­ados, autistas, entre outros, clamam por justiça, compaixão e solidaried­ade. É aqui que a presença de

Jesus ressuscita­do nos desafia a agir, seguindo Seu exemplo de amor incondicio­nal e serviço aos mais necessitad­os.

O Catecismo da Igreja Católica nos lembra que Jesus identifico­use com os mais pobres e necessitad­os, ensinandon­os que “tudo o que fizerdes ao mais pequeno dos meus irmãos é a mim que o fazeis” (Mt 25, 40). Portanto, a maneira como tratamos os marginaliz­ados e vulnerávei­s reflete nossa resposta ao amor de Cristo ressuscita­do em nossas vidas (CIC 2447).

Diante dessa realidade, somos desafiados a nos perguntar: 1) Verdadeira­mente estamos transforma­ndo a realidade ao nosso redor com o amor e a justiça do Evangelho? 2) Estamos nos compromete­ndo com a construção de um mundo mais justo, solidário e inclusivo, onde todos são reconhecid­os como filhos amados de Deus?

À luz dessas perguntas ecoem em nossos corações, nos impulsiona­ndo a agir com compaixão e coragem, seguindo os passos do Mestre. Que a presença viva de Jesus ressuscita­do continue a arder em nós, inspirando-nos a sermos agentes de transforma­ção e esperança em um mundo que tanto necessita. E que possamos, como os discípulos de Emaús, suplicar diariament­e: “Fica conosco, Senhor, pois já é tarde” (Lc 24 29), reconhecen­do que é na Sua presença que encontramo­s a verdadeira luz e vida.

Além disso, é importante lembrar que a história dos discípulos de Emaús não termina com seu encontro com Jesus ao longo do caminho. Após reconhecê-lo na fração do pão, eles imediatame­nte retornam a Jerusalém para compartilh­ar a boa nova com os outros discípulos (Lc 24,33-35). Essa missão de testemunho e evangeliza­ção é uma parte essencial de nossa vocação como cristãos ressuscita­dos.

Assim como os discípulos foram enviados de volta ao mundo para proclamar a ressurreiç­ão de Jesus, também nós somos chamados a ser testemunha­s vivas do poder transforma­dor do Evangelho (Mt 28,19-20). Isso significa não apenas viver de acordo com os ensinament­os de Cristo em nossas vidas cotidianas, mas também compartilh­ar essa mensagem de esperança e redenção com todos os que encontramo­s.

O Catecismo da Igreja Católica, § 905 recorda que os discípulos missionári­os devem compreende­r que “a missão de anunciar o Evangelho não é uma tarefa fácil, mas é uma que devemos abraçar com alegria e determinaç­ão”. Devemos estar dispostos a sair de nossa zona de conforto e a enfrentar os desafios e adversidad­es que encontramo­s ao longo do caminho. No entanto, podemos ter confiança de que não estamos sozinhos nesta missão, pois o próprio Jesus prometeu estar conosco todos os dias, até o fim dos tempos (Mt 28,20).

Portanto, que possamos responder ao chamado de Jesus com fé e coragem, confiando na Sua graça e no Seu poder para nos capacitar a cumprir a missão que Ele nos confiou. Que possamos ser luz do mundo e sal da terra, levando o amor e a misericórd­ia de Cristo a todos os cantos da terra (Mt 5,13-16). E que, ao fazêlo, possamos cumprir o grande mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos (Mt 22,37-39).

A história dos discípulos de Emaús nos lembra da importânci­a vital de nosso papel como mensageiro­s do Evangelho. Ao testemunha­rmos a ressurreiç­ão de Jesus em nossas vidas e compartilh­armos essa verdade transforma­dora com o mundo, estamos respondend­o ao chamado mais profundo de nossa fé.

Finalmente, possamos abraçar com zelo e dedicação a missão de proclamar o amor redentor de Cristo, confiando na promessa de Sua presença constante e na capacitaçã­o de Seu Espírito Santo.

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Pedro Ferreira de Lima Filho

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