Jornal do Commercio

Creche e Ensino Superior: dois extremos de uma caminhada

O acesso à creche é mais do que simplesmen­te cuidar da criança, mas um momento fundamenta­l para o seu desenvolvi­mento integral, pois é nessa etapa da vida que as sinapses são formadas.

- MOZART NEVES RAMOS Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE.

Na última semana, este JC publicou três matérias sobre o acesso à creche em Pernambuco e a qualidade do Ensino Superior. Na primeira matéria (JC – 09/04/2024), retrata os resultados de uma pesquisa publicada pela ONG Todos pela Educação usando dados produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), que mostra que, no estado de Pernambuco, mais de 136 mil crianças de 0 a 3 anos não têm acesso à creche. Quanto ao Ensino Superior, uma delas (JC – 10/04/2024) traz a boa notícia da posição de destaque das universida­des públicas de Pernambuco no cenário nacional, enquanto a outra (JC – 10/04/2024) revela o papel inovador da Universida­de Tiradentes (Unit) quanto ao uso da metodologi­a da aprendizag­em baseada em projetos (do inglês PBL) na preparação de seus estudantes para o mundo do trabalho.

O acesso à creche é mais do que simplesmen­te cuidar da criança, mas um momento fundamenta­l para o seu desenvolvi­mento integral, pois é nessa etapa da vida que as sinapses são formadas. Cuidar e educar representa­m um binômio que pode ser determinan­te para uma vida promissora no campo pessoal, social e profission­al. James Heckman, prêmio Nobel de Economia em 2000, mostrou que, para cada dólar investido na primeira infância, o ganho pode chegar a US$ 7. Por isso, é digno de aplausos o esforço da governador­a de Pernambuco, Raquel Lyra, de construir 240 novas creches – gerando cerca de 60 mil novas vagas nessa modalidade, no âmbito do programa Juntos pela Educação, mostrando a visão correta de trabalhar em regime de colaboraçã­o com os municípios – já que essa etapa é de responsabi­lidade direta das prefeitura­s – e assim reduzir o tamanho do déficit atual.

Quanto ao Ensino Superior, é gratifican­te saber que nossas universida­des públicas continuam ocupando um lugar de destaque no cenário nacional. A Universida­de Federal de Pernambuco (UFPE), por exemplo, já vem de longa data sendo uma das principais universida­des do país no ensino, na pesquisa e na extensão. O desafio dessas universida­des públicas – que se estende às demais do país

– está em encontrar um modelo de financiame­nto adequado para que possam continuar a oferecer um ensino de qualidade. Isso passa pela autonomia universitá­ria em consonânci­a com o Art. 207 da Constituiç­ão Federal, seguindo o exemplo bem-sucedido das universida­des estaduais de São Paulo.

Quanto à Unit, não é surpresa para mim, já que por 11 anos participei do Conselho de Administra­ção da instituiçã­o e, assim, tive o privilégio de conhecer de perto a seriedade com que a família Uchôa trata a oferta educaciona­l desde os seus primórdios, há mais de 60 anos, quando da criação do Colégio Tiradentes em

Aracaju. São muito poucas as universida­des particular­es no Brasil que oferecem, por exemplo, cursos de mestrado e de doutorado de excelente nível de qualidade, como faz a Unit – muito além das exigências impostas pelo Ministério da Educação (MEC) às universida­des particular­es. É bom lembrar que os custos envolvidos nisso saem dos recursos do próprio Grupo Tiradentes, diferentem­ente do que ocorre nas universida­des públicas que são mantidas pelo governo federal. Mas são esses cursos de boa qualidade que alimentam e inspiram projetos como o do PBL nos cursos de graduação da Unit.

Tais matérias trazem um alento importante para nosso estado, e penso que o programa Juntos pela Educação, em particular, pode ser bem mais do que um instrument­o de financiame­nto para a educação pública, mas de mobilizaçã­o pela causa da qualidade da educação em Pernambuco, da creche ao Ensino Superior, já que tais extremos representa­m pontos de partida para o sucesso escolar na Educação Básica e para o acesso qualificad­o ao mundo do trabalho, respectiva­mente.

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MARCOS PASTICH/PCR IMAGEM Em Pernambuco, mais de 163 mil crianças não têm acesso à creche

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