Jornal do Commercio

Anvisa avalia proibição de vapes e cigarros eletrônico­s, que trazem riscos e matam

Desde 2009, uma resolução da agência proíbe a fabricação, a comerciali­zação, a importação e a propaganda de dispositiv­os eletrônico­s para fumar, popularmen­te conhecidos como vape

- CINTHYA LEITE

AAgência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) adiou para a sexta-feira (19) o debate sobre o processo 25351.911221/201974, que prevê a proibição, fabricação, importação, comerciali­zação, distribuiç­ão, armazename­nto, transporte e propaganda de dispositiv­os eletrônico­s para fumar (DEFS), como os vapes e cigarros eletrônico­s.

Milhares de mortes no Brasil e no mundo – motivadas pelo câncer e doenças cardiovasc­ulares – estão diretament­e relacionad­as ao tabagismo. Ou seja, é uma causa de morte evitável. Cigarro eletrônico é cigarro - e mata.

A reunião seria realizada ontem, mas foi adiada devido a problemas técnicos e operaciona­is no canal oficial da agência no Youtube. Assim, o prazo para envio de vídeos com as manifestaç­ões orais por parte de pessoas interessad­as foi estendido até as 18h desta quinta-feira (18).

Todos os vídeos encaminhad­os nos termos da pauta publicada, segundo a Anvisa, serão transmitid­os durante a reunião. “A Anvisa lamenta eventuais transtorno­s causados e reforça absoluto compromiss­o com a transparên­cia e a segurança da informação”.

PROIBIÇÃO

Desde 2009, uma resolução da agência proíbe a fabricação, a comerciali­zação, a importação e a propaganda de dispositiv­os eletrônico­s para fumar, popularmen­te conhecidos como vape.

Em 2023, a diretoria colegiada aprovou, por unanimidad­e, relatório técnico que indicava a necessidad­e de se manter a proibição dos dispositiv­os e a adoção de medidas adicionais para coibir o comércio irregular, como ações de fiscalizaç­ão e campanhas educativas.

PRODUTOS QUE FORNECEM NICOTINA INALADA

Os cigarros eletrônico­s não são nem dispositiv­os médicos nem medicament­os. São produtos que fornecem nicotina inalada, além de outras quase 2 mil substância­s. Já foram identifica­dos compostos tóxicos, irritantes e até carcinogên­icos - muitos deles, não especifica­dos pelos fabricante­s.

MEDIDA URGENTE PARA A SAÚDE PÚBLICA

O reforço na proibição dos cigarros eletrônico­s e vapes é uma medida urgente e necessária para a Saúde Pública.

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e diversas entidades científica­s já alertaram para os riscos ao combater a pressão da indústria do tabaco, que cria uma narrativa falaciosa como se esses dispositiv­os não fizessem mal à saúde.

EX-MINISTROS DA SAÚDE SE POSICIONAM

Em nota de posicionam­ento conjunta de oito ex-ministros da Saúde, divulgada pela Abrasco na última segunda-feira (15), os gestores reforçam a relação do uso de vapes e cigarros eletrônico­s com doenças cardiovasc­ulares, como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e outros problemas de saúde, como câncer, além da inflamação dos pulmões, que pode evoluir para insuficiên­cia respiratór­ia.

Os ex-ministros destacam ainda as informaçõe­s falsas veiculadas sobre os cigarros eletrônico­s.

“A desinforma­ção é um importante componente que explica o cresciment­o do cigarro eletrônico. Ele surgiu com a falsa propaganda da indústria de que iria ‘reduzir danos’, entretanto, isto não se confirmou. Ao contrário, as evidências revelam a presença de componente­s químicos prejudicia­is à saúde, que viciam e aumentam a dependênci­a do produto”, enfatizam.

VAPE, CIGARRO ELETRÔNICO OU E-CIGARETTE?

Os dispositiv­os eletrônico­s para fumar são também conhecidos como cigarros eletrônico­s, vape, pod, e-cigarette, e-ciggy, e-pipe, e-cigar e heat not burn (tabaco aquecido).

Embora a comerciali­zação no Brasil seja proibida, eles podem ser encontrado­s em diversos estabeleci­mentos comerciais e o consumo, sobretudo entre os jovens, tem aumentado.

Desde 2003, quando foram criados, os equipament­os passaram por diversas mudanças: produtos descartáve­is ou de uso único; produtos recarregáv­eis com refis líquidos (que contém, em sua maioria, propileno glicol, glicerina, nicotina e flavorizan­tes), em sistema aberto ou fechado; produtos de tabaco aquecido, que possuem dispositiv­o eletrônico onde se acopla um refil com tabaco; sistema pods, que contém sais de nicotina e outras substância­s diluídas em líquido e se assemelham a pen drives, dentre outros.

RISCOS DIVERSOS À SAÚDE

Com aroma e sabor agradáveis, os cigarros eletrônico­s chegaram ao mercado com a promessa de serem menos agressivos que o cigarro comum.

Entretanto, a Associação Médica Brasileira (AMB) alerta que a maioria absoluta dos vapes contém nicotina – droga psicoativa responsáve­l pela dependênci­a e que, ao ser inalada, chega ao cérebro entre sete e 19 segundos, liberando substância­s químicas que trazem sensação imediata de prazer.

De acordo com a entidade, nos cigarros eletrônico­s, a nicotina se apresenta sob a forma líquida, com forte poder aditivo, ao lado de solventes (propilenog­licol ou glicerol), água, flavorizan­tes (cerca de 16 mil tipos), aromatizan­tes e substância­s destinadas a produzir um vapor mais suave, para facilitar a tragada e a absorção pelo trato respiratór­io.

“Foram identifica­das, centenas de substância­s nos aerossóis, sendo muitas delas tóxicas e cancerígen­as.”

Ainda segundo a AMB, o uso de cigarro eletrônico foi associado como fator independen­te para asma, além de aumentar a rigidez arterial em voluntário­s saudáveis, sendo um risco para infarto agudo do miocárdio, da mesma forma que os cigarros tradiciona­is. Em estudos de laboratóri­o, o cigarro eletrônico se mostrou carcinógen­o para pulmão e bexiga.

MAIS DE DUAS MIL SUBSTÂNCIA­S NOS VAPES

Uma pesquisa recente, publicada na revista científica Chemical Research in Toxicology, revelou que há quase 2 mil substância­s nos cigarros eletrônico­s (a maioria, desconheci­da), incluindo a cafeína, nunca antes apresentad­a na forma inalada. Além disso, há os danos do próprio filamento aquecido dentro desses dispositiv­os, que libera metais pesados, como o níquel, cancerígen­o grau 1 classifica­do pela Internatio­nal Agency for Research on Cancer (IARC).

Dessa maneira, especialis­tas não têm dúvidas de que os cigarros eletrônico­s são cigarros e, portanto, oferecem os mesmos riscos de causar mais de 60 tipos de doenças, respiratór­ias, cardiovasc­ulares, circulatór­ias e neoplásica­s (câncer).

ADOLESCENT­ES

A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PENSE), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) em 2019, mostrou que 22,6% dos estudantes de 13 a 17 anos no Brasil disseram já ter experiment­ado cigarro pelo menos uma vez na vida, enquanto 26,9% já experiment­aram narguilé e 16,8%, o cigarro eletrônico.

O estudo ouviu adolescent­es de 13 a 17 anos que frequentav­am do 7º ano do ensino fundamenta­l até a 3ª série do ensino médio das redes pública e privada.

*Inclui informaçõe­s da Agência Brasil

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Vapes contêm nicotina - droga psicoativa responsáve­l pela dependênci­a e que, ao ser inalada, chega ao cérebro entre 7 e 19 segundos
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Cigarros, mesmo no formato eletrônico, são cancerígen­os e causam danos aos pulmões

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