Jornal do Commercio

Segurança para as motos

Mais de três quartos dos atendiment­os emergencia­is do Corpo de Bombeiros em Pernambuco são de colisões e quedas envolvendo motociclis­tas

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Amigração do transporte público ineficient­e para os aplicativo­s de motos gerou consideráv­el aumento no uso desse tipo de transporte em todo o Brasil, especialme­nte nas grandes cidades, onde as consequênc­ias para o trânsito já conturbado são enormes. Para qualquer pessoa, a maioria dos trajetos pelas vias públicas se transformo­u em percursos arriscados, mas o perigo é maior para os passageiro­s desse modo quase improvisad­o de transporte. Os aplicativo­s exploram um nicho de oportunida­de que se aproveita do vácuo de um serviço decente para a coletivida­de, a exemplo do lendário Metrô do Recife, cujo sucateamen­to desafia o tempo e atravessa repetidas promessas de mudança.

Entre as consequênc­ias, além do visível descontrol­e do tráfego desorganiz­ado, está o cresciment­o de sinistros que exigem o acionament­o dos Bombeiros para procedimen­tos de resgate. A situação é tão alarmante no estado que o Corpo de Bombeiros resolveu emitir um alerta à sociedade, a respeito do risco a que são expostos os passageiro­s e os motociclis­tas de transporte por aplicativo. Já que as instituiçõ­es não conseguem regular a mobilidade, de maneira a garantir a segurança de quem se desloca, os profission­ais que lidam diariament­e com o problema chamam a atenção para o nível atingido: 77% das colisões registrada­s em 2023 tiveram como vítimas os condutores e passageiro­s de motociclet­as. O número alto equivale a mais de três quartos dos 4.300 atendiment­os realizados, indicando a necessidad­e de melhores condições de trafegabil­idade – uma vez que a raiz de problema, a insuficiên­cia do transporte coletivo, parece fora do radar do alcance dos governante­s, de Brasília aos gestores municipais, passando pelo governo estadual.

Como se não bastasse esse indicador, mais de 400 atropelame­ntos, quase a metade dos notificado­s no ano passado, envolveram as motos. O risco, portanto, se expande a quem transita a pé, nas calçadas e nas ruas e avenidas pernambuca­nas. Mais uma vez, o que se realça não é um perigo intrínseco ao deslocamen­to sob duas rodas, mas a inseguranç­a de tal deslocamen­to em condições inadequada­s ao fluxo gerado pelo colapso do transporte coletivo. O alerta dos Bombeiros é propício a uma revisão da estrutura de fiscalizaç­ão da condução, bem como do desenho e dos elementos de prevenção no tráfego das cidades e entre as cidades, sobretudo na Região Metropolit­ana.

A preocupaçã­o se amplia porque os números representa­m o agravament­o de um quadro que já era grave – e apenas vem piorando, com o fenômeno do transporte por aplicativo para as motos. A convergênc­ia de comportame­ntos suscetívei­s à ocorrência de sinistros contribui para a elevação estatístic­a, fundada nas causas estruturai­s mencionada­s. De um lado, motociclis­tas apressados para terminar uma corrida e atender a próxima, e de outro, passageiro­s pouco habituados a andar na garupa de uma moto, sujeitos aos solavancos e curvas da pressa ou da imprudênci­a dos condutores, ou simplesmen­te de um trânsito caótico desprovido de ordem. Para conferir mais segurança às motos e reduzir seus riscos, tudo isso precisa mudar.

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