O X da questão
O interesse de Musk no Brasil, a dizer, no público brasileiro, é unicamente financeiro, o X da questão, para ele, é grana.
Abravata dos últimos dias foi a troca de farpas e insultos entre Elon Musk e o Supremo, nomeadamente o Ministro Alexandre de Moraes, mas não só ele, o Presidente Barroso e o decano Gilmar Mendes aderiram, e o que se viu foi, na minha visão, uma embaraçosa balbúrdia na mídia e, mais acentuadamente, sempre elas, nas redes sociais.
Tem dois lados aí. O primeiro é o lado de Musk. Ele começou a confusão com ataques gratuitos no X, do nada, atirou contra o Ministro Alexandre. As suas diatribes nunca tiveram como objetivo criticar a instituição judiciária brasileira, ele não está nem aí para isso. O interesse dele no Brasil, a dizer, no público brasileiro, é unicamente financeiro: o X da questão, para ele, é grana. E só. Alavancar a rede mediante a criação de polêmica.
Obviamente a falsa defesa da liberdade de expressão encontrou respaldo na extrema-direita sedenta de sangue, mais uma vez demonstrando ela a supremacia nas redes, tanto que 2/3 das manifestações no X foram em defesa de Musk, ou atacando, como sempre, o Supremo. O bilionário coleciona tagarelices na rede desde a compra do X, começando pela própria negociação. Portanto, ao investir contra o Supremo, apenas escolheu a bola da vez para dar vazão ao projeto empresarial do X. E os experientes Ministros do Supremo caíram feito patinhos.
Aí entra o lado do Supremo. A Corte tem história e tem prestado relevante serviço à manutenção da institucionalidade brasileira, no entanto, fazia mais quando não espetacularizava as coisas, nem as politizava tanto. Essa politização está fazendo muito mal à instituição, bastando mencionar os casos de claríssima violação à norma tributária que são decididos em favor da Fazenda por importarem em valores elevados para os cofres públicos. Aqui vale uma explicação. O Supremo, por ser a mais alta instância de um dos poderes da República, é necessariamente político, significando que as repercussões políticas do julgamento são levadas em conta, mas nunca para definir seu conteúdo, que deve observar rigorosamente a letra da Constituição e da lei.
Posta cum grano salis a perspectiva, o Tribunal tem excedido, e muito, o limite, ao se expor fora dos autos, culminando com essa disputa com um bilionário sul-africano que nada mais é do que um dos muitos que espezinham o Supremo nas redes sociais. Escolhê-lo para dar o troco foi muito ruim. Na linguagem comum, o Supremo se trocou com Musk.
O melhor a fazer é esperar a regulação das redes sociais pelo Congresso. Não antecipar julgamentos, salvo nos casos de ameaça de ruptura ou grave violação às instituições, como ocorreu no uso das redes pelos golpistas de triste passado recente. As redes são um campo de proliferação de desinformação pelas razões que já conhecemos. Quanto mais atenção se dá, mais elas proliferam. O Supremo deu gás a Musk, deu gás à extrema-direita. Andou mal. Os Ministros faziam bem em se recolher, e voltar a falar apenas nos autos.