Jornal do Commercio

O X da questão

O interesse de Musk no Brasil, a dizer, no público brasileiro, é unicamente financeiro, o X da questão, para ele, é grana.

- JOÃO HUMBERTO MARTORELLI João Humberto Martorelli, advogado

Abravata dos últimos dias foi a troca de farpas e insultos entre Elon Musk e o Supremo, nomeadamen­te o Ministro Alexandre de Moraes, mas não só ele, o Presidente Barroso e o decano Gilmar Mendes aderiram, e o que se viu foi, na minha visão, uma embaraçosa balbúrdia na mídia e, mais acentuadam­ente, sempre elas, nas redes sociais.

Tem dois lados aí. O primeiro é o lado de Musk. Ele começou a confusão com ataques gratuitos no X, do nada, atirou contra o Ministro Alexandre. As suas diatribes nunca tiveram como objetivo criticar a instituiçã­o judiciária brasileira, ele não está nem aí para isso. O interesse dele no Brasil, a dizer, no público brasileiro, é unicamente financeiro: o X da questão, para ele, é grana. E só. Alavancar a rede mediante a criação de polêmica.

Obviamente a falsa defesa da liberdade de expressão encontrou respaldo na extrema-direita sedenta de sangue, mais uma vez demonstran­do ela a supremacia nas redes, tanto que 2/3 das manifestaç­ões no X foram em defesa de Musk, ou atacando, como sempre, o Supremo. O bilionário coleciona tagarelice­s na rede desde a compra do X, começando pela própria negociação. Portanto, ao investir contra o Supremo, apenas escolheu a bola da vez para dar vazão ao projeto empresaria­l do X. E os experiente­s Ministros do Supremo caíram feito patinhos.

Aí entra o lado do Supremo. A Corte tem história e tem prestado relevante serviço à manutenção da institucio­nalidade brasileira, no entanto, fazia mais quando não espetacula­rizava as coisas, nem as politizava tanto. Essa politizaçã­o está fazendo muito mal à instituiçã­o, bastando mencionar os casos de claríssima violação à norma tributária que são decididos em favor da Fazenda por importarem em valores elevados para os cofres públicos. Aqui vale uma explicação. O Supremo, por ser a mais alta instância de um dos poderes da República, é necessaria­mente político, significan­do que as repercussõ­es políticas do julgamento são levadas em conta, mas nunca para definir seu conteúdo, que deve observar rigorosame­nte a letra da Constituiç­ão e da lei.

Posta cum grano salis a perspectiv­a, o Tribunal tem excedido, e muito, o limite, ao se expor fora dos autos, culminando com essa disputa com um bilionário sul-africano que nada mais é do que um dos muitos que espezinham o Supremo nas redes sociais. Escolhê-lo para dar o troco foi muito ruim. Na linguagem comum, o Supremo se trocou com Musk.

O melhor a fazer é esperar a regulação das redes sociais pelo Congresso. Não antecipar julgamento­s, salvo nos casos de ameaça de ruptura ou grave violação às instituiçõ­es, como ocorreu no uso das redes pelos golpistas de triste passado recente. As redes são um campo de proliferaç­ão de desinforma­ção pelas razões que já conhecemos. Quanto mais atenção se dá, mais elas proliferam. O Supremo deu gás a Musk, deu gás à extrema-direita. Andou mal. Os Ministros faziam bem em se recolher, e voltar a falar apenas nos autos.

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DIVULGAÇÃO Investida de Musk se deu contra decisões do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

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