Jornal do Commercio

Recife tem armadilhas em 75% dos bairros para deter epidemia de dengue

O histórico das epidemias de dengue no Recife não permite que a vigilância ambiental relaxe nas medidas para o combate ao mosquito transmisso­r

- CINTHYA LEITE

Ouso de 2,8 mil armadilhas para capturar os ovos do mosquito do dengue (chamadas de ovitrampas) tem ajudado a retirar mais de 8 milhões de ovos do Aedes aegypti por ano em 71 dos 94 bairros do Recife. Se não fossem essas ferramenta­s instaladas em áreas da cidade, esses ovos eclodiriam na natureza e colocariam mais pessoas em risco de infecções transmitid­as pelo mosquito.

Neste ano, a capital pernambuca­na acumula 4.194 notificaçõ­es de casos suspeitos de arbovirose­s, sendo 3.297 de dengue, 762 de chikunguny­a e 135 de zika. Desse total, foram confirmado­s 85 casos de dengue e 88 de chikunguny­a. A cidade segue, assim como todo o Estado, sem confirmaçõ­es de zika. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, houve aumento de 148,3% dos casos notificado­s e de 499,5% dos casos prováveis de arbovirose­s.

CAPITAL TEM INCIDÊNCIA MÉDIA

“Para uma cidade com cerca de 1,6 milhões de habitantes, que é o caso do Recife, não podemos dizer que há epidemia com 3.297 notificaçõ­es de dengue”, avalia a gerente de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde do Recife (Sesau), Vania Nunes.

Para ela, a estratégia de enfrentame­nto ao Aedes, que inclui as ovitrampas e todo o trabalho de mobilizaçã­o com os agentes de endemia da vigilância ambiental, tem um papel fundamenta­l para deter a epidemia na cidade.

Apesar do incremento de registros de dengue, em comparação com o ano passado, Vania reforça que a situação epidemioló­gica atual da capital não desponta ainda com índices epidêmicos. “Essa comparação é feita com 2023, que foi um ano em que os casos de arbovirose­s foram muito baixos. Então, o aumento em número absoluto deste ano já faz elevar o percentual”, explica Vania.

Diferentem­ente de cerca de 550 cidades brasileira­s, que enfrentam severa epidemia de dengue neste ano com emergência decretada, o Recife está com incidência moderada da doença: 182 casos por 100 mil habitantes.

A Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS) considera que taxas abaixo de 100 casos/100 mil habitantes configuram baixa incidência de dengue; moderada de 100 a 300 casos/100 mil habitantes e alta incidência a partir de 300 casos/100.000 habitantes.

SITUAÇÃO NÃO É CONFORTÁVE­L

No entanto, a situação não é confortáve­l, até porque o histórico das epidemias de dengue no Recife não permite que a vigilância ambiental relaxe nas medidas para o combate ao mosquito transmisso­r.

“MAPA DAS ARBOVIROSE­S” MOSTRA RISCO ALTO DE EPIDEMIA

O risco de explosão de epidemia este ano ainda existe - e é elevado. O Levantamen­to de Índice Rápido para Aedes aegypti (LIRAA) aponta para isso, com taxa de 2,7% (correspond­e a um risco alto de ter infestação pelo mosquito Aedes e, consequent­emente, de epidemia). O índice satisfatór­io precisa ser inferior a 1%.

O “mapa das arbovirose­s”, como é chamado o LIRAA, é um instrument­o que permite conhecer de forma rápida, por amostragem, a quantidade de imóveis que tem recipiente­s com larvas de Aedes aegypti. A partir desse mapeamento, além de se identifica­r depósitos com condições para a proliferaç­ão do mosquito, é possível fazer coleta de larvas e análise de amostras do vetor em laboratóri­o.

ALERTA PARA IBURA E COHAB

Além disso, algumas áreas do Recife estão em situação crítica. O LIRAA do Distrito Sanitário VIII apresenta risco muito alto de epidemia (maior ou igual a 4%). “É o caso do Ibura e da Cohab (Zona Sul), onde sempre estamos fazendo os mutirões para sensibiliz­ar os moradores sobre a importânci­a de combater o vetor, adotar medidas preventiva­s para evitar a propagação da dengue e fazer visita domiciliar para erradicar possíveis criadouros nos imóveis”, diz Vania.

SOL E CHUVA: COMBINAÇÃO PERFEITA PARA O AEDES

A gerente de Vigilância Ambiental do Recife ainda alerta para o fato de, nos últimos dias, a cidade ter a combinação perfeita para a proliferaç­ão do Aedes aegypti: sol e chuva ao mesmo tempo. “As chuvas intermiten­tes, acompanhad­as de sol e calor, encurtam o ciclo do mosquito.”

Os dias de chuva do outono podem ocasionar acúmulo de água em recipiente­s desprotegi­dos, e o sol que tem aparecido constantem­ente faz a combinação perfeita para a eclosão dos ovos que dão origem a milhares de novos mosquitos. Dessa maneira, a circulação do vírus aumenta em progressão geométrica.

“Por isso, ainda não podemos dizer que a situação será tranquila ao longo do ano. Historicam­ente, aqui no Recife, este é o período de maior risco para um aumento em larga escala dos mosquitos, devido a fatores climáticos. Continuamo­s a realizar o trabalho preventivo”, ressalta.

VISITAS A IMÓVEIS

Neste ano, equipes da

Vigilância Ambiental do Recife visitou 684.190 imóveis, com realização de inspeção em 76,9% (526.093 imóveis). Não foi possível realizar visita em 158.097 (23,1%) deles, ou por estarem fechados, ou pelo fato de as pessoas não autorizare­m a entrada dos agentes.

Atualmente, existem 2.513 ovitrampas (armadilhas para captura de ovos do mosquito) instaladas em residência­s de 71 dos 94 bairros da cidade (75,5%), além de 286 armadilhas instaladas em locais considerad­os como pontos estratégic­os. Assim, há um total de 2.799 ovitrampas distribuíd­as na capital. O objetivo da prefeitura é levar as ovitrampas, até o fim do ano, a todos os bairros da cidade.

ENTENDA COMO FUNCIONAM AS ARMADILHAS

As ovitrampas consistem em um recipiente simples pintado de preto e uma solução de água com larvicida. Elas simula o ambietne perfeito para depósito de ovos pelo mosquito. Em cada ovitrampa, há uma palheta de madeira com textura rugosa, onde são captados os ovos ali depositado­s.

A cada 15 dias, um agente de vigilância ambiental e endemias recolhe a palheta, que é levada para o Centro de Vigilância Ambiental do Recife. No laboratóri­o, os ovos são contados e analisados. Os dados coletados são fundamenta­is para mapear e direcionar o combate aos focos do mosquito.

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SESAU RECIFE/DIVULGAÇÃO Ovitrampas consistem em balde preto e solução com larvicida. Elas simulam o ambiente ideal para depósito de ovos pelo Aedes aegypti
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SESAU RECIFE/DIVULGAÇÃO Neste ano, até o momento, equipes da Vigilância Ambiental do Recife visitaram 684.190 imóveis, com realização de inspeção em 76,9% deles
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Vania Nunes diz que, nos últimos dias, a cidade tem a combinação perfeita para o Aedes: sol e chuva

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