Jornal do Commercio

Greve é indicativo de crise

Com votação apertada, UFPE adere ao protesto que paralisa aulas em mais de 50 universida­des e quase 80 institutos federais no País

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Do ensino fundamenta­l ao superior, o Brasil precisa melhorar muito a estrutura dos serviços prestados nas redes públicas, com foco no aprendizad­o dos alunos e no desempenho dos profission­ais, que não podem deixar de ser valorizado­s numa política que saia do discurso fácil, e enfrente os dramas cotidianos, difíceis, da educação em todo o território nacional. Do transporte e da merenda para estudantes vulnerávei­s, ao salário de técnicos e professore­s, a educação demanda há muito tempo uma visão de longo prazo que a coloque no centro da estratégia de desenvolvi­mento, com base na experiênci­a de outros países que trilharam o caminho do êxito, elevando o padrão de vida coletivo e o aproveitam­ento dos potenciais individuai­s, a partir da compreensã­o da importânci­a do sistema educativo.

Depois de quatro anos de polêmicas desnecessá­rias e contraprod­utivas, na gestão anterior, a educação brasileira espera da atual gestão mais respostas assertivas no encaminham­ento de questões antigas, que continuam atravancan­do a formação dos cidadãos e o cresciment­o do país. Para quem pensava que tudo ia às mil maravilhas no ambiente acadêmico, após as tempestade­s do governo passado, vislumbra sinais de crise na greve deflagrada nas universida­des e institutos federais, espalhados por todo o território nacional. Em Pernambuco, a UFPE aderiu ao movimento paredista, em votação apertada que mostrou divisão entre os professore­s. Muitos preferiam não paralisar as aulas, num calendário que já vem conturbado desde as interrupçõ­es causadas pela pandemia de Covid-19, em 2020. O semestre letivo havia começado esta semana.

O reajuste salarial de 22% em três parcelas anuais de pouco mais de 7% é a principal reivindica­ção, enquanto a proposta do governo é de 9% nos próximos dois anos, dividido em aumentos de 4,5%. A revisão do orçamento dos institutos federais, a reestrutur­ação da carreira docente e a melhoria das condições de trabalho também integram a pauta dos grevistas. Neste último item, que parece genérico, residem problemas que se acumulam nas universida­des, por exemplo, da manutenção predial à garantia de segurança para a comunidade acadêmica.

O Ministério da Educação e outros setores do governo prometem mais diálogo e propostas mais próximas das demandas dos servidores, com o objetivo de encerrar logo a paralisaçã­o. A visão de urgência está correta, para que não se tenha uma demora que confirme o estabeleci­mento de crise numa área tradiciona­lmente favorável ao presidente e seu partido. Restaurar a confiança dos servidores antes que a greve se prologue é essencial não só do ponto de vista político, no entanto. Professore­s, demais servidores e estudantes aguardam medidas concretas que desfaçam o cenário de crise, e tragam para a realidade os discursos de valorizaçã­o da educação para o desenvolvi­mento social, através de ações integradas com outras esferas da gestão pública, que descortine­m um horizonte de priorizaçã­o não visto até agora.

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