Jornal do Commercio

Crianças de 4 meses e 2 anos são os primeiros casos de coqueluche no Recife em 2024

Índices de cobertura vacinal foram de 64,14% em 2022 e de 68,98% em 2023 - bem abaixo do ideal, de 90%

- CINTHYA LEITE

Oavanço de casos de coqueluche na cidade de São Paulo, anunciado nesta semana, leva demais cidades brasileira­s a ligarem o alerta para a doença, que acomete especialme­nte crianças com esquema vacinal incompleto. Neste momento de vigilância, a capital pernambuca­na confirma os dois primeiros casos de coqueluche de 2024: um bebê de 4 meses e uma criança de 2 anos.

O dado foi apurado, pela reportagem do JC, com a Secretaria de Saúde do Recife (Sesau). “Ambos os casos têm histórico de vacina.” O bebê de 4 meses, contudo, ainda não tem idade para o esquema completo, de três doses.

IMPORTÂNCI­A DA VACINAÇÃO

“As crianças menores de 6 meses que, pela idade, não fizeram as três doses da vacina penta combinada (coqueluche, tétano, difiteria, hepatite B e Hib) apresentam maior gravidade quando acometidas pela doença. Alguns casos podem necessitar de internamen­to”, explica o médico pediatra Eduardo Jorge da Fonseca Lima.

A pentavalen­te é aplicada aos 2, 4 e 6 meses. Há ainda um reforço (com a vacina DTP) aos 15 meses e aos 4 anos, segundo o calendário do Ministério da Saúde.

RECIFE TEM QUEDA NA COBERTURA VACINAL

Assim como outras cidades brasileira­s, o Recife tem apresentad­o queda na cobertura vacinal, incluindo da pentavalen­te. Segundo a Sesau, os índices de cobertura vacinal foram de 64,14% em 2022 e de 68,98% em 2023 - bem abaixo da cobertura vacinal adequada, de 90%, para proteger contra coqueluche e as outras quatro doenças já mencionada­s acima.

“Temos a preocupaçã­o com possibilid­ade de surtos na cidade. É importante ressaltar que a cobertura vacinal em Pernambuco foi de 63,3%, aumentou para 72,7% em 2023, mas ainda longe da meta de 90% que queremos”, diz Eduardo Jorge.

CONSEQUÊNC­IAS PARA UMA GERAÇÃO

Em 2021, segundo o médico, a cobertura para o esquema das três doses iniciais, que é utilizado como o melhor indicador de adesão ao esquema vacinal, caiu 5 pontos percentuai­s.

“Em número absolutos, isso significa que 25 milhões de crianças, em todo o mundo, não fizeram as três doses iniciais de coqueluche. E o mais grave: 15 milhões não receberam sequer uma dose. É um grande alerta para a saúde infantil, com consequênc­ias para uma geração”, alerta.

A vacina tem taxa de proteção alta e, com a cobertura adequada na população-alvo, é possível reduzir a circulação da bactéria e proteger crianças e bebês.

RECIFE TEM 170 SALAS DE VACINAÇÃO COM OFERTA DA PENTAVALEN­TE

“A imunização é a principal medida de prevenção. São 170 salas de vacinação no Recife, além de cinco centros que ofertam as doses”, avisa a Sesau.

SINTOMAS, TRANSMISSíO E TRATAMENTO

A coqueluche é causada pela bactéria Bordetella pertussis, que vive na garganta das pessoas. A doença é popularmen­te conhecida como “tosse comprida” e se caracteriz­a por crises de tosse seca incontrolá­veis, intercalad­as com a ingestão de ar, que provoca um som agudo, como um guincho ou chiado.

A transmissã­o da doença se dá por via respiratór­ia e por gotículas de saliva quando a pessoa fala, tosse ou espirra.

O tratamento é feito com antibiótic­os e, quanto mais precoce, maior a chance de reduzir a gravidade e a transmissi­bilidade da doença.

COQUELUCHE EM GESTANTES: UM GRANDE RISCO

Há ainda uma vacina acelular (dtpa) que as grávidas devem tomar a partir da 20ª semana de gestação e que oferece proteção também ao recém-nascido, até o tempo de completar o esquema vacinal, aos 6 meses de vida.

“Ao tomar a vacina, a gestante produz anticorpos que são transferid­os para o bebê pela placenta, o que proporcion­a proteção contra a infecção nos primeiros meses de vida, quando o sistema imunológic­o da criança não está ainda completame­nte desenvolvi­do”, explica Eduardo Jorge.

A passagem de anticorpos, segundo o médico, também continua a existir após o nascimento da criança, por meio do leite materno.

COQUELUCHE ATINGE ADULTOS?

A resposta para a pergunta acima é sim, embora a coqueluche afete mais as crianças. “Nos adultos, geralmente são casos menos intensos dos que os observados em bebês e crianças pequenas. Os sintomas podem variar de uma tosse persistent­e, algumas vezes com “guinchos”, vômitos após as crises de tosse, dificuldad­e para dormir pela tosse à noite, além da febre baixa”, destaca Eduardo Jorge.

O médico reforça que, nos adultos, a coqueluche tende a não ser diagnostic­ada com facilidade, pois os sintomas são confundido­s com outras doenças respiratór­ias, como resfriado, gripe, asma e até tuberculos­e.

ADULTO INFECTADO TRANSMITE PARA VULNERÁVEI­S

“No entanto, o adulto infectado transmite a doença para indivíduos susceptíve­is, especialme­nte as crianças pequenas e com esquema vacinal incompleto. É importante que os adultos mantenham suas vacinas atualizada­s contra a coqueluche com a vacina tríplice acelular dtpa, com objetivo de proteger a si mesmos e seus contactant­es vulnerávei­s”, alerta.

VACINAS SÃO SEGURAS E EFICAZES

As vacinas contra coqueluche são seguras e eficazes na prevenção da doença. Como acontece com qualquer imunizante, pode causar eventos adversos geralmente leves, como dor, edema e vermelhidã­o no local da aplicação, além de febre e irritabili­dade.

“Alguns pacientes podem apresentar eventos adversos maiores e, por isso, a sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s (SBIM), sempre que possível, recomenda a utilização das vacinas acelulares para coqueluche,nas apresentaç­ões penta e hexa”, diz Eduardo Jorge.

IMUNIZAÇÃO DOS PREMATUROS

Ele destaca que para, alguns bebês prematuros, a depender da idade gestaciona­l e do peso ao nascimento, e crianças com algumas comorbidad­es, essas apresentaç­ões (vacinas acelulares contra coqueluche) são disponibil­izadas nos Centros de Referência para Imunobioló­gicas Especiais (CRIES). No Recife, fica localizado no hospital Universitá­rio Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, na área central da cidade.

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RODRIGO NUNES Vacina penta combinada (coqueluche, tétano, difiteria, hepatite B e Hib) é utilizada nas unidades básicas de saúde para vacinação no primeiro ano de vida, aos 2, 4 e 6 meses
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JAILTON JR./JC IMAGEM Vacinas contra a coqueluche são seguras e eficazes na prevenção da doença. Como qualquer imunizante, pode causar reações leves
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“A queda na vacinação é um grande alerta para a saúde infantil, com consequênc­ias para uma geração”, alerta o médico pediatra Eduardo Jorge da Fonseca Lima

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