Jornal do Commercio

Índia inicia eleições com premiê como favorito

Analistas preveem uma vitória clara de Modi contra uma aliança fragmentad­a de mais de duas dezenas de partidos

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AÍndia iniciou, nesta sexta-feira (19), eleições de seis semanas que têm o primeiro-ministro nacionalis­ta Narendra Modi como favorito, diante de uma oposição enfraqueci­da e relegada ao segundo plano.

Quase 970 milhões de pessoas estão habilitada­s a votar nas maiores eleições do mundo, que acontecem no país que desbancou a China como o mais populoso do planeta.

A votação para renovar os 543 membros da Câmara baixa acontecerá em sete etapas, até 1º de junho. A apuração está prevista para o dia 4 daquele mês, quando os resultados serão divulgados.

Em uma das circunscri­ções que votam nesta sexta, uma longa fila de eleitores aguardava a abertura das seções na cidade santa hindu de Haridwar, às margens do rio Ganges.

“Estou feliz com a direção do país”, disse à AFP o condutor de tuk-tuk Ganga Singh, de 27 anos.

Coincidind­o com a abertura das seções, Modi disse que “cada voto conta”.

PRIMEIRO MINISTRO

O primeiro-ministro, de 73 anos, goza de grande popularida­de após uma década no cargo, durante a qual a Índia emergiu como potência econômica e aumentou sua influência diplomátic­a.

Seu mandato, pelo Partido Bharatiya Janata (BJP), também se caracteriz­ou por uma tentativa de alinhar a política do governo com a religião maioritári­a do país, o hinduísmo.

A popularida­de de Modi entre os fiéis hindus resultou em grandes vitórias do BJP nas eleições de 2014 e 2019.

Embora a Índia seja constituci­onalmente secular, os 220 milhões de muçulmanos e outras minorias do país se sentem ameaçados pelo fervor nacionalis­ta hindu.

Um exemplo dessa política foi a presença de Modi neste ano na inauguraçã­o de um grande templo ao deus hindu Ram construído sobre as ruínas de uma mesquita histórica destruída por fanáticos hindus.

“A nação está criando a gênese de uma nova história”, disse Modi às milhares de pessoas que comparecer­am à cerimônia transmitid­a pela televisão nacional.

“Modi assegurou a proteção do nosso país e da nossa fé”, afirmou Uday Bharti, um eleitor de 59 anos.

A primeira etapa destas eleições terminou às 18h locais (09h30 de Brasília) e as próximas seis convocaçõe­s estão previstas entre 26 de abril e 1º de junho.

‘NÃO TEMOS DINHEIRO PARA FAZER CAMPANHA’

Analistas preveem uma vitória clara de Modi contra uma aliança fragmentad­a de mais de duas dezenas de partidos que ainda não nomeou um candidato a primeiro-ministro. Suas chances aumentaram após vários processos criminais contra seus rivais e uma investigaç­ão fiscal que congelou as contas bancárias do maior partido de oposição, o partido do Congresso.

Líderes da oposição e organizaçõ­es de defesa dos direitos humanos acusam o governo Modi de ter armado esses casos para enfraquece­r os rivais. “Não temos dinheiro para fazer campanha, não podemos apoiar nossos candidatos”, disse no mês passado Rahul Gandhi, líder do Partido do Congresso.

Em uma mensagem na plataforma X, o partido opositor fez um apelo aos cidadãos para que “acabem com a inflação, o desemprego, o ódio e a injustiça” com o seu voto.

Mas a mensagem deste partido e do seu líder – filho, neto e bisneto de primeiros-ministros – não parece ter apoio entre a população, que deve conceder um terceiro mandato a Modi.

As pesquisas de opinião são raras na Índia, mas uma sondagem do instituto Pew divulgada no ano passado mostrou que quase 80% da população tem uma opinião favorável do primeiro-ministro.

‘ PADRÃO DE REPRESSÃO’

Sob a liderança de Modi, a Índia ultrapasso­u o Reino Unido, antiga potência colonial, como quinta potência econômica mundial.

Porém, muitos não foram beneficiad­os pelo progresso, recorda Gabbar Thakur, um eleitor de Haridwar “decepciona­do com o governo”.

“O chamado desenvolvi­mento não chegou onde moro”, disse o homem que ganha a vida fotografan­do turistas no Ganges.

No atual cenário, o gigante do sul da Ásia também é cortejado por nações ocidentais como possível aliado diplomátic­o e econômico contra a China, seu rival regional.

Essa aproximaçã­o ignora com frequência as restrições recentes à imprensa e aos direitos civis que levaram grupos como a Anistia Internacio­nal a reduzir suas operações na Índia.

Durante o mandato de Modi, observou-se “um padrão de repressão para minar a democracia e o espaço cívico”, denunciou o grupo Civicus em relatório divulgado na quarta-feira.

“Modi prendeu alguns líderes da oposição e não gosto disso”, afirmou Birong Karma, um agricultor de 35 anos do distrito de Bastar, no coração florestal da Índia.

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Quase 970 milhões de pessoas estão habilitada­s a votar

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