Jornal do Commercio

O problema é o vigia acabar acreditand­o que é dono da casa que protege

- IGOR MACIEL imaciel@sjcc.com.br Twitter: @jc_pe Telefone: (81) 3413.6288

O vigia que guarda a casa precisa ver a área como um território a ser protegido, e não como sua propriedad­e. Porque neste segundo caso, os invasores não serão os únicos prejudicad­os e ele vai acabar atacando até a família que mora ali.

O vigia é o STF, hoje na figura de Alexandre de Moraes. A casa é a democracia. A família que mora ali é o conjunto do povo brasileiro, incluindo os outros poderes daquele coletivo.

INTERESSES

Caso pareça muito dura a comparação, peço perdão e ofereço uma variação de “defensores”, de vigias, daquele espaço. Ele pode se chamar Joaquim Barbosa ou Sergio Moro também, entre tantos outros com menor proeminênc­ia que se arvoram a defender território­s constituci­onais como se daquilo dependesse a própria vida, sem declarar nenhum interesse aparente, até se descobrir que o tempo todo eles planejavam algo muito maior do que o salário no fim do dia.

PROMOTOR

Quem vê Alexandre de Moraes abraçado à Constituiç­ão e se emociona com essa paixão efusiva dele pela ordem democrátic­a e pela segurança institucio­nal pode não saber que antes de ser enviado ao STF por Michel Temer para ser ministro, ele já ensaiou ser candidato a prefeito de São Paulo.

Na capital paulista, Alexandre era muito conhecido por ter atuado em processos contra Paulo Maluf e ter virado um símbolo contra a corrupção na época. Notou alguma coincidênc­ia?

MIDIÁTICO

Na época em que Maluf foi prefeito, o atual magistrado era promotor de Justiça e sabia usar a mídia para se promover, fazia sempre movimentos midiáticos para alimentar a ideia de que era um paladino da Justiça contra a corrupção.

O ex-prefeito paulistano, que não estava sendo acusado injustamen­te, é bom que se diga, gritava aos quatro cantos que o promotor tinha interesses políticos para persegui-lo, mas ninguém acreditava porque, afinal, era apenas o velho corrupto Maluf reclamando de perseguiçã­o. Credibilid­ade não era algo que sobrava por ali.

NA POLÍTICA

O tempo mostrou que havia algum sentido na reclamação. Pouco depois, Alexandre virou secretário de segurança pública na gestão de Geraldo Alckmin em SP, depois passou a ser um tipo de secretário especial de tudo na gestão municipal de Gilberto Kassab (PSD) e se articulou para ser candidato à sucessão na prefeitura paulistana.

Alexandre chegou a ser tratado como précandida­to, (do jeito que Maluf havia dito). Mas se desentende­u com o chefe e deu tudo errado na época.

MINISTRO

Em seguida, voltou ao cargo de secretário estadual de Segurança em SP e conheceu Michel Temer, ainda vicepresid­ente, para quem prestou alguns favores. Ficaram próximos. Temer virou presidente e chamou Alexandre para ser Ministro da Justiça. Ele voltou à carga das ações midiáticas.

Em uma de suas primeiras ações como ministro, foi ao Paraguai e apareceu em vídeo, de facão na mão, cortando pés de maconha. Todo mundo já sabia que Alexandre estava construind­o sua candidatur­a para ser governador de São Paulo em 2018, não era segredo.

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Alexandre de Moraes com Lula e Flávio Dino
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