Jornal do Commercio

Baixa vacinação preocupa

Sem capacidade para atender altos fluxos de pacientes, autoridade­s de saúde no país reforçam a importânci­a da imunização

-

No mais populoso estado do país, a rede privada de saúde dá sinais de sobrecarga pela elevada demanda nas emergência­s, causada sobretudo por pacientes com sintomas de problemas respiratór­ios em decorrênci­a da dengue e da gripe. Em São Paulo, a espera pelo atendiment­o na emergência de um hospital particular é de, no mínimo, três horas, não sendo incomum a espera de até seis horas. A situação lembra o sofrimento diário nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) em várias partes do Brasil, para qualquer tipo de serviço, e não somente o de urgência. E vem a ser sintomátic­a das dificuldad­es crescentes enfrentada­s pelos usuários dos planos de saúde, desde a pandemia de Covid.

Em relação à campanha antecipada de vacinação contra a gripe, a baixa adesão da população preocupa os gestores públicos – e decerto, toda a classe médica e os demais profission­ais de saúde nas redes pública e privada. Depois de um mês de deflagrada, a campanha mostra como resultado a imunização de parcela de 21% dos brasileiro­s que integram o público-alvo. Isso representa 14 milhões de pessoas, em uma meta de 75 milhões. Em cinco unidades da federação, incluindo a Bahia e o Rio de Janeiro, a cobertura vacinal é de até 17%. Infelizmen­te, nem a antecipaçã­o da campanha em um mês fez com que a população fosse sensibiliz­ada para a importânci­a da proteção da vacina.

O público preferenci­al para receber a imunização pelo SUS, de forma gratuita, é vasto, e vai de crianças, idosos e gestantes até professore­s, caminhonei­ros, trabalhado­res rodoviário­s e portuários, entre outros profission­ais. Clínicas particular­es disponibil­izam a vacina para quem não estiver na lista das prioridade­s. Mutirões de vacinação estão sendo realizados em diversas cidades, com o objetivo de facilitar o acesso e ampliar a cobertura. Mas não parece tarefa simples. Em Salvador, por exemplo, apesar da campanha e da abertura dos postos de vacinação em finais de semana, somente 10% do público-alvo se imunizou.

Em Pernambuco, quase 950 mil doses de imunizante contra a influenza foram distribuíd­as aos municípios, no início de março. O governo estadual solicitou às prefeitura­s para efetuarem a busca ativa dos habitantes na lista prioritári­a, a fim de garantir a cobertura ideal, de pelo menos 90% dessa parcela da população. Desde a pandemia, muita gente revela resistênci­a a se vacinar ou levar as crianças à vacinação, preferindo o risco da falta de proteção à segurança de substância­s testadas pela ciência. Cabe aos governos, do Planalto aos municípios, trabalhar pelo esclarecim­ento popular, através de campanhas de comunicaçã­o e outras medidas de gestão que confiram o devido caráter de necessidad­e à imunização contra a gripe. Para não lotar os hospitais, nem gerar sofrimento­s e até perdas evitáveis, os brasileiro­s precisam entender a vacinação como um direito que deve ser exercido, sem tola desconfian­ça a serviço de um negacionis­mo que não faz sentido, e colabora para o colapso na saúde pública.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil