Cólera: riscos, gravidade e cuidados da doença com 1º caso local após 18 anos
Inectologista explica como a doença se manifesta e recorda período em que pandemia de cólera fez o Oswaldo Cruz virar unidade de referência em Pernambuco
Doença infecciosa intestinal aguda, causada por uma bactéria chamada Vibrio cholerae, a cólera volta à tona com o primeiro caso local de cólera em 18 anos confirmado no Brasil. O anúncio, feito pelo Ministério da Saúde no fim de semana, alerta para uma doença ligada diretamente ao saneamento básico e à higiene.
O caso detectado em um homem de 60 anos em Salvador (segundo o Ministério da Saúde, ele já está curado) nos faz lembrar o período em que a cólera se alastrou progressivamente pelo Nordeste.
ÚLTIMOS CASOS EM PERNAMBUCO
No Brasil, as últimas confirmações locais haviam sido registradas em Pernambuco, entre 2004 e 2005. Desde 2006, o País não registrava casos autóctones - situações em que os pacientes são infectados nos locais onde vivem, sem viajara outro lugar.
HUOC COMO REFERÊNCIA
“A pandemia de cólera em Pernambuco (nos anos 1990) fez o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc, no bairro de Santo Amaro, área central do Recife) se transformar numa unidade de referência para assistência aos pacientes internados. Houve uma demanda grande, eram muitos casos suspeitos, e confirmamos vários”, recorda o médico Vicente Vaz, um dos mais experientes e respeitados infectologistas do Estado, com quase 40 anos de profissão.
COMO SE MANIFESTA?
Ele conta que, naquela época( anos 1990), a manifestação clássica da cólera era diarreia aquosa e profusa, acompanhada frequentemente de episódios de vômitos. “Os pacientes, nessa situação, perdia litros e mais litros de água em questão de horas. Era uma desidratação muito rápida, impressionante. Dessa forma, era preciso fazer uma hidratação intravenosa”, destaca.
CASO EM SALVADOR É ISOLADO?
Sobre o caso em Salvador detectado recentemente, Vicente Vaz concorda com as autoridades sanitárias. “Certamente, deve ser um caso isolado. Isso não significa dizer que não temos cólera circulando pelo Brasil. Pesquisadores, vez por outra, encontram (a bactéria) em rios. Mas é pouco provável que hoje isso se transforme em um cenário epidemiológico que causa impacto grande na população”, explica o infectologista.
“Depois da pandemia de covid-19, o sistema de saúde ficou mais preparado para investigar e rastrear doenças. Com isso, a chance de dispersão (da cólera) é mínima.”
O CASO DE CÓLERA EM SALVADOR EM 2024
Em nota, a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde informa que o caso foi detectado em um homem de 60 anos de idade que apresentou um desconforto abdominal e diarreia aquosa, em março de 2024.
Duas semanas antes, ele havia feito uso de antibiótico para tratamento de outra patologia. Segundo exames laboratoriais, a bactéria causadora da doença foi Vibrio cholerae O1 Ogawa.
O Ministério da Saúde alega que se trata de um caso isolado, pois não foram identificados outros registros, após a investigação epidemiológica realizada pelas equipes de saúde locais junto às pessoas que tiveram contato com o paciente.
TRANSMISSÃO
O período de transmissão da doença é de um a dez dias após a infecção. Entretanto, para as investigações epidemiológicas, no Brasil, está padronizado o período de até 20 dias por margem de segurança.
Dessa forma, segundo a pasta, o paciente de Salvador não transmite mais o agente etiológico desde o dia 10 de abril.