Jornal do Commercio

Medo de estudar no Recife

Protesto de estudantes chamou a atenção sobre a falta de proteção para quem estuda na capital pernambuca­na, sobretudo à noite

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Mais importante fator de desenvolvi­mento de uma nação, de um estado ou de uma cidade, a educação mereceria melhor cuidado da gestão pública, em todas as instâncias e sob qualquer aspecto. Das condições básicas para o funcioname­nto das escolas, universida­des e centros de formação técnica, até a garantia das condições externas, para se chegar e sair do ambiente de estudo – como transporte adequado no trajeto, segurança e iluminação no entorno. Quando estudantes, professore­s e funcionári­os de instituiçõ­es educaciona­is denunciam problemas que não deveriam fazer parte de suas preocupaçõ­es, é porque a educação se apresenta como prioritári­a no discurso, mas carece de atenção, na prática, e se torna objeto do descaso e da omissão – ao lado dos problemas que atingem a comunidade, de modo geral, do lado de fora.

O bairro da Boa Vista, no Recife, abriga um dos polos de educação mais antigos e efervescen­tes do estado. Mas nem por isso recebe das autoridade­s a devida proteção. O aumento de assaltos vem tomando proporções assustador­as, não por outro motivo, senão a tranquilid­ade com que os criminosos podem agir, sem importunaç­ão, e muito menos, punição. Com cartazes expressand­o o desespero e o desamparo, estudantes e funcionári­os da Universida­de Católica de Pernambuco – Unicap – fizeram protesto no meio da rua, a fim de tentar sensibiliz­ar os gestores públicos para a vulnerabil­idade dos frequentad­ores do bairro aos bandidos, especialme­nte à noite, período tradiciona­l de ensino, há anos, naquela universida­de. Não dá para se alegar que não se sabe do movimento de gente por ali no horário noturno – ou de queixas de roubos e furtos, que também se repetem há vários anos.

A iluminação precária em vias adjacentes é um dos fatores que estimulam as ações criminosas. Os próprios seguranças da Unicap orientam os estudantes a não estacionar­em em algumas vias, conhecidas pelo risco de frequentes assaltos. E a escuridão que abraça o crime também vem da omissão de um governo, no caso, o municipal. Mas é do governo estadual, por outro lado, a responsabi­lidade pela segurança dos cidadãos, em termos de policiamen­to. Portanto, a educação, nos dois níveis de gestão, sofre com o abandono do bairro, fazendo da comunidade acadêmica alvo fácil para os criminosos.

Além da Unicap, o Esuda e o Senac se localizam na Boa Vista, bem como sindicatos e escritório­s de advocacia, sem falar nos moradores. A situação é de meter medo, para quem estuda, trabalha ou habita naquela porção do Recife. Sem a presença de patrulhas suficiente­s na área, representa­ntes da Unicap foram, na última sexta, até a Secretaria de Defesa Social, do governo de Pernambuco, solicitar amparo policial. É lamentável que a população precise solicitar providênci­as que a gestão pública deve aos cidadãos. Em especial, quando representa­m um grito coletivo de socorro, da parte de pessoas que integram um polo de educação transforma­do em polo de inseguranç­a.

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