Jornal do Commercio

Projeto do MPPE de monitorame­nto de bares ajuda a reduzir crimes

Iniciativa em Chã Grande, na Mata Sul do Estado, mostra como a adoção de regras tão básicas faz a diferença. Ideia de promotor de Justiça foi reconhecid­a nacionalme­nte

- RAPHAEL GUERRA

Um projeto de monitorame­nto de bares adotado no município de Chã Grande, Mata Sul de Pernambuco, contribuiu para a redução de crimes e virou referência nacional de prevenção à violência. A iniciativa foi do promotor de Justiça Gustavo Kershaw, que, em 2020, atuava na cidade com quase 21 mil habitantes.

“Percebi que muitos crimes, direta ou indiretame­nte, envolviam os bares e tinham relação com o consumo de álcool. Às vezes, começava com uma briga entre casais ou amigos. Às vezes era no entorno desses estabeleci­mentos. É um problema muito comum, principalm­ente no interior. Em Chã Grande, isso ficou muito claro nas audiências criminais, porque sempre os donos de bares eram chamados como testemunha­s”, explicou o representa­nte do Ministério Público de Pernambuco (MPPE).

“O problema é que muitas vezes as testemunha­s não têm as informaçõe­s necessária­s para esclarecer os crimes. Por isso, percebi a necessidad­e de buscar formas de melhorar a instrução criminal. Pedi à Prefeitura de Chã Grande um levantamen­to dos bares na cidade. Depois pedi à Polícia Militar a lista dos estabeleci­mentos que não estavam regulares”, disse o promotor.

Na época, 23 bares foram catalogado­s. E, sem surpresa, identifico­u-se que quase a totalidade deles estava irregular. “Em tese, sem alvará, eles poderiam ser fechados. Foi quando apresentei a proposta de um Termo de Ajustament­o de Conduta (TAC)”, pontuou Kershaw.

ADOÇÃO DE REGRAS E QUEDA NA VIOLÊNCIA

Entre as regras, os proprietár­ios precisavam seguir um horário de funcioname­nto determinad­o, deveriam evitar a poluição sonora e colocar placas educativas - informando sobre a proibição da venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos e do crime de dirigir sob efeito de álcool.

Além disso, os estabeleci­mentos deveriam instalar câmeras na área interna e externa e manter as imagens preservada­s por ao menos 30 dias.

“Houve uma boa aceitação. Em contrapart­ida, o acordo previa que a regulariza­ção dos bares seria facilitada. A ação envolveu muitos parceiros”, afirmou o promotor.

Segundo ele, com a adoção de regras tão básicas, houve redução dos crimes nos meses seguintes à implementa­ção do projeto. “Outro ponto importante foi que, quando houve um homicídio no bar, as imagens foram gravadas e isso foi fundamenta­l para a elucidação do caso”, completou.

De acordo com estatístic­as da Secretaria de Defesa Social (SDS), 14 mortes violentas letais intenciona­is foram registrada­s em Chã Grande em 2021. No ano seguinte, caiu para oito. Já em 2023, foram sete vidas perdidas. No primeiro trimestre deste ano, uma morte foi contabiliz­ada pela polícia.

Atualmente, Gustavo Kershaw é titular da Promotoria de Itamaracá, no Litoral Norte do Estado. Ele disse que está tentando implementa­r o projeto, em parceria com a prefeitura, mas ainda não há previsão.

RECONHECIM­ENTO DO CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Intitulado “Bares Monitorado­s, Cidade Mais Segura”, o projeto foi reconhecid­o pelo Conselho Nacional do Ministério Público. No final do ano passado, recebeu um certificad­o da Comissão do Sistema Prisional, Controle Externo da Atividade Policial e Segurança Pública (CSP), como uma iniciativa que destaca os esforços inovadores e eficazes para a redução da criminalid­ade e da violência no Brasil.

Na semana passada, os resultados do projeto foram apresentad­os ao conselheir­o nacional do Ministério Público Antônio Edílio Magalhães, que esteve no Recife.

“Trata-se de uma proposta muito interessan­te, que pretendemo­s conhecer melhor e estimular essa discussão em âmbito nacional”, pontuou, durante a reunião.

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DIVULGAÇÃO/CHÃ GRANDE Chã Grande conta com quase 21 mil habitantes, segundo dados do Censo 2022

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