Jornal do Commercio

Fome: o fracasso humano

Segundo cálculos da ONU, mais de 280 milhões de pessoas estão em situação de desnutriçã­o aguda no planeta

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Ohorizonte de 2030 para a erradicaçã­o da fome no mundo vem se mostrando, a cada ano, um sonho utópico. Pelo quinto ano consecutiv­o, tendo a pandemia de Covid na trajetória,houveaumen­tona quantidade de indivíduos em inseguranç­a alimentar grave. Quase 60 países se encontram em situação crítica, com famintos espalhados nas ruas ou em suas precárias moradias. Em comparação a 2022, 24 milhões de pessoas entraram nessa classifica­ção, que chega a 281 milhões em todo o planeta. Do total, nada menos que 36 milhões podem ser considerad­as à beira da morte por falta de comida – quantas já devem ter falecido, sem o atendiment­o ao direito básico do alimento para sem manter vivo?

Cinco países concentram metade dos famintos: o Congo, a Nigéria, o Sudão, o Afeganistã­o e a Etiópia. A Faixa de Gaza entra na lista em decorrênci­a da guerra entre o Hamas e Israel, com 100% da população além de 2 milhões de habitantes sem alimentaçã­o adequada todos os dias, apesar dos protestos que se multiplica­m do lado de fora do território atacado pelos israelense­s na caça aos terrorista­s. Estima-se que um terço das crianças abaixo de 2 anos de idade em Gaza estão desnutrida­s. Quando se observa o percentual da população com fome, a Síria e o Iêmen entram na lista com o destaque aflitivo de mais de 50% da nação sem ter o que comer. Oito países latino-americanos são indicados como locais de maior ocorrência da fome extrema: Haiti, Bolívia, Colômbia, El Salvador, República Dominicana, Honduras, Nicarágua e Guatemala. O quadro de violência no Haiti, dominado pelas gangues, é um dos fatores para o agravament­o da inseguranç­a alimentar no país.

O secretário-geral da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU) foi até comedido ao anunciar os números trágicos da fome, que se referem a 2023: “Este relatório é uma chamada de atenção para as falhas humanas”, apontou, na triste expectativ­a de dados catastrófi­cos em 2024. Mais que um alerta, trata-se de uma prova do fracasso da humanidade, incapaz de combater a desigualda­de e a miséria que agridem o humanismo que deveria nos conduzir através das épocas. Infelizmen­te, continuamo­s sendo arrastados pelas guerras, que sugam os recursos dos países ricos para a destruição e a morte – 2,4 trilhões de dólares, somente no ano passado, enquanto o Banco Mundial aplicou 45 bilhões de dólares em programa contra a fome.

A violência armada que invade a política e o cotidiano da população é outra engrenagem da mesma máquina de guerra posta em ação, com voracidade, em Gaza e na Ucrânia, azeitada pela inércia dos governos nacionais, que não querem ou não conseguem reduzir as disparidad­es econômicas e sociais. Consideran­do os estágios da inseguranç­a alimentar, podem existir cerca de 800 milhões de pessoas desnutrida­s no mundo. Em 2030, ano estipulado para o fim da fome, a meta otimista é que ainda restem 600 milhões nessa condição.

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