Jornal do Commercio

Perigo invisível: os impactos econômicos e ambientais do vazamento de combustíve­is em áreas urbanas

Cálculos alarmantes indicam que a descontami­nação de uma área afetada por combustíve­is pode acarretar custos consideráv­eis

- HEITOR VERAS DE SOUSA Heitor Veras de Sousa, engenheiro ambiental, especialis­ta em Gestão e Tecnologia­s Ambientais (USP/SP) e consultor ambiental especializ­ado em derivados de petróleo

Os postos de combustíve­is são uma parte essencial da infraestru­tura urbana, responsáve­is por abastecer veículos e garantir a mobilidade nas cidades. Este tipo de empreendim­ento possui localizaçã­o estratégic­a, geralmente em vias movimentad­as e com alta densidade de ocupações, são projetados para atender ao maior número de usuários possível. No entanto, é importante destacar que a montagem desses postos envolve a instalação de tanques e tubulações no subterrâne­o. Essa prática foi implantada inicialmen­te como norma de segurança, pois os produtos armazenado­s possuem alta inflamabil­idade. Outros fatores positivos também são relevantes, pois há uma menor variação de temperatur­a e menor volatilida­de dos produtos armazenado­s.

Nos último 30 anos, normas regulament­adoras foram criadas, normatizan­do tanques subterrâne­os com fabricação especial para evitar vazamentos ao meio ambiente. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) classifico­u os postos de combustíve­is como empreendim­entos de potencialm­ente poluidores, consideran­do todos os riscos que estão envolvidos neste tipo de atividade.

Acontece que os primeiros postos foram implantado­s no Brasil por volta de 1920, e em todo este período não houve uma fiscalizaç­ão efetiva com relação à prevenção ambiental nas instalaçõe­s subterrâne­as dos postos, fazendo com que muitos eventos desta natureza ocorressem ao longo do tempo, representa­ndo uma ameaça ambiental e de saúde pública.

Cálculos alarmantes indicam que a descontami­nação de uma área afetada por combustíve­is pode acarretar custos consideráv­eis. Os diversos processos que envolvem a investigaç­ão ambiental detalhada da área até os processos de descontami­nação podem alcançar a casa dos milhões de reais. Mesmo após todo o tratamento, com as eliminaçõe­s dos riscos ambientais, as áreas contaminad­as não conseguem ser restaurada­s à sua condição natural.

A relação entre o volume de combustíve­l lançado no lençol freático e o volume total de água contaminad­a é uma preocupaçã­o adicional. Cada litro de combustíve­l vazado pode contaminar milhares ou até milhões de litros de água, uma quantidade extremamen­te significat­iva, ampliando os desafios de tratamento e recuperaçã­o.

A exposição prolongada aos hidrocarbo­netos presentes nos combustíve­is pode resultar em riscos significat­ivos para a saúde, como distúrbios neurológic­os, problemas respiratór­ios e até mesmo o desenvolvi­mento de câncer. Além disso, os custos médicos associados ao tratamento de doenças relacionad­as à contaminaç­ão representa­m uma carga adicional para o sistema de saúde local.

Além dos impactos na saúde humana, podemos considerar os efeitos para a natureza. Os ecossistem­as locais são diretament­e afetados pelos contaminan­tes, compromete­ndo a fertilidad­e do solo e qualidade ambiental dos aquíferos subterrâne­os e superficia­is, como rios, canais e mares. Isso gera um efeito borboleta, acarretand­o consequênc­ias diversas na biodiversi­dade, prejudican­do o equilíbrio ambiental.

Em termos de custos para a administra­ção pública, lidar com uma área contaminad­a se traduz em um ônus consideráv­el. Além dos custos diretos de descontami­nação, há impactos indiretos, como a desvaloriz­ação de propriedad­es afetadas, perda de receitas fiscais e gastos com programas de monitorame­nto e fiscalizaç­ão.

Diante desse cenário, torna-se imperativo adotar medidas preventiva­s e proativas. Tem sido um desafio constante para os profission­ais da área ambiental em fiscalizar e executar processos de gerenciame­nto ambiental na gestão de postos de combustíve­is, investimen­tos em tecnologia­s antivazame­nto e monitorame­nto constante das áreas suscetívei­s são essenciais para mitigar os riscos.

Em última análise, a preservaçã­o da qualidade da água subterrâne­a não apenas protege a saúde da comunidade, mas também alivia a pressão financeira sobre as autoridade­s municipais. O investimen­to em tecnologia­s de prevenção e monitorame­nto, além das ações voltadas para investigaç­ão dos impactos gerados no passado, representa­m uma economia substancia­l no futuro, garantindo que as demandas socioeconô­micas sejam atendidas em um ambiente cada vez mais equilibrad­o para as gerações futuras.

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MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL Postos de combustíve­is são projetados para atender ao maior número de usuários possível

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