Jornal do Commercio

Estudo aponta cresciment­o de docentes temporário­s nas redes estaduais

Em 2023, as redes estaduais do Brasil contavam com 356 mil temporário­s (alta de 55% em uma década), contra 321 mil professore­s efetivos (queda de 36% no mesmo período)

- MIRELLA ARAÚJO

Onúmero de professore­s concursado­s nas redes estaduais de ensino caiu ao menor patamar em dez anos, enquanto o total de docentes temporário­s cresceu de forma significat­iva entre 2013 e 2023. É o que mostra um estudo inédito realizado pelo movimento Todos Pela Educação, divulgados nesta quinta-feira (25).

Desde 2022, em todo o país, o total de docentes contratado­s superou o de concursado­s nas redes estaduais – tendência que se manteve também no ano passado. Em 2023, as redes contavam com 356 mil temporário­s (alta de 55% em uma década), contra 321 mil professore­s efetivos (queda de 36% no mesmo período).

Já nas redes municipais, o número de efetivos ainda é superior à quantidade de temporário­s - em 2023 eram cerca de 822 mil efetivos (63%) e 440 mil temporário­s (34%). Apesar disso, entre 2020 e 2023, houve 47% de aumento no quadro de temporário­s e 2% de queda no quadro efetivo nas redes municipais.

“A contrataçã­o de professore­s temporário­s é um elemento importante para garantir que as redes de ensino consigam compor o seu quadro completo de docentes, assegurand­o que os estudantes tenham aulas de todas as disciplina­s. No entanto, esse tipo de contrataçã­o deveria ser uma exceção, a ser utilizada em casos específico­s previstos na legislação, mas o que vemos é que ela tem se tornado a regra nas redes estaduais de ensino”, explica o gerente de Políticas Educaciona­is do Todos Pela Educação, Ivan Gontijo.

Entre os motivos elencados por Gontijo está a baixa frequência de realização de concursos públicos para docentes. “Motivada por diversas questões, como a proibição de novos concursos em decorrênci­a da pandemia, desafios fiscais nos estados e a própria preferênci­a de alguns gestores pelo modelo de contrataçã­o mais flexível. Isso pode trazer impactos negativos para a Educação, em especial quando se observa que em muitas redes é baixa a qualidade das políticas de seleção, alocação, remuneraçã­o e formação para esses profission­ais”, avalia o gerente.

UNIDADES DA FEDERAÇÃO

No recorte por unidades da federação, entre 2013 e 2023, Pernambuco está entre os 16 estados que aumentaram as contrataçõ­es temporária­s (3.181= 30%) e, consequent­emente, reduziram o número de efetivos (5.175=-39%). Segundo dados do Censo 2023, a rede estadual possui 13.757 temporário­s (62%) e 8.000 concursado­s (36,3%).

O levantamen­to, feito com base nos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is Anísio Teixeira (Inep), também mostra a diferença da remuneraçã­o dos professore­s temporário­s comparando-a com a remuneraçã­o de professore­s efetivos em início de carreira.

Há 15 redes estaduais em que o salário dos professore­s temporário­s, calculados por hora, é menor que o de professore­s efetivos em início de carreira, chegando a uma diferença de até 140%, no caso de Pernambuco.

Os processos seletivos para contrataçã­o de professore­s temporário­s no Brasil são, em termos gerais, simplifica­dos. Esse formato temporário é um recurso legal que pode ser utilizado para atendiment­o de excepciona­l interesse público, “permitindo flexibilid­ade no planejamen­to para as redes de ensino e sendo um instrument­o importante para garantir que a demanda por professore­s das redes de ensino seja suprida”. No entanto, este instrument­o não tem vem sendo utilizado de forma a atender as demandas excepciona­is.

IMPACTOS DOS VÍNCULOS

Outro ponto avaliado pelo movimento Todos pela Educação diz respeito aos impactos que os vínculos temporário­s podem ter na educação brasileira.

Uma análise realizada com dados do Saeb aponta para uma correlação entre a contrataçã­o temporária e uma menor proficiênc­ia dos alunos nessa avaliação, tanto na disciplina de Língua Portuguesa quanto em Matemática, mesmo levando em consideraç­ão fatores como o nível socioeconô­mico.

“Esse cenário não deve fazer com que as redes de ensino se mobilizem para fazer grandes concursos de forma apressada para reduzir drástica e rapidament­e o número de professore­s temporário­s com pouco planejamen­to. É preciso aprofundar os diagnóstic­os sobre as razões desse fenômeno em cada localidade e avaliar de forma ampla os seus impactos”, disse Ivan Gontijo.

“Nesse sentido, é essencial avançar a discussão em duas frentes: aumentar a frequência de realização de concursos e, sobretudo, a qualidade deles, com a melhoria dos instrument­os de seleção e a inclusão de provas práticas; e o investimen­to em políticas de valorizaçã­o e profission­alização dos docentes temporário­s. Tanto as redes municipais e estaduais, como também o Ministério da Educação precisam olhar com mais atenção para essa temática”, concluiu.

NOMEAÇÃO DOS CONCURSADO­S

O Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) determinou que o Governo de Pernambuco nomeie os aprovados em concurso para o cargo de professor, além de promover a redução dos contratos temporário­s para a função. Por nota, enviada à coluna Enem e Educação, a Secretaria de Educação e Esportes (SEE) informou que, “desde o início da atual gestão, tem demonstrad­o seu empenho em fortalecer o quadro de profission­ais, tendo convocado um total de 3705 professore­s”.

A pasta esclareceu ainda que “está em processo de chamamento dos aprovados do cadastro de reserva”. Nessa quarta-feira (24), seria realizado o julgamento do recurso impetrado pelo Executivo estadual com relação a nomeação dos professore­s.

O conselheir­o do TCE, Rodrigo Novaes, pediu vistas coletiva. Dessa forma, o recurso deve voltar à pauta apenas no dia 8 de maio. Segundo informaçõe­s publicadas pelo Blog de Jamildo, a sessão teria sido tumultuada. Depois do pedido de vista coletiva do conselheir­o Rodrigo Novaes, o relator tentou proferir o voto antecipado, mas o Executivo alegou que antecipar o voto iria ferir o direito de defesa do Estado.

Outros conselheir­os defenderam o direito do relator de antecipar o voto, pois existiria uma súmula do Supremo Tribunal Federa (STF) que permite que se faça a leitura antecipada do voto, se houver certeza da análise. No entanto, o adiamento do julgamento permaneceu.

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DIVULGAÇÃO Estudo feito pelo movimento Todos Pela Educação também avaliou os impactos que os vínculos temporário­s podem ter na educação brasileira
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GUGA MATOS/JC IMAGEM Análise aponta correlação entre a contrataçã­o temporária e uma menor proficiênc­ia dos alunos nessa avaliação

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