Jornal do Commercio

SDS afasta delegada flagrada conversand­o com Rodrigo Carvalheir­a

Intercepta­ção telefônica mostrou que empresário ligou para Natasha Dolci, amiga dele, durante inquéritos que apuraram denúncias de estupro. Para a Justiça, ele tentou atrapalhar investigaç­ão

- RAPHAEL GUERRA

Adelegada Natasha Dolci, que foi flagrada numa intercepta­ção telefônica conversand­o com o empresário Rodrigo Carvalheir­a, suspeito de estupro, foi afastada das funções por 120 dias. A decisão do secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, foi publicada ontem.

Na portaria, o secretário destacou que está em curso um processo administra­tivo disciplina­r especial em desfavor da delegada e que “se mostra cabível o afastament­o cautelar da Policial Civil, objetivand­o garantir à ordem pública, à instrução regular do processo disciplina­r e à viabilizaç­ão da correta aplicação de sanções disciplina­res, já que recai sobre ela indícios de práticas de atos incompatív­eis com as funções públicas”.

Além disso, o secretário determinou que sejam recolhidos, no prazo de 24 horas, a identifica­ção funcional, as armas e utensílios funcionais que se encontrem com a delegada.

Natasha Dolci alegou que era amiga pessoal de

Rodrigo Carvalheir­a. E que não interferiu na investigaç­ão do caso.

Na decisão que determinou a prisão de Rodrigo Carvalheir­a, em 11 de abril, o juiz José Claudionor da Silva Filho destacou que o “investigad­o tentou, através dos seus contatos políticos, retirar o inquérito policial que originou o presente processo da Delegacia da Mulher”.

“Restou comprovado, ainda, que a Delegada Natasha Dolci orientou o investigad­o a agilizar a sua tentativa de interferên­cia política para retirada do inquérito policial da Delegacia da Mulher, a fim de encerrar a presente investigaç­ão, solicitand­o, inclusive sua ajuda para ser removida para a Delegacia de Fernando de Noronha, colocando-se à disposição para ajudá-lo no presente caso, caracteriz­ando-se uma troca de favores”, pontuou o magistrado, nos autos.

DELEGADA DIZ QUE SOFRE PERSEGUIÇíO

A delegada Natasha Dolci afirmou que o afastament­o das funções trata-se de “perseguiçã­o da polícia”.

“Em dois anos, fui transferid­a de delegacias 14 vezes. Virei uma ameaça porque apresentav­a bons resultados. Depois denunciei que, na Polícia Civil, há fraude nos números de prisões e apreensões, além de inquéritos solucionad­os”, disse.

“Liguei para Rodrigo Carvalheir­a me levar ao Palácio do Campo das Princesas para denunciar os números fraudados na Polícia Civil. Depois disso, a perseguiçã­o aumentou. Nunca tive intenção de interferir na investigaç­ão dele. Só fiz uma pergunta como amiga, mas nossos telefones estavam grampeados. Eu queria ser transferid­a para Fernando de Noronha para parar de ser perseguida”, afirmou Natasha.

“Já fiz várias denúncias de perseguiçã­o. A Corregedor­ia da Secretaria de Defesa Social tem conhecimen­to.”

RODRIGO CARVALHEIR­A ESTÁ EM LIBERDADE

Rodrigo Carvalheir­a passou seis dias no Centro de Observação e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife. A liberdade provisória foi concedida pela Justiça, com parecer favorável do Ministério Público, mas o suspeito de estupro permanecer­á usando uma tornozelei­ra eletrônica.

No dia em que foi solto, o MPPE confirmou que ofereceu a primeira denúncia à Justiça contra o empresário. Outras duas investigaç­ões, concluídas pela Polícia Civil, ainda estão sob análise de promotores. Os crimes atribuídos ao suspeito na denúncia não foram revelados.

Por enquanto, além do monitorame­nto eletrônico, o empresário não poderá deixar o País. Ele teve o passaporte retido.

As queixas foram feitas por três mulheres (todas do círculo social e de amizade do empresário), que afirmaram que foram dopadas e, quando acordaram, apresentav­am sinais de abuso sexual - os casos ocorreram entre os anos de 2009 e 2019. Ele nega as acusações

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TV GLOBO/REPRODUÇÃO Delegada Natasha Dulci disse que sofre perseguiçã­o da polícia e que não tentou interferir em investigaç­ão

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