Jornal do Commercio

Sem prioridade pública

Perda de um terço dos professore­s efetivos nas redes estaduais, em dez anos, contribuiu para estagnar a aprendizag­em e rebaixar a cidadania

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Apartir de dados do Censo Escolar e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o Todos Pela Educação identifico­u uma migração no modelo de funcioname­nto das redes estaduais de ensino público no Brasil. Em uma década, enquanto houve redução de 36% no número de professore­s efetivos, a contrataçã­o de professore­s temporário­s cresceu 55%, fazendo com que a maioria dos profission­ais nas salas de aula, desde 2022, seja formada por temporário­s – são 356 mil, de um total de 668 mil professore­s. O que era para ser exceção, para garantira transmissã­o do conhecimen­to devido aos estudantes no caso de ausência dos concursado­s, transformo­u-se em regra – sem vantagem no aprendizad­o, pelo contrário: o que se nota é uma queda no desempenho escolar, em consequênc­ia dessa mudança, segundo o Todos Pela Educação, através da precarizaç­ãodas condições de trabalho identifica­das, agregadas aos contratos temporário­s de docência: menores salários, mais turmas e mais escolas na carga horária, sem direito a plano de saúde ou gratificaç­ões.

Se a falta de vínculos efetivos não parecia problema para os gestores estaduais, o relatório demonstra que a mudança não foi uma boa ideia. A previsão do plano nacional, de que 10% dos professore­s poderiam ser temporário­s, não é atendida na maioria das unidades da federação, e em 15 estados os temporário­s constituem a maioria. Em Minas Gerais, o percentual chega a 80% dos professore­s em atuação na rede pública de ensino. De 2013 a 2023, período em que se deu a inversão na contrataçã­o, o ensino médio nas redes estaduais, por exemplo, continuou sendo de baixa qualidade, com aprendizag­em inadequada, largando jovens desprepara­dos para o trabalho e o exercício de seus plenos potenciais. Na comparação do ensino dado por professore­s efetivos e temporário­s, o desempenho dos alunos de temporário­s é pior.

A justificat­iva do aperto fiscal é cruel com a priorizaçã­o que se deveria ter com a educação. Se educar fosse prioridade, a atenção aos professore­s seria um dos focos dessa prioridade. Isso implica em relações duradouras, de compromiss­os com a missão educativa. A escolha pela contrataçã­o temporária minimiza a importânci­a da efetividad­e, numa relação descomprom­issada de parte a parte – pois se o Estado não se importa com os professore­s, por que os professore­s se importaria­m com o Estado? Daí a fragilizaç­ão do ensino, que resulta em redes ineficient­es ealunos que se tornam vítimas do descaso.

Menos concursos e menos aposentado­rias de professore­s e professora­s não configuram apenas redução de gastos para os governos estaduais. Também retiram do futuro a formação ideal para crianças e adolescent­es. O que se economiza na folha de servido resena Previdênci­a, perde-se mais na frente, com menos geração de empregos, menos negócios e menos igualdade social, poiso déficit educaciona lé um dos motores da desigualda­de.

Um déficit de cidadania que avilta a população e atrasa o desenvolvi­mento do país.

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