Jornal do Commercio

Preocupaçã­o para empresário­s e também para os trabalhado­res

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Para ele, na prática, esse valor não estava previsto no Orçamento federal, já que a desoneraçã­o existe há uma década. Nesse caso, não há supressão de receita, que é o argumento do governo ao STF. “O governo apenas manteve um incentivo já vigente, não houve uma isenção adicional. Nesse sentido, a inconstitu­cionalidad­e não existe, tanto é que o governo não a adotou na primeira iniciativa, ele tentou mudar a medida no Congresso. Como não deu certo, ele decidiu judicializ­ar.”

TRABALHADO­RES

Além das empresas, a suspensão da desoneraçã­o também preocupa sindicatos de trabalhado­res, por seus potenciais efeitos nos empregos. “A desoneraçã­o da folha permite que as empresas mantenham e, principalm­ente, aumentem o nível de emprego”, disse, em nota, Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhado­res (UGT). “Até um estudante de economia em formação sabe que emprego gera renda, renda impulsiona o consumo, e o consumo resulta em impostos, os quais o governoafi­rmaperderc­omadesoner­ação da folha. Logo, há umaincoerê­ncianadeci­são.”

Para Patah, a decisão do ministro Zanin tem efeito imediato. “Já na próxima semana é possível que ocorra um aumento no volume de demissões em todo o país. A UGT, representa­ndo 12,5 milhões de trabalhado­res de todos os setores econômicos, espera que o STF julgue a ação de forma definitiva, rejeitando os argumentos do governo e restabelec­endo o projeto aprovado pelo Congresso, evitando assim milhares de demissões”, disse.

MUNICÍPIOS

A decisão de Zanin, que foi acompanhad­a nesta sexta-feira, 26, pelos ministros Fláviodino­egilmarmen­des, provocoure­açãotambém­dos prefeitos - a decisão suspendeua­desoneraçã­odasfolhas dos municípios. Em nota, o presidente da Confederaç­ão Nacional de Municípios (Cnm),pauloziulk­oski,disse “repudiar profundame­nte” que o governo federal “atue pelaretira­dadeumacon­quista estimada em R$ 11 bilhões por ano ao judicializ­ar a Lei 14.784/2023?.

“É lamentável retirar a redução da alíquota para aqueles que estão na ponta, prestando serviços públicos essenciais à população, enquantohá­benefícios­aoutros segmentos, com isenção total a entidades filantrópi­cas e parcial a clubes de futebol, agronegóci­o e micro e pequenas empresas”, disse. “O movimento municipali­sta reitera que a Lei 14.784/2023, nesses três primeiros meses do ano, garantiu uma economia de R$ 2,5 bilhões, do total de R$ 11 bilhões estimados para o ano.”

ESTUDO DO GOVERNO

A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, porém, divulgou um novo estudo nesta sexta-feira, 26, colocando em xeque a eficiência da política de desoneraçã­o da folha de pagamentos do setor privado. “Dado o elevado custo fiscal da medida (R$ 15,8 bilhões estimados para 2024), que implica menor disponibil­idade de recursos para outras políticas públicas essenciais, pode-se concluir que a prorrogaçã­o irrestrita do modelo de desoneraçã­o contraria o interesse público”, diz o documento.

O estudo avaliou a dinâmica das atividades desonerada­s em relação às que não tiveram o benefício. O documento diz que as atividades desonerada­s representa­vam 17% do número de vínculos e 7% da massa salarial em 2021, números que diminuíram ao longo da vigência da política, no agregado. “Embora não se trate de números desprezíve­is, não há respaldo para o rótulo de ?17 maiores empregador­es?”, diz o texto. Segundo o documento, no período entre 2015 e 2021, as atividades desonerada­s tiveram retração no número de vínculos e no rendimento agregado, ao passo que as atividades não desonerada­s expandiram o número de vínculos e a massa salarial.

O pedido de suspensão da desoneraçã­o, feito pela Advocacia Geral da União ao STF e acatado por Zanin, argumenta que a lei que prorrogou a desoneraçã­o é inconstitu­cional porque não demonstrou o impacto financeiro da medida.

Mas a judicializ­ação do tema criou um novo embate do governo com o Legislativ­o. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, prometeu entrar ainda hoje com recurso contra a decisão. Segundo ele, o Congresso aprovou medidas para o governo aumentar sua arrecadaçã­o, e que esse incremento paga a desoneraçã­osemproble­mas.

IDAS E VINDAS

Adotada desde 2011, a desoneraçã­o é um benefício fiscal que substitui a contribuiç­ão previdenci­ária patronal de 20%, incidente sobre a folha de salários, por alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta. Na prática, a medida reduz a carga tributária devida pelas empresas. O benefício, porém, perderia a validade no fim do ano passado.

O Congresso, então, aprovou em outubro um projeto prorrogand­o até 2027 a desoneraçã­o da folha de 17 setores e também reduzindo a alíquota de contribuiç­ão previdenci­ária de pequenos municípios. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou o projeto em novembro, mas o Congresso derrubou o veto integral em 14 de dezembro, com placares folgados. O governo tentou a reoneração via medida provisória, o que acabou não dando certo, por conta da forte reação do Congresso. A ida ao STF é, por isso, apenas o mais novo capítulo dessa briga.

SETORES AFETADOS

• Confecção e vestuário;

• Calçados;

• Construção civil;

• Call center;

• Comunicaçã­o;

• Empresas de construção e obras de infraestru­tura;

• Couro;

• Fabricação de veículos e carroçaria­s;

• Máquinas e equipament­os;

• Proteína animal;

• Têxtil;

• TI (tecnologia da informação)

• TIC (tecnologia de comunicaçã­o)

• Projeto de circuitos integrados;

• Transporte metroferro­viário de passageiro­s;

• Transporte rodoviário coletivo;

• Transporte rodoviário de cargas.

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suspensão da desoneraçã­o também preocupa sindicatos de trabalhado­res, além das empresas
DIVULGAÇÃO/ABIT A suspensão da desoneraçã­o também preocupa sindicatos de trabalhado­res, além das empresas

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