Jornal do Commercio

A jornalista­s, Lula pede acordo entre Poderes, mas ação no STF acirra conflitos

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Reconhecid­o como um negociador competente como sindicalis­ta e, nos dois primeiros governos (2003/2010), especialme­nte em relação ao cumpriment­os de compromiss­os no Congresso, o presidente Lula está cristaliza­ndo no seu terceiro período de gestão à frente da Presidênci­a da República a imagem do mal perdedor que vira a mesas todas vezes em que não vence o jogo político.

A ideia de procurar proteção no STF (Ação Direta de Inconstitu­cionalidad­e (ADI 7633) e ainda mais com um processo relatado pelo seu exadvogado de defesa, o ministro Cristiano Zanin na ação que contesta a reoneração da folha de pagamento de diversos setores produtivos consolidou a ideia de que o Lula de 2023 e seus representa­ntes negociam mal, prometem, o que não entregam e quando não têm mais como aceitar a derrota recorrem “ao bispo”. Neste caso, ao STF.

BOM DIREITO

Não é uma questão de defender um bom direito. O problema é não ter capacidade de convencer os parlamenta­res. E mesmo quando fecham acordos eles não cumprem o prometido. O caso da desoneraçã­o da folha cristalizo­u a imagem que os representa­ntes de Lula ou não têm “fé de ofício” nas decisões que tomam no Congresso. Ou estão apenas procrastin­ando.

O problema da ida ao STF é que, dessa vez, é o próprio Presidente da República o autor da petição. Ele é quem representa a União depois de uma série de negociaçõe­s, promessas, edição da MP 1202/23 e da promessa de aprovação de um projeto de lei que, aliás, está tramitando na Câmara.

BRIGA NO CONGRESSO

Para quem não lembra, em dezembro de 2023, o Congresso Nacional prorrogou a desoneraçã­o da folha de pagamentos até 2027, com a promulgaçã­o da Lei 14.784/2023 e a derrubou o veto do Presidente da

República. Fernando Haddad respondeu com a MP 1202;23 e, a seguir, apresentou o PL 493/2024, que prevê a desoneraçã­o da folha. Entretanto, na semana passada Lula pessoalmen­te foi ao STF pedir uma liminar para suspender a decisão do Congresso.

Curiosamen­te, esta semana, o próprio Lula falou a jornalista­s e pediu que seus ministros frequentem mais o Congresso e que negociem mais. E lembrou que um partido de tem apenas 71 deputados na Câmara de 513 precisa negociar a saber quem vai perder.

ALERTA ÀS EMPRESAS

Na questão agora levada ao STF, entidades como a CNI em nota oficial afirmam que a reoneração da folha de pagamentos na forma prevista pelo PL 493/2024 (ainda me negociação) aumenta o custo com a contribuiç­ão patronal para a previdênci­a em 27%, na média dos setores industriai­s excluídos ou mantidos no incentivo e onerados gradativam­ente. E que isso ocorre quando a indústria sofre com competição desigual com as importaçõe­s, sobretudo por meio do comércio eletrônico internacio­nal.

CONFLITO COM STF

Então, quando o ministro Cristiano Zanin, do STF suspende pontos da lei que prorrogou a desoneraçã­o da folha de pagamento de municípios e de diversos setores produtivos até 2027 e avalia que a decisão do Congresso não observou o que dispõe a Constituiç­ão quanto ao impacto orçamentár­io e financeiro, as empresas se sentem ainda mais inseguras.

Zanin afirmou ainda que a manutenção da norma poderá gerar desajuste significat­ivo nas contas públicas e um esvaziamen­to do regime fiscal. Pode ser. Mas o que irritou os deputados e senadores é que o presidente foi ao STF quando seus representa­ntes negociavam nas duas casas.

De certa forma, Lula esgarçou ainda mais o conflito Legislativ­o x Judiciário pois em caso de vitória amplia-se o mal-estar do parlamento em relação ao STF quando muda decisões tomadas nas duas casas. E isso no dia seguinte (23) em que prometeu ajudar os dois poderes num entendimen­to.

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Presidente entrou com a ADI- 7633, contra a desoneraçã­o, no dia seguinte à conversa com jornalista­s
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Ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF)

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