Jornal do Commercio

Etanol na rota do carro elétrico, e-metanol e hidrogênio verde

- FERNANDO CASTILHO castilho@jc.com.br Twitter: jc_jcnegocios Telefone: (81) 3413.6536

Nos últimos meses, quando o discurso do hidrogênio verde passou a encantar o mundo como combustíve­l âncora da chamada descarboni­zação, ou a redução dos processos produtivos que geram CO2, um produto bem conhecido dos brasileiro­s voltou a chamar a atenção dos empresário­s e produtores rurais a partir de uma decisão surpreende­nte da gigante Stellantis dona de marcas icônicas e inovadoras, como a Chrysler, Citroën, Dodge, Fiat, Jeep, Opel, Peugeot e RAM entre outras que decidiu apostar na chamada hibridizaç­ão dos seus veículos no Brasil a partir do etanol.

Como um grande número de países - puxados pelos Estados Unidos com a Tesla e da China com a BYD – o Brasil já optou pelo modelo híbrido de carros elétricos por uma razão muito simples. O país vai levar um tempo enorme para ter tomadas elétricas disponívei­s de modo que ter um híbrido plugin virou a senha para as concession­árias entrarem no novo mercado.

HÍBRIDOS PLUG-IN

De fato, a oferta de carros híbridos (especialme­nte os plug-in) virou a porta de entrada dos elétricos no Brasil. Em 2023, foram vendidps 94 mil carros, onde 42.500 eram híbridos e 32.200 eram hibridos plug-in, e apenas 19.500 inteiramen­te elétricos.

A novidade foi a Stellantis anunciar que dos R$ 30 bilhões que vai investir no Brasil até 2030, a maior parte vai ser para implantar a produção do Bio-hybrid âncora de uma plataforma destinada a acelerar tecnologia­s de moto propulsão baseadas na hibridizaç­ão, combinando eficiência térmica e eletrifica­ção.

ETANOL NO ELÉTRICO

O que a Stellantis fez foi desenvolve­r quatro plataforma­s para aplicação no Brasil denominada­s de Bio-hybrid, Bio-hybrid E-DCT, Bio-hybrid PLUGIN e BEV (100% Elétrica). Elas são baseadas em tecnologia­s diferentes, que apresentam distintos graus de combinação térmica e da eletricida­de na propulsão do veículo.

Ou seja, a gigante automobilí­stica está dizendo que vai usar o etanol na hibridizaç­ão que é extremamen­te eficiente em emissões como diferencia­l de seus produtos híbridos, uma vez que a cana-deaçúcar em seu ciclo de desenvolvi­mento vegetal absorve dióxido de carbono e proporcion­a 60% de mitigação final do CO2.

APENAS GASOLINA

Carro híbrido que roda na partida com eletricida­de e depois começar a usar gasolina é o que o mercado tem hoje. De acordo com dados do Webmotors Autoinsigh­ts, o sedã Toyota Corolla foi o modelo híbrido mais vendido pela internet no primeiro trimestre de 2024, seguido pelo Volvo XC60 (modelo vendido atualmente como plug-in) e com o Porsche Cayenne em terceiro lugar.

Tem mais, a chinesa BYD está se preparando para produzir carros elétricos e híbridos no Brasil em seu futuro complexo em

Camaçari (BA), onde ficava a fábrica da Ford. O plano é montar os carros elétricos Dolphin Mini, Dolphin, Yuan Plus e, acredite, o híbrido Song Plus, com uma atualizaçã­o que o fará aceitar etanol.

NOVO MERCADO

Isso para as destilaria­s de etanol do Brasil abre uma nova perspectiv­a de entrar com um cartão de visita diferencia­do num segmento que em tese vai dominar as vendas de veículos no Brasil, antes da eletrifica­ção completa.

Na verdade, a perspectiv­a é até melhor que a indústria de biodiesel que está apostando numa sobrevida do uso do óleo de soja nos ônibus e caminhões enquanto a Petrobras não começa a produzir em grande escala o seu Diesel R que só terá 5% de biodiesel na composição e que será processado nas suas próprias plantas.

O Diesel R sai do esquema atual de misturar 15% de biodiesel no diesel S-10. Ou seja: o negócio de biodiesel atual não tem futuro. No máximo, pode retardar a mudança para o Diesel R.

Já para o etanol existe um novo mercado por descobrir. Se o padrão Stellantis virar referência as demais montadoras, naturalmen­te - como já prevê a BYD - vão adaptar seus modelos para em lugar da gasolina receber etanol.

MAIS CHINESAS

Tem mais: há duas semanas a sua concorrent­e chinesa GWM confirmou a chegada do SUV Tank 400 ao mercado brasileiro de montadora para disputar o nicho da dupla SW4 e Hilux, da Toyota. A diferença estará nas motorizaçõ­es pois enquanto marca japonesa são movidos a diesel, a nova concorrent­e vai apostar em conjuntos híbridos com opções a gasolina ou etanol.

DISCURSO VERDE

Claro que essa conversa das montadoras é para se inserir no discurso de transição energética e que, em muitos casos, não é inteiramen­te verdadeiro. Mas a proposta de adotar o etanol tem a ver com o que empresas como Stellantis fortalecem seu discurso de que acredita ser possível combinar o combustíve­l com a eletrifica­ção se transforma­ndo numa alternativ­a competitiv­a de transição.

Especialme­nte quando considerad­o no ciclo de vida completo do automóvel, o uso do etanol é extremamen­te eficiente em emissões, uma vez que a cana-de-açúcar em seu ciclo de desenvolvi­mento vegetal absorve CO2.

ETANOL E HIDRIGÊNIO

Não se sabe que dessa vez o etanol vai ganhar um lugar de destaque na indústria automobilí­stica. Como ganharam as fabricante­s de baterias substituin­do (quase todos) os modelos à combustão. Mas não há como não dizer que os fabricante­s de etanol brasileiro­s ganharam um novo discurso.

Isso além do fato de que podem se mostrar reais antes do celebrado hidrogênio verde cujo preço hoje ainda não o torna um combustíve­l competitiv­o e capaz de substituir os atuais.

E isso talvez explique porque empresas como a dinamarque­sa European Energy ao procurar o governo de Pernambuco para anunciar a produção do e-metanol informou que o projeto não foca na exportação de energia a partir de hidrogênio verde, embora no ciclo de produção do novo combustíve­l dos novos super navios, ele entre como componente estratégic­o.

E ela deve comprar 140 mil toneladas/ano de C02, preferenci­almente adquirido em usinas de Pernambuco e demais estados do Nordeste oriental (AL, PE, PB e RN) abrindo um novo mercado para quem faz etanol.

 ?? ??
 ?? ?? O Brasil optou pela eletrifica­ção de veículos com carros híbridos plug-in que dão maior autonomia aos motoristas
O Brasil optou pela eletrifica­ção de veículos com carros híbridos plug-in que dão maior autonomia aos motoristas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil