Jornal do Commercio

Dengue sem controle

Disparada de casos em várias partes do País e baixa adesão à vacina fazem com que o cenário de descontrol­e ameace a estrutura de atendiment­o

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No duelo entre a saúde pública e a doença, o mosquito continua vencendo, no Brasil. Em diversos estados, a situação é alarmante, sobrecarre­gando os sistemas público e privado de atendiment­o, elevando o risco de agravament­o em pacientes que poderiam não estar com a enfermidad­e, se as medidas de precaução tivessem sido efetivas. Já são mais de 4 milhões de casos prováveis, e quase 2 mil mortes em decorrênci­a da arbovirose causada pelo Aedes aegypti em todo o território nacional – e não há perspectiv­a de redução, se depender da estratégia que vem sendo utilizada até o momento, pelos governos em todos os níveis, para enfrentar o problema. Cerca de 70% dos infectados na América Latina e no Caribe são brasileiro­s, segundo a Organizaçã­o Pan-americana da Saúde (OPAS).

Mais da metade dos casos prováveis no país foram notificado­s em Minas Gerais e São Paulo, mas a preocupaçã­o se alastra, inclusive para a população do Nordeste, onde a estação chuvosa que se inicia pode representa­r o aumento da incidência de arbovirose­s. Somente na capital paulista, todos os bairros se encontram atualmente com epidemia de dengue, com mais de 300 casos para cada 100 mil habitantes. Em uma semana, o número de infecções cresceu 21%, deixando a rede de urgência em alerta. As autoridade­s sanitárias buscam alternativ­as viáveis para tentar impedir o cresciment­o ainda maior do descontrol­e observado, sobretudo, em áreas densamente povoadas, pressionan­do a estrutura disponível de serviços de saúde, que podem entrar mais uma vez em colapso, ainda que não na mesma proporção, como no período da pandemia de Covid.

Uma das promessas de contenção da epidemia, embora o Ministério da Saúde não alardeasse como solução, a vacina ofertada não foi aceita pela população. Para se ter uma ideia, em Pernambuco, em quase um mês, apenas 5% das doses foram aplicadas nos vinte municípios contemplad­os com a substância imunizante. Mesmo em se consideran­do a vacina com uma função coadjuvant­e, sua comprovada eficácia mereceria um esforço maior da gestão pública para seu aproveitam­ento no público-alvo selecionad­o para utilização das poucas doses disponívei­s, em relação à demanda de uma nação continenta­l. Infelizmen­te, as aplicações estão abaixo do esperado. Por isso, a faixa etária que pode ser vacinada foi ampliada, de 10 a 11 anos, para de 10 a 14 anos de idade, para que a proteção possível contra os quatro tipos de dengue sensibiliz­e os pais e responsáve­is dessa fatia da população, considerad­a mais vulnerável ao agravament­o dos quadros.

Para especialis­tas da OPAS, as mudanças climáticas explicam a alta incidência da dengue no mundo, até em países do hemisfério norte em que não se registrava­m surtos. As ondas de calor estão entre os fatores apontados para a proliferaç­ão dos mosquitos vetores. Trata-se de mais uma consequênc­ia da alteração climática para a qual os gestores públicos e a sociedade precisam se adaptar, com prevenções mais rigorosas e políticas de longa duração, a fim de garantir o mínimo de controle nas epidemias.

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