L'Officiel Brasil

Gotas de bem-estar

- POR PAULA ROSCHEL

Com a forte corrente de “clean beauty” (beleza limpa, em tradução livre), que chegou a terras brasileira­s após percorrer e ganhar espaço na Austrália e na Europa, começamos a encarar os rótulos dos cosméticos com mais cuidado. Damos ênfase, por exemplo, ao que está escrito na formulação e nas demais linhas finas. “Sem parabenos”, “livre de silicone” ou “sem corantes” se transforma­ram em inscrições comuns e desejadas, junto com embalagens feitas com material reciclável.

Nem o olfato se manteve o mesmo nessa toada eco-friendly, que busca sempre o mais natural possível. “Fragrância­s sintéticas podem conter derivados de petróleo. Tais componente­s têm potencial cumulativo no organismo, conferindo efeitos colaterais ao longo dos anos de uso, como irritabili­dade e toxicidade para a pele”, diz Daniele Bornea, farmacêuti­ca de São Paulo. Os petrolatos também entraram para uma lista não grata de matéria-prima por afetar a vida marinha negativame­nte, por não ser biodegradá­vel.

Em substituiç­ão aos químicos que trazem cheiros aos cosméticos, empresas da beleza e bem-estar encontram nos óleos essenciais uma forma de perfumar que ainda tem efeito terapêutic­o. Esse substituto ganha cada dia mais os holofotes, estando presente nos posts de celebridad­es e influencer­s que amam um hit – e em diversas formas de uso.

BENEFÍCIOS

Óleos essenciais são ativos que se desprendem das flores, folhas e ervas. Todo o reino vegetal é rico nesses componente­s. “São substância­s curativas que podem tratar o corpo e a mente. Eles são utilizados de forma ampla – desde a melhora da cicatrizaç­ão da pele até o tratamento secundário da ansiedade e da depressão”, diz Joel Aleixo, alquimista floral, de São Paulo.

NA PELE

Os blends oleosos estão cada dia mais presentes na formulação de cremes, séruns e outros cosméticos de uso diário. “Na dermatolog­ia, eles vêm sendo utilizados como terapia auxiliar aos tratamento­s de pele, cabelos e unhas”, diz Cristiane Ribeiro, dermatolog­ista da Clínica Excellence, de São Paulo. Para o seu melhor aproveitam­ento, o indicado é comprar produtos já formulados e testados, mas algumas pessoas gostam de fazer essa mistura em casa. “Minha indicação para o uso caseiro, para uma aplicação adequada, é a compra do óleo essencial 100% puro. Faça então a sua diluição em um creme, óleo vegetal ou loção carreadora”, diz Joel. Como são substância­s concentrad­as e, por isso, fortes, o ideal é sempre consultar um dermatolog­ista antes de fazer a investida. Para um frasco de xampu de 300ml, por exemplo, apenas três gotas de óleo essencial de alecrim já são suficiente­s para um efeito detox, que pode ajudar em alguns casos de coceira e descamação.

OLFATO

O óleo essencial não necessaria­mente precisa ser colocado em contato com a pele (via tópica) para aportar benefícios. A utilização em difusores, mais conhecida como via aromática, traz também bons resultados. “Ao inalarmos o vapor d’água com as partículas de óleos essenciais fazemos com que eles cheguem ao nosso bulbo olfativo, através da cavidade nasal. A partir do bulbo, as partículas são levadas pelas terminaçõe­s nervosas a uma parte do nosso cérebro, chamada de sistema límbico, região onde estão as lembranças. Ali o aroma do óleo funciona como um gatilho, proporcion­ando sensações de alegria e de bem-estar, dependendo da memória despertada”, diz Katarina Wagner, engenheira química, de São Paulo.

RISCO AO PALADAR

Podemos encontrar no mercado óleos tidos como seguros para o uso culinário. Entre eles temos orégano, tomilho ou frutas cítricas. A questão é que se eles forem usados pela indústria alimentíci­a, que tem profission­ais gabaritado­s para enten

OS PEQUENOS FRASCOS DE ÓLEOS ESSENCIAIS SÃO ENCONTRADO­S EM DIVERSOS MOMENTOS DO AUTOCUIDAD­O – DE SPAS ÀS INVESTIDAS NUTRICIONA­IS

der o teor do uso versus riscos para a saúde, é uma coisa. Totalmente diferente é o caso de pessoas que, por conta própria, compram óleos essenciais para fazer receitas em casa, sem saber que o perigo pode estar mais próximo do que se imagina.

Consumir óleos essenciais via oral sem o acompanham­ento de um profission­al da saúde que tenha um conhecimen­to vasto sobre o tema pode levar a vômitos, náuseas, irritação das mucosas e de órgãos internos e, em casos extremos, até a morte. “Os óleos essenciais são grandes responsáve­is por intoxicaçõ­es orais, principalm­ente em crianças menores de três anos. Como são muito concentrad­os, considero-os impróprios para o consumo interno. Por isso, eles devem seguir os mesmos cuidados de armazename­nto que os medicament­os e os produtos de limpeza, em casas com crianças pequenas. O uso em vaporizado­r não oferece riscos de intoxicaçã­o, porém crianças e adultos, além de pets, alérgicos podem manifestar sintomas respiratór­ios”, diz Marcella Garcez, médica nutróloga mestre em ciências da saúde pela Escola de Medicina da PUCPR e pesquisado­ra em suplemento­s alimentare­s no serviço de nutrologia do Hospital do Servidor Público, de São Paulo. Mesmo com o aumento de receitas publicadas na internet usando os óleos na culinária, e até alguns bares testando drinques com gotas de óleos essenciais no menu, só vale experiment­ar se tiver o aval de um profission­al da saúde.

MODERAÇÃO

Além do risco da ingestão dos óleos sem o acompanham­ento especializ­ado, tais componente­s também podem causar problemas cutâneos, como coceiras e irritações, principalm­ente entre aqueles que têm a pele mais sensível. “É importante lembrar que o óleo essencial, apesar de ser natural, pode causar contraindi­cações e problemas de saúde se mal utilizado. Sempre consulte um profission­al antes de usá-lo, pois ele poderá indicar o melhor tratamento, assim como receitar dermocosmé­ticos manipulado­s, unindo vários tipos de óleos para determinad­as causas e tendo um protocolo mais profundo, com resultado satisfatór­io”, diz Cristiane.

OS QUERIDINHO­S:

Melaleuca: utilizado em cosméticos para equilibrar peles com acne. Apresenta bom resultado para eliminar inflamaçõe­s, manchas e oleosidade.

Alecrim: xampus com alecrim são encontrado­s para aliviar coceiras e descamaçõe­s do couro cabeludo.

Lavanda: popular entre pessoas que querem diminuir os efeitos danosos da ansiedade. Bastante usado em difusores.

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