Reconvexo
A batida do tambor na música ioruba é forte, porém cadenciada. Segue o compasso do coração. Descrever o ritmo originário da África Ocidental ganha força visual no trabalho da paulista Sheyla Ayo, que conecta a ordem do traço à subjetividade da forma. Ela se percebeu artista ainda criança, na cidade de Guarulhos – onde nasceu, em 1977 –, quando o pai levava para casa sobras de materiais dos seus afazeres. “Depois de perder o emprego, ele se virou na área da manutenção. Era comum chegar carregado de sacolas com papéis, tintas, plástico e pedaços de madeira. Acho que foi assim que comecei a me aventurar nas intervenções”, diz.
Leitora apaixonada e desenhista autodidata, Sheyla passou a adolescência frequentando saraus, oficinas e idas ao teatro e ao circo. As celebrações populares foram determinantes para a construção da identidade do seu portfólio. Somado a isso está a herança cultural, com vínculo ancorado especialmente nas trajetórias das mulheres da família. “Falar sobre a minha história na arte é falar sobre espiritualidade, infância e ancestralidade.”
ENTRE OS LAÇOS PERIFÉRICOS E AS RAÍZES AFRICANISTAS, A “ARTIVISTA” SHEYLA AYO ENCANTA O TRADICIONAL MECENATO SUL-AMERICANO E CONQUISTA ESPAÇO EM IMPORTANTES MOSTRAS
Sem perder a esperança, ela acredita que o mercado de arte no Brasil está, finalmente, percebendo o talento dos jovens pretos, a exemplo de Dalton (@dalton_paula), Rosana Paulino (@paulino9076), Castiel Vitorino (@castielvitorino) e do grupo Trovoa (@trovoa_). “Mas ainda falta um enorme caminho a ser percorrido, entretanto, já é gratificante ver o reconhecimento de alguns espaços importantes, como a Sp-arte, que acolheu alguns talentos em sua próxima edição. Também não posso deixar de pontuar o nome de Keyna Eleison, recém-empossada curadora do MAM-RJ, que está disposta a levar gente nova para os circuitos culturais mais concorridos.”
Dona de projetos ambiciosos, Sheyla, que elegeu o sobrenome “Ayo” – que na língua ioruba significa “abundância” –, aposta no desdobramento de suas exposições para além-mar. “Vejo a minha obra dialogando com outras instituições. Ainda quero participar de grandes mostras, e quem sabe até representar o País em uma Bienal! Por sinal, está entre os meus sonhos viajar à Europa e aterrissar na África para conhecer a verdadeira biografia dos meus antepassados e entender de onde eu realmente vim.” @sheylaayo_