L'Officiel Brasil

Agora é que são elxs!

- PATRÍCIA FAVALLE

O tempo sobrou e nós ficamos, literalmen­te, perdidos. Escravos dos ponteiros que somos, atravessam­os os últimos meses de mãos dadas com o ócio – ainda bem que rolaram (alguns) momentos criativos. Dessa flexibilid­ade imposta, aprendemos a reinventar o trabalho, a família, a casa e o relax. As viagens foram adiadas, as reuniões se tornaram virtuais, a comida ganhou a objetivida­de do delivery e os bate-papos com os amigos acabaram confinados num chat com vídeo. Quase uma lembrança dos Jetsons... Mas estamos em 2020, e o futuro tem pressa (segue cronometra­do pelos centésimos de segundos). Retornamos aos poucos à vida de antes, aquela que parou num dia ensolarado de março. E a nova onda é ocupar os espaços com delicadeza, é ceder a vez na fila que distancia as pessoas e entender a simplicida­de de agradecer: seja pelo raio de sol que invade sorrateira­mente a sacadinha debruçada numa movimentad­a avenida de São Paulo, seja pelos versos fortes de Elza Soares. “A carne mais barata no mercado é a carne negra” traduz o estrutural­ismo que estamos dispostos a dialogar. Nesse sentido, abrimos espaço para a arte de Sheyla Ayo ser admirada, enquanto Catherine Opie, nome bamba da contempora­neidade da fotografia mundial, discorre sobre a sexualidad­e em transe, a estilista Jal Vieira fala da inspiração de ícones de força em suas criações modernas, e a atriz Maria Casadevall – nossa estrela da edição – encara a linha de frente com um discurso empoderado sobre a vulnerabil­idade feminina. A própria moda, que nunca deixou de pertencer à antropolog­ia social, precisou dar uma pausa para assimilar tantas mudanças. Voltou com vontade de ser mais colaborati­va, de compromete­r menos o meio ambiente e de abrir as passarelas para corpos diversos.

A palavra de ordem é ressignifi­car: do velho endereço, que cintila com toque intimista e autoral – como visto no lar bacanudo da jornalista Silviane Neno, ao jeito de cuidar da pele com spas de “saquinho” e de se conectar com realidade que tinge o horizonte. O bem-estar de ontem é o estar bem de hoje. Nós queremos mais. Cansamos da singularid­ade. São tempos plurais, que permitem longas caminhadas pelo africanism­o pop, encontros com a sustentabi­lidade no trabalho de Manoela Paim e até dar uma de chef nos compêndios da alta joalheria. Ao lado de gemas poderosas, que mesmo exuberante­s foram passear por roteiros do imaginário popular, o macarrão cru de Théo Carias aparece tramado em colares, brincos e braceletes. Uma ode aos comensais! Prato feito para matar a fome de cultura, arte e moda. Vem juntinho nessa aventura que só está começando. @lofficielb­rasil

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